🍒 26. CEREJINHA🍒

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Não sei explicar o que diabos aconteceu para a situação inteira se desenrolar dessa forma. Por um momento estava saindo de uma papelaria com o intuito de pintar uma nova tela, e no outro me encontro no quarto de hóspedes da casa de Dio.

Deve ser umas 2 da madrugada e nada do meu sono vir, apenas me encontro encolhido em uma confortável cama, revirando-me freneticamente como se houvesse uma camada de terríveis espinhos debaixo do colchão. Sinto-me incomodado demais com a minha ferida ainda se recusando a cicatrização que eu tanto quero.

Mais cedo, eu e Dio tivemos uma longa conversa sobre as questões que ele começou a levantar. Por um momento eu realmente tive medo do que ele queria me dizer, se isso era com o real objetivo de me machucar mais ainda ou não. O quão grande foi a minha surpresa, quando ele começou a falar, que eu quase engasgo com o biscoito que mastigava divinamente.

Jamais imaginei que algo acontecesse da forma como aconteceu, de Dio levantar a possibilidade de ser gay.

Eu passei anos sendo tratado como uma pessoa errada por gostar de garotos, por ser como sou, pela forma que me visto e do que gosto de fazer. E a pessoa que mais me fez mal em todos esses sentidos, estava justamente em minha frente, debulhando-se em lágrimas, tentando explicar nervosamente indignado como sentia que está gostando de um cara. Até mesmo me pedindo conselhos!

Agora, enquanto tento arranjar novamente uma nova posição que seja confortável o suficiente para dormir, minha cabeça reprisa toda a conversa diante de meus olhos.

Eu estava chocado com suas palavras, as bochechas e o seu nervosismo perceptível denunciavam o quão sério foi a sua pergunta. Larguei o biscoito e peguei o suco, eu senti a minha garganta seca com aquela nova constatação, precisava beber o copo todo ou talvez a jarra inteira.

Esse tópico é extremamente delicado para mim quando se trata de Dio. Eu tive que engolir muitas coisas que o próprio já me disse no passado, tanto que ele foi a primeira pessoa a desencadear toda a situação de Jotaro, no qual protagonizou a sua primeira grande briga em minha defesa, a famigerada que lhe rendeu uma cicatriz no queixo.

Sentar à mesa e ter essa conversa posta à tona de novo me deu um puta nervosismo, achando que ele iria destilar muito mais veneno gratuito em mim, mesmo que nós estivéssemos a poucos metros de sua mãe, nada poderia impedir de Dio falar atrocidades sobre mim sem sequer levantar muito o tom de sua voz.

Ele sempre foi uma pessoa ardilosa e sarcástica em várias situações, então já estava esperando algo nesse nível, mas nada me preparou para as palavras que logo ele foi dizendo.

— Eu quero saber, como você descobriu que é gay?

Dio se recusava a todo custo olhar em minha direção, achando mais interessante mexer em qualquer canto da jarra.

— Bem, eu apenas me compreendo como gay porque eu nunca tive algum interesse em garotas. E sim em garotos, é isso que te identifica como gay. Nada mais.

Deixei minhas mãos rodarem outro biscoito nos dedos. A atmosfera estava completamente estranha, é palpável demais o nervosismo e a vergonha de ambos os lados, apenas a intensidade em nós era bem diferente.

— Mas e se também gosta de garota? O que é isso?

— Quando é dos dois, bisexual. Quando é de alguém que você não se importa com seu gênero é pansexual. Isso de uma forma bem direta.

Dio ainda olhava para baixo, em algum momento voltou a pegar mais biscoitos, ocupando-se com algo. A essa altura eu já imaginava o por que dessas perguntas e de seu comportamento estranho desde que nos esbarramos na saída da papelaria. Tudo indica em minha cabeça que ele está confuso consigo mesmo sobre gostar de um cara. A situação foi posta completamente de cabeça para baixo em relação a Dio.

Lieblingsmensch | (Jotakak)Onde histórias criam vida. Descubra agora