Singularidade | taekook

Capítulo 10

Felicidade.

substantivo feminino.

Qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar.

Eu estou habituado ao vazio, quase como se ele e eu fôssemos um só, funcionando como dois buracos negros engolindo um ao outro pela eternidade. O vazio é como uma extensão da minha existência que divide espaço apenas com a agonia e a dor, eu o entendo, o sinto, o compreendo e ele me consome.

Estar acostumado a sensação de nada, ao vazio de existir sem um propósito e acostumado com a dor faz com que você não consiga reconhecer a felicidade, ou talvez você reconheça, mas se sente eufórico demais para aproveitar o momento.

A felicidade costuma manifestar-se em outras pessoas como um estado de euforia, diversão, boas sensações, ótimos hormônios sendo liberados por toda a parte, uma explosão de sentimentos bons e tranquilidade, mas em mim a felicidade é um gatilho para o pânico e o terror. Eu não sei aproveita-la, talvez pela sensação de ter esperado tanto tempo por ela ou até mesmo por não estar habituado a isso. Ela faz meu coração acelerar com tanta força que eu me sinto fraco, ela me tira a tranquilidade porque a todo momento eu sinto que vou perdê-la e como se não fosse o suficiente, a felicidade faz com que eu surte, surte porque eu não aprendi a lidar com coisas boas, eu não me acostumei a boas sensações.

Ainda que seja assustadora e dolorosa de uma maneira maçante, experimentar a felicidade é como estar começando a me completar aos poucos, como se a vida inteira de sofrimento estivesse sendo apagada aos poucos e eu, finalmente, estivesse vivendo de verdade.

Eu nunca admiti nem mesmo internamente, mas eu queria estar onde estou agora, queria que alguém olhasse para o que eu sou e fizesse por mim o que eu jamais faria. Talvez por falta de força, por desânimo ou seja lá o que for, eu sentia uma necessidade de ser cuidado porque sabia que eu jamais o faria. Eu estive disposto a morrer a vida inteira, estive disposto a me autodestruir, mas não estava disposto a lutar, lutar era bem mais difícil estando sozinho.

O que eu fazia era semelhante a ver um elefante gigante parado no meio da sala e preferir ignorar porque vai dar mais trabalho colocá-lo para fora, era semelhante a saber que o mundo está sendo destruído, mas preferir esperar o fim do que se levantar e fazer algo para mudar. Eu sabia que estava me matando, me destruindo, mas sentia que lutar me encheria de novas dores que eu não estava disposto a suportar, me deixaria mais cansado, mais frustrado por criar esperanças e ver que fracassei. Eu sentia medo de que quando a primeira tentativa fosse mal sucedida, eu simplesmente desistisse porque não ia ter qualquer pessoa para tocar no meu ombro e dizer "você fez bem, tente novamente".

E se quando eu tropeçasse, não conseguisse mais me levantar? E se o fardo de tentar fosse pesado demais para suportar sozinho? Quão doloroso vai ser se eu ficar parado no chão, no meio do escuro completamente sozinho como aconteceu tantas vezes? Por que tentar se eu sei que na hora do fracasso eu voltarei para o fundo do poço?

Eu me questionei por tantas vezes, as mesmas questões, os mesmos assuntos, eu apenas não conseguia enxergar o lado em que lutar para ser feliz me deixaria melhor.

Não é como a sensação de você não poder lutar. Eu poderia, eu tinha meus meios e eu queria, queria com muita força. Nunca quis sentir vontade de morrer, eu nunca quis ser a pessoa sombria que lembra a todos que o suicídio e a depressão existem, eu nunca quis ser o cara que quando as pessoas olham, veem vazio nos olhos. Eu queria melhorar, queria lutar, queria me sentir melhor, mas tinha a sensação de que o tempo inteiro algo segurava meu pé e me puxava para dentro da areia movediça, eu não sentia vontade de voltar para cima, não sentia vontade de esticar o braço e pedir ajuda, então, apenas me deixava ir.