Capítulo 04

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O relógio, ainda que as pessoas não tenham consciência disso, é o nosso maior medo. Nós temos medo de tudo o que envolva o tempo, medo do atraso, medo de sermos adiantados demais, medo de perdermos tempo, o relógio é justamente o que nos assusta.

O tempo tanto é precioso quanto assustador.

Meu avô uma vez me disse, enquanto estávamos recolhendo morangos, que nós nunca valorizamos quanto tempo temos até que o vejamos escorrendo pelos dedos, que estamos sempre tão ocupados com nossos próprios desejos que quando o tempo acaba, o desespero se instala e reclamamos com a vida sobre sequer termos tido tempo para o que quer que fosse.

Eu me lembro de estar pegando um pequeno morango verde na terra de coloração escura, enquanto ele fazia mais um de seus imensos monólogos os quais eu sempre amei escutar, quando ele disse que o tempo é precioso, não importa o que estejamos fazendo, com quem estejamos, o tempo é a maior jóia que temos e que por isso, ainda que seja doloroso, nós devemos sentir tudo na maior intensidade até que o nosso tempo se encerre e já não nos reste arrependimentos.

Ele estava tão certo em tudo o que dizia, ele estava para além de certo.

Eu o ouvi, eu fiz o meu máximo para aproveitar, mas ali, jogado na cama em pleno sábado, sem qualquer vontade de me levantar enquanto tocava alguma música da banda Imagine Dragons no pequeno rádio em minha estante, eu percebia o quanto havia fracassado em tudo.

Eu não aproveitei qualquer tempo que tivesse, estava sempre obcecado por sentir, obcecado por felicidade ou qualquer emoção diferente do desespero que sequer percebi que eu só precisava deixar que tudo fluísse para fora. Não percebi que superar sempre se tratou de se afundar na lama até que seu corpo esteja coberto e então resurgir dela até que a chuva te lave por completo.

Eu estava vazio, como uma estação de rádio que não existe, estava vazio como o espaço deixado entre uma palavra e outra, vazio como a existência de alguém sem pilhas.

ㅡ Taetae, o seu irmão chegou, não vai ir vê-lo? - Tia Areum estava parada na porta, com suas lindas meias azuis e seu macacão preto.

ㅡ Eu preciso? Você sabe bem o que ele vai me dizer. Por Deus, tia! Eu não preciso de alguém para rir dos meus olhos, eu já me sinto estranho o suficiente. - Ela morde o próprio lábio, como se isso fosse fazer uma solução aparecer milagrosamente.

ㅡ Eu queria poder fazer algo, não sei mais o que fazer para que vocês dois comecem a se dar bem. - Eu me sento na cama e sinto minha visão escurecer e tudo girar por um segundo.

ㅡ Não há o que fazer, o Seojoon me odeia, ele odeia que eu seja tão defeituoso e eu não posso fazer nada a respeito disso. - Ela se aproxima e acaricia meus cabelos.

ㅡ Você não é defeituoso, ok? Você é lindo, um rapaz incrível e não há problema algum em você.

Queria que você pudesse entender o quanto há, tia Areum.

ㅡ Eu vou fazer um esforço, tudo bem? - O sorriso dela faz todo meu desconforto valer a pena. ㅡ Só... Me deixa respirar fundo antes de enfrentar. - Ela me dá um beijo na testa e sai do quarto.

Eu pego meu celular que foi deixado aqui durante a manhã e vou até o número de Jungkook, torcendo para que ele não esteja dormindo.

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Jungkookie🐰

Hyung? Precisa de algo?

Eu mordo o lábio inferior, há tanta insegurança em mim que preciso fechar os olhos antes de enviar a mensagem.

SINGULARIDADE - TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora