🐬 19. GOLFINHO 🐬

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Desviei meu olhar para a arquibancada, mas Noriaki não estava lá.

Nos vimos pela manhã, e desde o almoço que não o vejo. Sei que ele está na biblioteca, finalizando mais alguma parte do seu trabalho, mas eu só quero o ter perto de mim no momento. Inclusive, no intervalo do almoço, escrevi mais uma parte da resenha, mas não sei se o que faço é permitido. Preciso antes falar com o professor Bucciarati.

Estou em mais um dos meus infinitos treinos, me sentindo cansado e querendo apenas ir para casa. Não aguentei o esforço do treino de hoje, o professor Speedwagon colocou pressão em nós, ele quer que o jogo de sábado seja somente vitória e comemoração. Meu rosto arde e se desmancha em suor, as pernas fraquejam mesmo que eu esteja deitado sobre a grama fresca.

Estamos aglomerados em um espaço no campo, a maioria dos jogadores estão jogados sobre a grama com uma forte exaustão, e esse é meu caso. Olho para o céu azul com algumas nuvens do tipo cúmulos espalhadas por ele e agradeço por uma delas cobrir o sol por um instante e formar uma deliciosa sombra.

— O jogo de sábado pode trazer a vitória inédita para o Stardust Crusaders, se concentrem até lá e mantenham a cabeça longe de distrações. — Orientou o treinador, envolvendo um colete ao redor do pescoço.

— Transar vai me distrair, professor? — a mão de Pierre se ergue e logo todos no círculo caem em risadas discretas, inclusive eu.

O silêncio e a seriedade do treinador Speedwagon deixam Pierre envergonhado. Só que vergonha é uma palavra que não existe no dicionário daquele cafajeste:

— Tá professor, pode ao menos uma punhetinha?

Cubro o rosto com um colete por causa do sol de fim de tarde doendo em meus olhos. Aproveito que meus lábios estão escondidos e dou uma risada abafada.

— Sexo tá liberado. Mas não vão transar e passar da hora no sábado, pense que uma medalha de ouro é mais importante que uma garota, ou um garoto também, vocês quem decidem.

Sentado ao meu lado, Avdol murmura:

— Nunca que vai ser.

Os jogadores ao nosso redor riem do comentário de Avdol, que teve sorte de o professor não o ouvir.

— E por hoje é só. — o técnico finaliza o treino com uma sequência de aplausos.

Arranco o colete da minha cara e deito a cabeça de lado. A arquibancada inclinada em meu campo de visão continua vazia. Cadê Noriaki? E por que anseio tanto para vê-lo se ficamos juntos o fim de semana inteiro? Ele disse que após terminar o trabalho ia assistir meu treino como sempre, mas ele não apareceu. Pensar nele faz meu rosto já corado se aquecer ainda mais, assim como a região do meu estômago.

É ansiedade.

Desperto dos meus breves pensamentos sobre Noriaki com um grito de Pierre, que aproveitou a ausência do treinador para sugerir:

— E aí galera, se a gente ganhar no sábado, quem topa virar a noite bebendo?

Continuo com o rosto deitado; ver algumas formiguinhas passearem pela grama é mais interessante que esse tipo de assunto para mim. E por mais que tente fugir usando artimanhas sutis, Pierre nunca me deixa de fora:

— E você, capitão? Como vai com a namorada?

— Terminamos. — eu não acredito que ainda tenho a cara de pau de mentir. E fico ainda mais surpreso quando ele me responde:

— Faz sentido. Por isso você estava tão estressado esses dias e chorando no vestiário.

Quem contou a ele sobre meu choro? Cerejinha que não foi. Deve ter sido algum desgraçado que entrou na área dos armários sem eu ver. Por favor, Noriaki, não faça mais capítulos pesados assim.

Lieblingsmensch | (Jotakak)Onde histórias criam vida. Descubra agora