14 Anos depois da Noite Sem Fim
Eu gargalhava da crueldade que me circulava.
Me divertido vendo minhas vítimas ajoelhadas no chão me implorando por misericórdia enquanto meus Espectros arrancam os dedos do imbecil que não pagou o que devia para o meu pai.
— Por favor, vamos pagar — implorou o velho gorducho que pediu um prédio no C.E.N.T.R.O e não pagou as prestações, e agora quer nos enrolar sempre adiando o pagamento.
— Ah, disso eu não tenho dúvidas — meu tom de voz o fez engolir em seco.
O tirei da cadeira e andei com ele para perto do parapeito do prédio. A brisa fria balança meus cabelos. Meus pulmões já se acostumaram com mais poluição devido às fábricas feitas nos últimos anos, tornando o C.E.N.T.R.O em um ponto de comércio do Ex.Te.R.N.O.
Tirei um lenço do bolso e enrolei cuidadosamente a mão sem dedos do homem choroso. Sua espécie fede a fraqueza; isso é perigoso, porque a espécie fraca desse homem criou tudo que hoje habita o C/E/F/F: pertence a espécie humana.
— Cruel, por favor, vamos pagar — garantiu o homem, tremendo com meu toque na sua pele. Minha delicadeza era afiada, o rasgando lentamente.
— Eu sei disso. — Enxuguei suas lágrimas, o sorriso perverso de lado.
Minhas vítimas odeiam quando ajo como alguém compreensivo, os estremecem mais. Sabem que a bondade não é bem o que conservo. Admito que ser cruel é mais interessante. Possuem medo de mim, me temem como um monstro.
É bom ser o monstro e não a vítima.
Meu pai me ensinou bem em como conseguir o que desejo no final.
— Mas agora você que vai ter que pagar tudo sozinho — informei, tão sério que fez o homem recuar passos assustados para longe de mim.
Acenei com a cabeça para meus Espectros encapuzados.
Virei o homem humano a tempo dele vê seus companheiros sendo jogados do prédio para baixo. Estremeceu ao ouvir o estalo dos corpos se desmanchando no chão. Chorou mais por saber que agora toda a dívida está em seus ombros. Nunca conseguirá o valor até eu voltar e cobrar novamente, mas tenho que ser misericordioso e dá-lhe tempo de se matar por si só ou tentar fugir. Eu gosto de caçar meus alvos, é excitante vê a esperança sumindo dos seus olhos quando eu os encontro.
O homem humano sabe que nunca pagará, então por si só correu até a borda e pulou. Apenas olho para baixo e admiro o estrago em baixo. Os faxineiros de rua terão mais trabalho hoje. Bom, é o que meu pai sempre diz: uma dívida só se paga com dinheiro ou a vida. Esse pagou a dele com a vida.
— Que pena, estava divertido — lamentei em divertimento aos meus quatro Espectros.
Eu posso os ordenar, sou seu líder enquanto faço tudo de acordo com o que meu pai deseja, mas os quatro reportam a Theodoro. Sempre, no final do dia, dizem se fui cruel o suficiente para não precisar receber chicotadas e aprender a ser menos sentimental. Aprendi a não ter misericórdia antes mesmo de começar a matar.
Não faço ideia quem são esses quatro, nunca tiram os capuzes, e por baixo ainda usam panos que os cobrem a boca até o nariz. Não podem falar, apenas ver e me obedecer. Os chamo de Espectros, minhas assombrações particulares. Estão lá sempre. Habitam em quartos aos arredores do meu para me verem a cada segundo do dia e da noite, me vigiando sem parar.
Se tomo banho, eles veem. Se tenho pesadelos, eles veem. Se saio e fodo com alguém, eles veem. Se caço, eles veem. E, no final, relatam.
Sem meus Espectros, não tenho livre acesso para andar.
Nunca vacilam. Me pergunto se sentem fome e sede, já que nunca os vejo se alimentarem ou beberem água. Admito que são letais. Há boatos que meu pai os ensinou desde crianças a serem exatamente o que são, apenas para me vigiarem. Ele só não os tirou o nome, como também a aparência, já que perguntei a Theodoro se são pelo menos homens ou mulheres que me seguem de um lado para o outro, e o mesmo admitiu que já não sabe mais o gênero, e a voz é abafada pelo pano para identificar a sonoridade.
Verdadeiros Espectros.
Passo meu dia cobrando os filhos da puta que não pagaram as dívidas. Mesmo achando um tédio cobrar aluguéis, esse é o dia menos puxado na minha agenda.
Mesmo com quatro Espectros, sinto-me sozinho. Tento lembrar de um passado arrancado brutalmente de mim. Os nomes se perderam no fundo da minha memória e se desfazem em farelos, mas ainda exige em estar lá em algum lugar oculto. Já acordei assustado por achar que estava os pronunciando em voz alta. Não tenho mais medo de ser chicoteado, isso havia virado rotina, mesmo odiando a dor. Tenho medo de tudo ter sido real, pois sinto que não saberei lidar.
O anoitecer tomou conta do C.E.N.T.R.O, mesmo assim as ruas estão movimentadas, como se o dia e a noite não dividissem o descanso e o trabalho.
Paro o carro no sinal vermelho de trânsito, esperando os outros carros passarem do outro lado. Bato o dedo indicador no volante inúmeras vezes e balanço o pé. O carro começa a ficar mais abafado, a densidade do ar parecia pesos e quase impossíveis de inalar.
Eu sei o que está acontecendo.
Tiro meu quite de remédios dentro da caixa jogada no outro assento. Insiro a agulha no frasco roxo e puxo o líquido de dentro. Mordo os lábios por sentir dor de cabeça tremenda.
Lembra de nós?, sussurrou aquele poder que nunca deve ser mostrado. Nos prende como prisioneiros.
Com a visão embaçada, injeto a agulha na primeira veia que vejo do antebraço esquerdo, fazendo minhas sombras adormecerem.
Seu nome para nós é Carcereiro, sussurrava as Sombras, sonolentas, já voltando para meu interior. Um dia, Carcereiro, seremos livres.
Terceira vez que elas aparecem hoje para me tentarem, sussurram uma vida que nunca tive, nomes que luto para esquecer. Agora resolveram me culpar, me criticar.
O ruim de ficar parado é minha mente bagunçada. O poder de sombras vivas que cresceu é a minha principal causa de tortura. Hoje utilizo substâncias tóxicas no meu corpo para manter minha aberração contida. Ando com frascos e agulhas e injeto três vezes no meu corpo, e a cada vez que o tempo passa, aumento a dose.
Não posso lembrar.
Não há nada para lembrar, digo a mim mesmo.
— Porra! — grito e esmurro o volante.
As buzinas dos carros atrás me tiram da fúria que começo a semear dentro de mim.
Não posso lembrar de uma vida não real.
Começo a andar com o carro para um dos lugares que me ajudam administrar o barulho.
🅒 / 🅔 /🅕 /🅕
Penetro fortemente umas das prostitutas, seus gemidos altos que abafam as vozes na minha cabeça, a sensação de prazer do meu corpo que esconde a tensão que se acumula nele.
Quando a mulher gozou e não me aguentava mais, saí de dentro dela e tomei um dos prostitutos machos para mim, por trás, que esperava sua vez. Ele é mais apertado, melhor de foder.
Me desmanchei dentro de sua bunda, e, por um segundo, eu me senti bem e liberto. Mas minha libertação se foi tão rápido quanto tive, me fazendo desejar mais outra transa para ter esse pequeno segundo. Essa é a única forma que tenho de escape, já que drogas e bebidas não são usadas por mim porque preciso estar ciente dos meus atos.
Se eu aparecer bêbado ou drogado, ficarei uma semana no poço: ordens do meu pai, e ele cumpre com elas, já que quando o desobedeci, fiquei naquela cela escura, sem comer ou beber água, por dias. Theodoro gosta que eu fique consciente, lembrar que sou Cruel e seu filho, já que quando estive bêbado, o questionei e minha mente trouxe à tona uma vida que as vezes acho que foi real.
Vejo meus Espectros no mesmo quarto que eu, parados de vigia. Se eu gemer errado, irão relatar ao meu pai. Sentei na poltrona do quarto do motel, ficando encarando esses três.
— Eu pago vocês para me satisfazer, e não estou satisfeito — falei para os dois que escolhi para serem meus escapes.
Os dois prostitutos engatilharam até mim, como se isso fosse ser prazeroso — revirei os olhos com a ação deles. Eu quero sensações, pouco me importa para seus comportamentos. Quando começam a me chupar, eu tento focar no prazer, mas não consigo parar de encarar os Espectros, desejando-os mortos, beber seus sangues em taça de vidro.
Enquanto estou sendo chupado, gargalho com meus pensamentos de como seria torturar meus Espectros. Eu poderia desmembrá-los, ouvi-los gritar, os chicotear. Não desvio o olhar deles. Anseio por crueldade, mais do que a morte. Ser cruel é mais divertido do que o fim que a morte traz.
A porta do quarto é aberta bruscamente. Rosnei para os dois ajoelhados diante de mim que pararam de me satisfazer. Eles voltaram a me chupar, já que sou eu que devem temer. Posso matá-los se eu sentir vontade, não o filho da puta do Leonardo que adentra mais o quarto e nega em reprovação com a cabeça.
— Não existe outro lugar que gosta de frequentar? — perguntou ele, torcendo o nariz devido ao cheiro forte de sexo.
— A sorveteria — falei sinceramente, não há motivos de mentir. — Mas estava fechada.
— Acredito que eles abram para o Cruel tomar sorvete.
Dei de ombros e sorri de lado.
— Não quando eu matei os donos por não terem pagado o aluguel de dois meses.
— Encontrará sorveterias melhores — garantiu ele. — Agora goza logo que seu pai quer te ver.
Bufo indignado.
Se meu pai pediu para Leonardo me buscar, é porque tem missão para que eu cumpra. Suas missões estão ficando difíceis de serem realizadas com sucesso, principalmente quando envolve ataques de rebeldes.
Vejo Leonardo de braços cruzados esperando-me colocar pelo menos as calças para ir me encontrar com meu pai.
Leonardo é um furtruck que tenta impressionar o pai e seu Magnata, e consegue fazer isso sendo obediente e eficiente. É apenas dois anos mais velho que eu, mas parece mais jovem de aparência. É um homem belíssimo, sem dúvidas. Ele deixa as laterais da cabeça raspada, e o longo cabelo castanho no meio é trançado em apenas uma trança raiz indo até a cintura, que quando anda, parece uma calda balançando. Os olhos azuis estão calmos, no momento, mas quando ele enfrenta seu oponente, seu olhar torna-se animal, um mar em meio de tempestades.
Mesmo sem gozar novamente, dispenso meus escapes e coloco a roupa. Não posso deixar meu pai esperando.
Acompanho Leonardo para a saída, passando pelo salão principal.
Vejo Maria brigando com suas prostitutas. Ela é baixinha e gorducha, os enormes peitos fazendo um decote que ela gosta de guardar a carteira e seu abanador. Se parece uma mulher adulta do tamanho de uma criança de 12 anos, mas isso é característica de sua espécie: xag. Seus dons é o veneno, isso é possível ser adquirida pela saliva.
Muitos dessa espécie sofrem de perseguição para serem usados e roubados a salivas para fazer drogas. Maria fez acordos com meu pai. Ela garantia que as drogas continuem circulando, lhe pagando altos custos, em troca de proteção. Assim Theodoro aceitou.
— Vejo-a em breve, Maria — acenei para ela em despedida.
— Ficou tão pouco tempo — lamentou ela, tirando seu abanador do decote e o abrindo em um movimento rápido. — Fique mais um pouco.
— Meu pai chama.
— Ah, sim. — Se abanou, a cara enojada. Maria é uma das poucas que enfrenta Theodoro. — Diga a Theodoro que o mando tomar no cú. Ele pensa que sou uma fábrica.
Leonardo riu pela ousadia de Maria e a indignação. Não sorrio, mesmo querendo. Esse é uma diversão proibida: sorri de verdade por achar graça em algo. Meus Espectros estão vendo.
— Direi — prometi, piscando pra ela.
Maria usa a própria saliva para criar minhas substâncias que prende meu poder. Hoje já me forneceu mais frascos que guardei no carro. E é ela também que faz substâncias para amenizar minhas dores corporais depois que recebo castigo.
Quando mais jovem, fui posto a treinamentos rigorosos para ser o que sou hoje. Nunca sabia se estaria vivo no dia seguinte, mas Beatriz treinava seu poder em mim e Maria me dava remédios — a xag ficava comigo o tempo todo. Theodoro não pode tirar nada de Maria, ele já a tirou tudo. Então se matá-la, é atirar no próprio pé.
Muitas das vezes vou em seu covil para vê-la, apenas. O motel que criou é apenas mais um de seus negócios. Bebemos chá na sacada da sua fábrica e a ouço reclamar. Nada falo, fico receoso de dizer o que não devia, já que com ela eu sinto... Conforto? Não o suficiente. Nada é suficiente.
No final, sempre estou sozinho.
Entro no meu carro e dirijo para a Central, construído há cinco anos atrás para ser a casa do meu pai, uma fortaleza grande e moderna. Ele criou o próprio castelo e sua sala do trono, usando os escravos de mão-de-obra. Leonardo dirige logo atrás junto com outro carro preto que meus Espectros usam.
Os grandes portões são abertos pelos guardas, sem mesmo me identificar — sabem a placa do meu carro. Estaciono o carro na garagem subterrânea. Eu e Leonardo nos encontramos no elevador. Antes da porta se fechar, apontei meu dedo do meio para meus Espectros que irão esperar outro.
— Sua vida é os tentar. — Leonardo riu.
— Não largam o meu pé. — Bufei.
— Cruel, um dia o Magnata irá os dispensar.
— Não, não irá — deixei o comentário no ar antes de sair do elevador que nos levou ao andar principal, o grande salão magnático do Magnata Theodoro.
Antes eu tinha Espectros para me mostrar que sou o Cruel, o filho de Theodoro. Hoje tenho Espectros por eu ser o que meu pai criou, e ele sabe que me criou tão bem que me deixar sem vigia é apontar uma arma para a própria cabeça, por isso meus vigias são treinados para matar. Me matar se eu for além. E tenho curiosidade do quanto posso ir além se eu deixasse que aquelas sombras de um poder esquecido em mim fossem livres.
O salão possui postes de mármores sustentando o teto de gesso branco com vários lustres fazendo a iluminação. No final dele, fora construído uma elevação mais alta, onde seu trono forjado a ferro se torna uma atração, mas o que deixa esse lugar de arrepiar é o Magnata que senta no trono.
Theodoro demonstra poder apenas respirando. Hoje ninguém mais pode negar que sou seu filho. Herdei dele as orelhas pontudas, pois são parecidas; os traços firmes do maxilar, que faz os ossos serem visíveis quando engolimos ou mastigamos forte. O pomo de adão em nossa garganta. Herdei também a sua selvageria transmitida no olhar. Até a mancha de sinal que possui na mão direita esse filho da puta me deu.
O contemplo como líder, não como pai. Sou capaz de matá-lo e governar no seu lugar, ter o poder que possui em mãos nas minhas. Eu seria temido igual, senão pior. Theodoro sabe que o filho não nasceu para ser súdito, e sim para governar. Tudo de mim anseia por liderança. Por isso, eu sou o homem que mais tortura. As vezes sinto que ele possui medo da própria criação.
Parei nos pés da elevação que leva ao trono e me curvei, estirando a mão direita aberta em sua direção. Peço-lhe a benção de existir na sua presença. Vejo seus pés próximo de mim. Segundos depois, as garras do meu pai passaram pela palma da minha mão, quase rasgando a pele.
Ergo o corpo depois de receber autorização. Leonardo levantou o corpo quando recebe a benção dele.
— Mandou me chamar, pai? — perguntei, a voz vazia e firme, sem demonstrar sentimentos, a expressão séria de um soldado que acabou de chegar da guerra e não acredita mais na paz. E, de certa forma, não acredito mesmo.
— Missão — foi o que disse antes de sentar novamente no trono, apoiando o cotovelo direito no braço de ferro e girando o dedo indicador da mão esquerda em seu colar em formato de chave, o que nunca retira do seu pescoço. — O que fazia no motel de Maria?
— Minha missão de hoje de cobrar os devedores estava feito, então resolvi trepar para passar o tempo. — Sustentei seu olhar. — Não sabia que eu estava proibido de foder.
— Não está — respondeu secamente. — Só pensei que havia ido tomar mais chá com Maria.
Theodoro liberou-me para trepar quando eu tinha 17 anos. Foi o horrível ser tocado. Os toques, até então, era algo ultrajante, já que os soldados me tocavam para me bater e torturar. Nada deve ser delicado comigo, por isso tomo meus escapes brutalmente, sempre na dominância na cama. Nunca deixei que uma mulher cavalgasse em mim, ficar à mercê dela. Ela pode muito bem puxar uma faca e me esfaquear, ser um teste de Theodoro. Se eu chegar no meu prazer, deve ser de olhos abertos. Sem muitos beijos para que eu não fique de olhos fechados.
Com 19 anos descobri que meus Espectros matavam meus escapes de uma noite depois que me satisfaziam, isso quando fazia sem preservativo. Hoje uso preservativo, senão faltará escapes para perder tempo, já que nunca repito com os mesmos. Theodoro teme um filho meu, e garante que eu não tenha. Só não me castrou para não ser conhecido como o Magnata com filho castrado. Ele prefere ser conhecido como o Magnata com o filho perverso e digno do nome Cruel.
— Em falar em Maria, ela mandou você tomar no cú — repassei a mensagem como prometido.
Theodoro fechou a mão em punho e rosnou, não para mim, para a mulher baixinha que exige o tentar.
— Sua missão é no Ex.Te.R.N.O — informou Theodoro, mudando de assunto. — Beatriz está prestes a fechar negócio com os fúrias, mas estão sofrendo ataques de sytons.
Levei minha atenção para a tyfon posta ao lado de Theodoro como uma guarda, mas só está lá por ter mostrado algo no tablet que tem em mãos. Só não a olhei antes por eu ter que dá atenção toda ao meu pai, só depois aos demais.
Beatriz usa calças formais e um blazer feminino, os cabelos rosas amarrados em um rabo de cavalo, o rosto delicado com traços firmes de maquiagem, a envelhecendo e a tornado uma bela mulher. A postura está impecável, uma ministra de negociação de respeito, a braço esquerdo de Theodoro.
Só nos falamos quando ela fecha minhas cicatrizes, treinada desde criança para isso. São palavras curtas, olhares perigosos de uma conversa nunca iniciada, pois é assuntos de uma vida não real, de muito tempo atrás.
Olhei para o outro lado de Theodoro, para o homem que um dia fora bonito, mas hoje está deformado, a metade do rosto queimado, tão feio que parece uma caveira viva, com poucas carnes juntas no osso. Foi preciso remover seu olho esquerdo devido a isso, e raspar os cabelos. Por pouco não morreu. Usa um braço robótico para substituir o que perdeu em batalha. Sua maior conquista está presa na cintura: a espada do seu oponente.
Amplio minha visão involuntariamente e vou lendo os nomes gravados no punhal. Pisco várias vezes e volto a cumprimentar Sandro com o olhar, não demonstrando minha inquietação em quase ler o nome proibido de uma mulher.
— Os fúrias são fortes aliados para servirem de soldados, e como o C.E.N.T.R.O está cada vez mais público e movimentado, está ficando exposto aos ataques rebeldes. — Beatriz soou como uma verdadeira ministra relatando a situação. — Marcamos de negociar com um grupo de fúrias que possuem influência. Os tendo ao nosso lado, podemos ter chance de ter a espécie servindo ao nosso Magnata.
— Não sou um bom negociador — os lembrei.
— Não irá para negociar, e sim para matar. — Theodoro tomou a fala. — O grupo virá para o C.E.N.T.R.O daqui há dois meses para a Caçada Syton, então será aí nossa negociação. Beatriz os deu garantia que os sytons não são problemas deles, é nosso.
— Quer que eu cace os sytons rebeldes que estão os atacando e os mate — conclui minha missão. — Parece que minha caçada será antes mesma do festival.
Sorri perversamente. Theodoro abriu o sorriso dele ao me ver ansioso para matar sytons.
Já matei alguns sytons rebeldes que me perco nas contas. Desde jovem fui treinado para odiar essa espécie nojenta de asas. A espécie furtruck é a dominadora. Minha espécie.
Sou Cruel, filho de Theodoro, e pertenço a espécie Furtruck, digo mentalmente, a luta constante de ler aquele nome do punhal da espada conquistada de Sandro.
Roubada, sussurrou as Sombras, querendo acordar novamente. Prendo o ar para tentar ajudar a me manter centrado, soltando devagar para não levantar suspeitas que estou ouvindo os sussurros. Ela teria vergonha de você, Carcereiro.
— Qual será minha frota? — perguntei ao meu pai, querendo as ordens e me afastar para injetar mais substâncias.
Theodoro acenou para os quatros Espectros atrás de mim com a cabeça.
— Eles — respondeu. — Mostre que consegue matar os rebeldes sem frota. Assim os fúrias ficarão mais admirados e confiantes.
— Tempo de conclusão da missão?
— Duas semanas — relatou. — Será três dias de viagem até o local, e mais três de volta. Os dias que sobraram será referente a sua caçada. Se aparecer com as mãos abanadas, terá a mão esquerda cortada fora.
Sempre há um preço se eu falhar.
— Não se preocupe, pai — o tranquilizei, fitando-o intensamente. — Eu nunca falho.
Me curvei antes de sair do salão magnático, deixando um pai orgulhoso e a certeza que terá morte de mais sytons.
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Supremo Syton
FantasyHenrique tinha apenas 10 anos quando sua casa foi tomada e obrigado a ser o que ele nunca quis ser. Tornou-se o homem mais perigoso e temido pelos seus inimigos. Destinado a torturas e obediência ao seu pai, o Magnata, um sádico que o tortura se fi...