🍒 08. CEREJINHA 🍒

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Suspiro e balanço a cabeça para que eu possa me concentrar em minha atividade.

— Espero que já tenha lido umas 10 páginas no mínimo, Golfinho.

— Hm!

Franzi o cenho, ele parecia disperso demais, algo que geralmente não acontece com ele. Jotaro geralmente tem sua mente sempre focada, mesmo quando é algo que ele não gosta de fazer. Ele sempre funciona dessa forma: ou ele se concentra de cabeça ou apenas vai procrastinar sem pensar duas vezes. Agora ver um Jotaro totalmente no mundinho da lua é algo realmente — e assustadoramente — preocupante.

E lindo! O dedo enrolando o cacho e puxando em seguida, acaba se tornando meu poço secreto de distração por milésimos de segundo. E me pego suspirando ao tentar esconder uma frustração nas mãos, cobrindo meu rosto.

— Está tudo bem, Cerejinha?

— Sim! Sim, eu apenas estou com um pouco de dor de cabeça. Talvez eu esteja tempo demais olhando para a tela do notebook — tento sair pela tangente do real motivo sem que fique tão na cara, até porque toda a situação realmente estava mesmo começando a me dar uma leve dor de cabeça — Eu vou tentar respirar um pouco e buscar algo para beber. Vai querer alguma coisa, Golfinho?

— Não, sem problemas.

— Certo! — estiquei os braços e massageei os dedos antes de passar por ele em direção à saída.

É sexta-feira novamente e estamos de volta na biblioteca para estudarmos os livros, ou pelo menos é o que Golfinho tem que fazer, já que estou escrevendo a minha parte.

Durante a semana, Golfinho foi às aulas normalmente e evitou falar com as pessoas sobre o seu sumiço na segunda. Apesar dele odiar vir à escola, eu sei que Jotaro apenas vem por minha causa e também do time de futebol.

Tudo ocorreu normalmente, fora algumas atividades que ele teve de fazer e se entender com o time de futebol. Fiquei sabendo que nem fora grande coisa, já que eles tinham sido notificados sobre Jotaro ter faltado por não estar bem, no máximo teve que ler uma planilha sobre algumas coisas de... bem, futebol.

O restante dos dias seguimos conversando como se nada daquilo tivesse acontecido, e eu realmente pensava assim se não fosse pela minha intuição e alguns de seus tiques nervosos denunciando-o. Jotaro tem um cachinho bem rebelde que fica pendendo na testa, não importa o quanto ele o arrume para trás, sempre volta para sua testa. Quando fica nervoso ou desconcertado por algum motivo, ele distraidamente fica passando o dedo pelo cachinho, enrolando-a. E é justamente isso que ele vem fazendo em torno de todos esses dias em que temos conversado na escola, mas esse tique se torna cada vez mais presente principalmente quando eu estou perto dele.

Golfinho pode nunca ter notado esse tique do seu próprio cachinho, mas noto isso e eu ainda não tinha o abordado sobre desde que começou. Isso apenas me dá mais indícios de que ainda há algo pendente e que não foi resolvido por ele quando conversamos na segunda. E como ele não me contou e nem deu indícios de que o faria, a não ser apenas esconder qualquer fato de mim, eu fico com essa pulga atrás da orelha: se eu deveria realmente abordar com calma sobre isso ou esperar mais um pouco — isso se ele quiser que eu saiba.

Pisquei novamente, ando tão preocupado com ele que até mesmo eu ando me distraindo por mais tempo do que deveria. Ando devagar até a máquina de bebidas, talvez eu devesse levar um chocolate quente para ele, mesmo que não queira. Eu sei que ele não recusaria.

Comprei um cappuccino para mim e um chocolate quente e logo voltei para a área de estudos da biblioteca. Tento não olhar para a placa de aviso "Não beber ou comer dentro da biblioteca", pois passei a não ligar muito para isso desde que eu e Jotaro temos esse passe livre.

Basicamente Jotaro quem conseguiu convencer a bibliotecária, eu fiquei sabendo por cima sobre os fatos, mas aparentemente o Golfinho deve ter seduzido a moça ou a forçado a nos deixar trazer algumas coisas para comer. Ele disse que ela somente cedeu após contar que eu não deixaria nada acontecer. Desde então, quando vamos à biblioteca para estudar, ela sempre nos deixa passar despercebido com nossos cafés, mas apenas para a área mais escondida da sala de estudos, para não dar problemas a ela e nem para nós.

Lieblingsmensch | (Jotakak)Onde histórias criam vida. Descubra agora