🐬 17. GOLFINHO 🐬

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Incrível como o tempo passa rápido quando estou ao seu lado, Noriaki.

Antes de sair do quarto, olho para o golfinho de pelúcia sobre minha mochila e sem motivo algum, meu coração dispara. Estou me sentindo ansioso demais, e isso não é bom. Ansiedade em excesso vai me prejudicar dentro de campo, e vou ser ainda mais xingado pelo treinador Speedwagon.

Eu e Noriaki passamos a manhã de domingo deitados, sem fazer nada, no mais absoluto tédio, apenas rindo ao lembrar de toda a cena na máquina de pelúcia no dia anterior. Pela tarde, um calor insuportável fez com que nós criássemos coragem de levantar os traseiros e ir até a sorveteria mais próxima. Depois de uma caminhada debaixo do sol escaldante, chegamos em casa e nos deitamos, cada um em seu lugar. Eu me senti empanturrado de tanto sorvete, até mesmo meus dentes ainda sofriam com a sensibilidade provocada pelo excesso de gelado. Só que nem o sorvete conseguiu abrandar o calor que continuou até mesmo depois que o sol sumiu no horizonte.

No início da noite, recebo o alerta de um aplicativo de astronomia. Uma chuva de meteoros se aproxima, e como o céu está aberto, faço o convite a Noriaki para assistirmos o fenômeno juntos.

As primeiras estrelas piscam no céu de fim de tarde, e já estamos no telhado da casa de Noriaki. Confesso que tenho medo da estrutura ceder e algum de nós afundar no forro da casa, mas ao que parece é bem seguro aqui em cima.

— Olha Golfinho, um disco voador! — o indicador de Noriaki se move para cima e aponta na direção de um ponto de luz se movendo no céu em uma trajetória linear.

— Ah, é o reflexo do telescópio Hubble. — mostro a tela do celular e o aplicativo de estrelas aberto na página do instrumento.

Noriaki se aproxima do telefone, ele não entende nada sobre astronomia e desanima ao ver que é somente o telescópio e não um objeto voador não-identificado.

— E como isso acontece? Tipo, como é possível um pedaço de metal ficar visível para nós aqui da terra?

— Simples, — explico, me sentindo o Stephen Hawking. — É apenas o sol iluminando a superfície do telescópio. Como já está escuro aqui, vemos apenas o reflexo. É tipo a lua, sabe?

Noriaki se aproxima do aplicativo e toma o celular das minhas mãos. Ele brinca um pouco com os astros na tela e quando devolve o aparelho, dá duas batidas leves na aba do meu boné como se ele fosse uma porta.

— Quem é você e o que fez com o meu Golfinho? Sempre achei que seu cérebro fosse formado por bolinhas de futebol, e não por neurônios!

Não me controlo e dou uma risada alta. A delicadeza de Noriaki me faz muito bem! Deito no telhado ainda rindo da sua metáfora.

Espera, desde quando eu sei o que significa metáfora?

Eu o vejo enfiar duas bolinhas de chocolate de cereja na boca — os mesmos chocolates que sobraram do dia anterior — antes de deitar ao meu lado. Se junta a mim na observação e fica ainda mais surpreso quando eu seguro sua mão e uso seu dedo para apontar para as estrelas que formam a constelação de escorpião.

— Aquela é Antares. — movo minha mão até a estrela mais destacada da área. — é a estrela mais famosa dessa constelação. É a cabeça do escorpião.

Escuto ele exclamar quando delimito com seu dedo toda a constelação. É naquela região que a chuva de meteoros vai ser predominante.

— Como sabe tanto sobre isso? — escuto sua voz rouca, talvez por vergonha me perguntar.

Fechei os olhos por um instante e retornei até minha infância. Dei um sorriso e contei a Noriaki como tudo começou:

— Meu avô Joseph me ensinou sobre o céu e astronomia em geral. Quando criança, ele me mostrava as coisas sobre o universo, pois eu dizia que queria ser astronauta! Pena que quando nos conhecemos eu já tinha enterrado esse sonho, agora só penso em ser como o Cristiano Ronaldo.

Lieblingsmensch | (Jotakak)Onde histórias criam vida. Descubra agora