F.O.S.S.O

8 1 2
                                    


As espécies saiam da frente a cada passo falho de Ayla a caminho da caverna de C.S.
      A sanguinária já demonstra medo em perfeito estado, e agora toda ensanguentada com o olhar de predador, que não se deixou abalar pelo cansaço que demonstra, a torna assustadora, onde nenhuma espécie é capaz de se intrometer no seu caminho.
      Eu e Vicente oferecemos ajuda para carregá-la até a caverna, mas recebemos foras tão afiados que ficarmos calados foi a decisão mais inteligente que tomamos. Tentei pegá-la no colo sem sua autorização, e como consequência agora preciso dá pontos nos quatros rasgos fundos que Ayla fez com suas garras afiados no meu braço esquerdo.
      Vicente não tentou a sorte.
      — Ela está mais... — Vicente demonstra tristeza e odeia o que deseja relatar. — Está mais animal.
      Depois de uma semana sendo caçada dia e noite, não era sendo racional que sobreviveria a Theodoro. As marcas terríveis de cortes no corpo de Ayla é a comprovação que lutou para sair viva. No fundo, uma felicidade se impregna na minha essência por imaginar que talvez Ayla tenha matado meu pior pesadelo.
      Eu e Vicente seguramos o impulso de agarrar Ayla quando descia as escadas rochosas com os pés descalços e sangrentos, a preocupação que ela escorregasse ali mesmo, mas ela apenas estava em algum modo automático e seguia seu caminho.
      Davi estava na sala principal quando entramos. Seus olhos foram de imediato para a irmã. Quando deu sinais de abraça-la, Vicente negou com a cabeça. O humano foi inteligente em permanecer no mesmo lugar.
      — Para aonde ela está indo? — pergunto.
      Davi estremeceu ao responder:
      — Para casa.
      Fico receoso de continuar a conversa, já que tenho uma ideia de qual caminho Ayla traça desde que chegou ao F.U.N.D.O.
      — Vou chamar C.S — informou Vicente.
      — Vou atrás do meu irmão. — Davi olhou para mim. — Se quer respirar mais um dia, não vá atrás de Ayla.
      Assenti com a cabeça enquanto eu os via seguirem seus caminhos.
      Fico sozinho na sala principal com meus pensamentos que me fazem ter ideias perigosas.
      Uma hora depois a caverna estava mais agitada do que antes. C.S proibiu que qualquer um chegasse perto do fundo da caverna, o lugar onde ninguém em sã consciência se atreveria em ir nem que fosse liberado, mas as ordens reforçaram que a dona da casa está no ressinto.
      — Quando ela vai sair de lá? — pergunto a C.S que deixou equipamentos de curativos na entrada da casa de Ayla, já que nem ele possui autorização de entrar.
      — Eu não sei. — Os olhos castanhos cansados de C.S não retomaram a fúria diária, estão consumidos de culpa e dor ao ver sua protegida tão perto, porém, tão distante do seu alcance, ainda mais saber que estar ferida e não pode ajudar. — Não entre. Ayla precisa de tempo.
      — E se eu entrar — sugiro olhando para o corredor escuro e sombrio que leva para o fundo da caverna.
      — Então você poupa o meu trabalho de encontrar comida para Ayla — responde ele em uma sonoridade tranquila que me causou calafrios.
      Olho uma última vez para aquele corredor antes de acompanhar C.S para a sala principal. Não tinha muita coisa para fazer. Talis me ajudou nas tarefas diárias, mas ele estava mesmo curioso para saber o que estava acontecendo. É um garoto esperto e curioso. Digo o que C.S mandou dizer: Ayla está protegendo a gente lá atrás.
      Beatriz veio visitar e relatar assuntos do C.E.N.T.R.O.
      — Então Theodoro está vivo — concluiu Devi, sentando na cadeira da mesa ao lado do irmão gêmeo.
       Beatriz contou que o Magnata chegou hoje à tarde. Está no hospital sendo tratado, já que o corpo sofreu golpes graves, inclusive arranhões.
      Porém, o Magnata chegou sozinho.
      Não há sinais dos caçadores que Theodoro levou consigo. Ele está silencioso, não falou nada para ninguém, apenas faz as coisas com raiva. Sandro é o único que teve autorização de comparecer no hospital. O furtruck saiu de lá com ordens a dá, e uma delas é que Beatriz tratasse de adiantar a caçada syton para daqui há dois dias, onde receberá os fúrias para negociar.
      — Ayla matou os 20 caçadores — presumo. — E fez estragos em Theodoro.
      — A sanguinária está aqui? — Beatriz quis saber.
      — Ela...
      — Ela ainda não chegou — mentiu C.S, me cortando de relatar a verdade. — Estamos preocupados, mas não podemos ficar parados.
       Beatriz olhou para mim. Eu assenti com a cabeça, reforçando a mentira de C.S. Não sei o motivo dele mentir, mas não posso denunciá-lo aqui na frente de todos.
      — Vamos atacar — continuou o fúria. — Arrume a celebração como Theodoro quer. Eu estarei lá daqui há dois dias. Tire os soldados do laboratório para fazer guarda na caçada, Theodoro não desconfiará disso. Enquanto eu estiver com aquele filho da puta, meus protegidos vão entrar e pegar o Núcleo, depois disso, vamos saber o quão aquilo irá nos ajudar.
      — Não é melhor esperar Ayla chegar? — perguntou Beatriz. — Se algo der errado, ela pode nos aj...
      — Minha filha está morta, jovem moça — relatou C.S, espantando até seus protegidos com tal mentira. — Theodoro matou minha Ayla.
      Mentira.
      — Como tem certeza disso? — Beatriz espantou-se.
      — Porque eu enterrei a sanguinária no lixão — disse Maria que estava quieta desde então apenas observando. — C.S não aguentou ver a sanguinária sem vida. Ayla chegou até aqui para dá seu último suspiro de vida.
       Mentira.
       — Isso é verdade mesmo? — Os olhos rosados de Beatriz se encontraram com o meu.
        Assenti com a cabeça, abaixando o olhar para ela não ver a mentira no meu olhar.
       — Meus pêsames — lamentou a tyfon. — Vou preparar a celebração para a chegada dos fúrias.
      Todos assentiram, quietos, como se estivessem em luto, não que já não estivéssemos em lamentação.
      Levo Beatriz até a subida, me despedindo dela com um abraço e um beijo. Não desmenti o que C.S e Maria contaram, mas pensei em fazer isso. Só que se eu contasse, aí sim eu seria um traidor. Estou em uma fase confusa em querer manter uma aliança.
      Quando volto para a caverna, questiono o porquê de mentirem.
      — Vamos literalmente matar os pais de Ayla, não quero questionamentos de outros em querer que minha filha participe dessa ação — foi a resposta de C.S. — Vamos seguir em frente. Quero dá um novo mundo a minha filha para quando ela decidir sair de lá de trás. Ela já nos deu tempo e enfraqueceu Theodoro, não vamos mais envolve-la nisso.
       O entendo.
       Fico horas olhando o teto do meu quarto. O sono não vem me visitar, apenas a insônia se mantém presente. Eu e as Sombras começamos a compartilhar pensamentos suicidas.
      Sim, insistiu as Sombras.
      Não!, questiono.
      Deixe de ser medroso, criticou. Vamos lá.
      Vamos morrer, argumento. C.S deu suas ordens.
      Ok! Então vamos ficar, deu-se por derrotadas.
      Mas se... Não, esquece!
      Viu só, você também quer ir, voltou a questionar, Vamos lá.
      Eu já disse que não!, dou minha palavra final.

Supremo SytonOnde histórias criam vida. Descubra agora