Oh, caralho

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Eu ouvia o prédio tremer devido aos ataques acima.
     Row, fiel a Maria, me caçou e todos do seu povo ajoelharam-se perante a mim. Maria, a Suprema deles, antes de morrer deixou claro quem devem seguir se algo acontecesse com ela: Eu.
      “Ela odiava o mundo, mas tudo que fez para manter esse lugar em pé foi para estar do seu lado. Ela nunca odiou você”, havia dito Row. “Ela morreu olhando para você. Para o garoto que ela daria a vida. Agora daremos a nossa”
      Os xags produziram salivas para explosivos que tenho certeza que estão arremessando na parte de cima. Meus soldados não se garantem na luta corpo a corpo, então ter balas e explosivos nós garante tempo contra os furtrucks.
      Viro-me para Theodoro que perdeu uma parte da bochecha e cabelo devido ao ácido.
     Está na hora de enfrentar meu pior pesadelo.
     Corro até ele e o pego pelos chifres, o rodeio com força, o arremessando no vidro que balança com o impacto. O Magnata perplexo ruge igual touro, mostrando as garras e os caninos.
      — Miserável! — brandou ele.
      — Estou apenas sendo um filho de orgulho — falo, socando-lhe a cara repetidamente. — Estou apenas te mostrando como me criou.
      Minha vantagem durou por pouco tempo. Theodoro consegue equilíbrio e segura meu soco no ar, entortando meu pulso. Mordo o lábio para não gritar de dor. O Magnata chuta meu estômago com o joelho até que meu corpo torna-se mais mole do que gelatina. Ele me pega para cima até que estou no ar com as costas raspando seus chifres. Sua fúria faz com que me jogue no outro lado da sala, o qual acabo quebrando alguns computadores com o impacto.
     Não fico no chão por muito tempo.
     Levanto-me em um pulo, ignorando a dor. A adrenalina toma conta do meu cérebro e só penso em morte.
      Vejo Theodoro vindo para cima, mas sou acertado por um soco de Sandro. Cambaleio para o lado. Com um reflexo rápido, desvio do seu golpe da espada de Lys.
      Eu contra os dois seres mais poderosos dos últimos tempos, os dois homens que mataram a Suprema Samantha e Protetora Lys.
      Você é filho das duas, incentivou as sombras. Juntos até o fim.
     Juntos até o fim, afirmo ao meu poder.
     Sandro avança com a espada por minha esquerda e Theodoro com suas garras pela direita. Os espero chegarem mais perto e abaixo, os deixando se impactar. A espada acaba cortando o braço do Magnata, que ruge de ódio e desconta um soco no amigo deformado.
      Uso essa brecha para pegar uma faca presa em minha cintura e esfaquear Sandro no ombro, que grita de dor e deixa a espada cair. Retiro a faca da sua pele e avanço em Theodoro.
      Meu pai segura meu braço no ar com a faca a dois centímetros de sua testa.
     — Vou matá-lo, Cruel — ameaçou meu pai.
     — Ótimo! Mas antes vou garantir que de hoje você não passa — digo com convicção.
      Dou uma cabeçada no Magnata.
      Nós dois andamos para trás devido ao impacto. Mas eu não tenho tempo de recuperar, pois Sandro vem com tudo para cima de mim como uma avalanche de fúria e músculos.
      Ele me arranha no braço, então nas costas, na barriga. Jorro sangue que suja até meu inimigo. Escorrego devido a poça do meu sangue sobre meus pés.
     Caído no chão, olho para dentro do vidro.
     C.S, Vicente e os gêmeos estão olhando para meus olhos cansados. Não os ouço, mas seus olhares são de pânico por mim. Pouco se importam de estarem pendurados com dois sanguinários pulando atrás de carne fresca.
      Essa luta não está justa.
      Precisamos de soldados, bravejou as Sombras.
      Sandro pega a espada do chão e vem até mim. Ele dá um sorriso diabético e abaixa a espada sem devaneio, perfurando meu estômago.
     Meu grito de dor é interrompido com sangue que sobe por minha garganta e sai como um vulcão em erupção.
      Sandro puxa a espada e crava novamente em mim, no ombro. Puxa novamente e crava perto da caixa torácica.
      Eu estava morrendo. 
      La no fundo, havia duas sombras distantes que se perdiam na dor mental da minha cabeça. Minhas Sombras usavam suas forças para curarem minha carne, mas isso não está sendo suficiente.
      Concentro-me nessas duas sombras. O que ouço são gritos estridentes de animais aterrorizantes que fazem meus ouvidos sangrarem.
      Me ajudem, peço-lhes.
      Theodoro gargalha da minha desgraça. Pisa em meu estômago para vê meu sangue ser mais expelido e dificultar minha passagem de ar.
      — Cruel, você já é um cadáver vivo — ironizou ele. — Acha mesmo que possui forças contra mim?
      — Você... — Não consigo dizer uma palavra sem cuspir sangue ou tossir. Era meu fim.
      Os gritos nos meus ouvidos ficaram mais altos, e eu gritei de dor de ouvi-los. Eram lamentações de algo, um sofrimento extremo. Parecia que eu sentia dores de anos de torturas de mais de cinco seres ao mesmo tempo.
      Sombras, o que vocês estão fazendo?, Grito a pergunta mentalmente.
     Chamando, disseram.
     Chamando quem?
     Eu não sei, foi a resposta delas.
      — Meu ato de misericórdia a você é sua morte, filho — disse Theodoro pegando a espada de Sandro para si. Será ele a me matar. — Vou cuidar bem dos seus amiguinhos.
      Theodoro para a espada no ar quando ouve o abalo estridente do vidro. Todos da sala olham para a cela vidrosa e se assustam.
      Os sanguinários estavam correndo e batendo no vidro desesperadamente, fazendo de tudo para quebrar o vidro. Mas havia algo estranho. Os dois animais pareciam sincronizados, como se entendessem um ao outro, o primeiro pingo de raciocínio depois que enlouqueceram e perderam humanidade.
      — Mas que porra é essa? — perguntou Sandro.
      Esse vidro não irá quebrar. Fora feito com o material mais forte já conhecido do mundo novo. Mas... Olho para a espada de Lys que fora forjada no mundo antigo quando existia poder de essência e magia pura.
      Respiro ofegante e chuto o joelho de Theodoro fortemente. Ele grunhi de dor. Consigo levantar e tomar a espada das mãos dele.
      Em questão de segundos, o cabo da espada esquenta-se e se acende em fogo azul. A espada me reconhece como digno de usar a magia antiga. A magia pura.
      Não perco tempo e giro-a em apenas um golpe contra aquele vidro. O impacto, como uma explosão, jogou todos da sala para a parede do outro lado.
      Por segundos, a sala ficou silenciosa.
      O estalo de vidro se rachando faz com que todos olhassem para a cela vidrosa. E lá estava o vidro completamente rachado.
      A sanguinária fêmea toca delicadamente com o dedo indicador no vidro, e em questão de segundos, o vidro estilha-se no chão.
      Os sanguinários se libertaram de suas prisões.
      Os dois sanguinários no mesmo lugar gritam, expelindo os mesmos sons que ouvi das sombras em meu inconsciente. Após isso, eles atacam.
      O macho vem em minha direção e o jogo para o lado. Ele cai em cima de Sandro e o começa a tacar. As criaturas não se importam com quem esteja na frente, só querem comer e matar.
      Aproveito que meus inimigos estão ocupados e corro para onde meus amigos estão pendurados.
      — Nós tira daqui! — pede Vicente.
      — Sério? Eu estava pensando em deixar vocês aí em cima admirando a vista — debocho.
      — Ele aprendeu comigo isso aí — vangloriou-se Devi.
      Admito que dá respostas irônicas em situações de desespero fora algo que vi muito Devi fazer. Não por deboche. É pelo fato de algo ser tão óbvio que junto com o desespero de sobrevivência vem a ironia.
      Concentro-me nas minhas sombras e as faço trilhar um caminho até às correntes. Como as portas da arena, as correntes se esfarelam, derrubando meus amigos no chão.
      — Eu pensei que havia perdido voc... — Sem esperar que eu terminasse a frase, Vicente me abraçou forte.
      — Eu achei que tinha te perdido de novo, irmão — disse ele com voz de choro.
      Fiquei tanto tempo pensando se eles estariam vivos, que não pensei que eles talvez estivessem pensando em mim. É ainda novo ter pessoas que me... Amam? Gostam de mim? É estranho dizer que sou amado.
      — Oh, caralho — xingou Devi olhando para trás de nós.
      Viro-me para o que eles estavam vendo.
     Sandro e Theodoro conseguiram se refugiar em um tipo de cápsula de vidro. Outro lugar para prender sanguinários. Toda a frota de guarda dos meus aliados e inimigos estão caídos no chão mortos. O problema é que agora as únicas vítimas disponíveis para compor a alimentação dos bichos somos nós.
      Os sanguinários gritam novamente e correm até nós.
      Se não morremos por Theodoro, morreremos pelos sanguinários.
      Na metade do caminho, outro grito agudo terrível é soado. Esse fizeram com que os bichos pararem de correr e se virassem.
       A porta do elevador estava aberta, e Ayla estava lá com seus olhos selvagens e postura predadora.
      Ela viu os sanguinários e não demonstrou nada. Mas Ayla não é burra. Em segundos, ela decifrou quem são os monstros na sua frente.
      Uma filha estava diante dos pais.

Supremo SytonOnde histórias criam vida. Descubra agora