Capítulo 23

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Ainda deitada debaixo do céu tempestuoso

Ela disse: Oh, oh, oh, oh, oh

Eu sei que o Sol deve se pôr para se erguer

Paradise- Coldplay

🌼

Seis meses depois...

Quando eu tinha seis anos, meus tios me levaram até o lago da fazenda e tentaram me ensinar a nadar. Eu me lembro de estar apavorado com o fato de não conseguir enxergar nada na água e no quanto eu gritei quando senti algo encostar em meu pé. Eu me lembro do momento exato em que eu descobri o medo que eu sinto do desconhecido.

Eu sinto medo de não ver o que me cerca, eu sinto medo de não saber o que esperar. O desconhecido me assusta de uma forma que nada mais consegue assustar.

Há seis meses, no entanto, eu descobri algo que me assusta mais do que qualquer coisa que eu não posso ver.

Alguns meses antes...

Taehyung ainda chorava e tremia, enquanto eu tentava acolher seu corpo em meu abraço. Eu sabia que seus pais eram um assunto sensível, Seojoon me deixou a par de tudo o que estava acontecendo antes de chegarmos em minha casa. Por isso eu fiz questão de acompanhar meu namorado pelo caminho.

Taehyung ainda tinha medo do pai, ele tinha pavor e eu nunca pensei que o veria no estado em que estava. Eu não sei até que ponto o estado emocional pode afetar o físico de alguém, mas meu Taehyung parecia perto de entrar em colapso. Apesar do corpo fervendo, suas mãos estavam frias, os tremores e espasmos estavam começando a me assustar e a forma como suas mãos estava apertadas, de maneira que nem eu conseguia abri-las, me apavorava.

Eu já havia ligado para Seojoon e pedido para que chamasse alguém, um médico ou qualquer pessoa, mas quando Taehyung viu o doutor da minha família entrando no quarto, ele surtou e precisou ser sedado.

Às vezes eu acho que a sanidade é um fio muito fino e frágil, nós a fortalecemos com o passar do tempo, porém, para algumas pessoas, esse fortalecimento se torna um pouquinho mais difícil e é aí onde muitos adoecem. Taehyung, meu namorado, fez diversas tentativas de fortalecer esse fio, ele tinha vontade de viver, mesmo que em alguns momentos não conseguisse enxergar isso, ele queria melhorar. Queria ser bom para si, ser bom para mim, mas por algum motivo, a vida sempre lhe roubara a possibilidade de se reerguer e voltava a enfraquecer o fio.

Eu senti, naquele momento, que a vida havia terminado seu trabalho e havia partido de vez o fio de Taehyung. E, pela primeira vez, naquele dia terrível, eu quis chorar. Minhas lágrimas continuaram guardadas em mim, Taehyung não precisava de um namorado frágil, ele precisava do Jeon Jungkook forte e positivo, ele precisava do namorado que lhe ajudaria a remendar o fio e voltar a ser o meu namorado que eu tanto amo, então, pacientemente eu esperei até que ele acordasse no dia seguinte.

Eu constatei - como estava constatando muitas coisas durante aqueles dias - que meu namorado nunca mais voltaria a ser o mesmo. Quando acordou, ele não era meu Taehyung, ele não tinha mais o brilho nos olhos que o meu Taehyung tinha. Era como se aquele sentado em minha cama, tivesse apagado de vez a existência do cara que eu amava.

Enquanto Taehyung encarava o chão, eu só sabia tremer, eu tinha medo de suas reações, tinha medo de que ele acabasse com tudo, eu tinha medo de não ser mais sinônimo das coisas boas em sua vida.

Singularidade | taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora