🍒 12. CEREJINHA 🍒

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O sinal do intervalo bateu há cerca de 10 minutos e o Golfinho ainda não está aqui no telhado. Ele sempre é o primeiro a chegar e sempre me manda mensagem avisando se aconteceu algo para que ele acabe se atrasando.

Jotaro está estranho demais e eu não sei mais o que fazer, o que pensar ou como reagir. Isso é assustador!

Tudo bem que nós conversamos na segunda passada e durante toda aquela semana estava tudo bem, mas como eu pensei e observei antes, o tique nervoso dele é enrolar seu cachinho quando está desnorteado com algo o suficiente para o incomodar. Seja lá o que for, ainda está sendo uma pedra em seu sapato e eu estou apenas acumulando preocupações sobre isso, eu quero muito ajudar, mas ele parece que não vai falar comigo abertamente.

Sem contar que às vezes o vejo distraído demais quando pega o celular e sempre que eu pergunto, ele desconversa e muda de assunto. Não é o seu comportamento normal.

Ele está claramente nervoso, o suficiente para se sabotar sutilmente para que eu perceba. Jotaro tem um padrão de comportamento, mas isso está seguindo fora de seus limites e costumes. E eu fico sem saber o que fazer, apenas ficando agoniado no decorrer dos dias, de mãos atadas.

Será mesmo que ele finalmente deva estar saindo com uma garota, mas ainda não me contou? Tudo bem que se realmente estiver acontecendo, é normal ele não querer contar, é algo íntimo demais. Mas ao mesmo tempo eu fico pensativo, porque se eu me basear no comportamento dele, Jotaro realmente diria a mim sobre a garota. Até porque já tivemos muitas e muitas conversas sobre isso, principalmente dele reclamando de Pierre querendo o empurrar para as garotas de sua classe — e o quanto ele xingava por achar isso irritante por parte do colega —.

Sempre fomos muito unidos e abertos a qualquer questão. Óbvio que há coisas pessoais demais que devem ser carregadas apenas para nós mesmos — eu aí com a minha história, nunca sequer disse a ele sobre isso e espero que nunca aconteça —, mas a partir do momento que algo começa a sair do controle, nós sempre iremos contar um ao outro.

E isso deveria ser conversado, dentro de nosso próprio acordo, mas parece que ele não o quer fazer. É justamente aí que eu me preocupo.

Foi algo que tínhamos sentado e debatido ainda naquele dia da primeira briga dele, pelos insultos que eu estava recebendo dos colegas. Jotaro me deixou claro que qualquer pessoa que viesse me atacar, ou falar mal de mim, a ponto de me deixar triste, era para dizer a ele que faria questão de tomar as suas próprias providências.

 Eu não vou aceitar que você se machuque por causa desses idiotas, assim como não vou aceitar você se machucar por carregar todas essas merdas negativas apenas para si. Eu estou aqui para você, o que quiser me contar eu irei escutar pacientemente e qualquer coisa vamos tentar resolver juntos. Não quero te ver sofrendo como sofreu por todo esse tempo. Você promete?

 Sim, eu sempre irei contar.

Suspirei. Eu já não sabia o que pensar, apenas sentimentos e mais sentimentos se revirando em minha mente, juntando-se a minha outra bola de sentimentos que há tanto tempo venho tentando domar. Elas se aproximam perigosamente e eu respiro devagar tentando me acalmar, sinto que se eu sair daqui agora toda essa gama de coisas vai explodir em mim no meio daquele formigueiro de alunos lá embaixo, o que seria muito pior.

Agarrei minha camisa com força, em uma tentativa frustrada de tentar segurar uma dor no coração, tentando segurar esse bolo invisível que tenta obstruir minha garganta. Meus olhos ardem em antecipação, deixando minha vista gradativamente mais turva.

E eu sei que não vou aguentar. Eu me conheço.

Infelizmente está sendo um daqueles momentos em que eu não consigo controlar os meus sentimentos e eles transbordam. E não há Jotaro que me faça melhorar, até porque é outro lado meu que ele ainda não viu, que eu não permiti ele saber.

Lieblingsmensch | (Jotakak)Onde histórias criam vida. Descubra agora