Todos estavam em silêncio, um encarando o outro, até respirar parecia errado; ao menos, o meu respirar estava pesado.
Eu já me via sendo levado de volta ao poço e deixado para o esquecimento. Minha pressão caiu. Cambaleei para trás e sente-me na cama. Apertava minha cabeça, sentindo o sangue escorrer devido as minhas garras saltarem para fora e rasgar minha pele.
— Cruel, está bem? — perguntou Beatriz, o tom preocupado.
Ergui o olhar para os dois na porta, mas minha atenção foi para a figura atrás deles.
Ayla estava lá, tão sigilosa que nem Beatriz ou Leonardo a notaram. Seus olhos vermelhos desejavam sangue e seu estômago precisava de alimento. A sanguinária estava pronta para matar naquele exato momento.
Nada disse, apenas a via. Uma parte de mim queria que Ayla os matassem, e a outra dizia que tê-los mortos seria ter mais complicações.
— Por favor, entrem — pediu Vicente educadamente. — Eu e o Sr. Cruel estávamos conversando sobre os rebeldes, em uma forma de eles não nos perturbarem mais. — Olhou para trás deles com cautela. — Não é preciso derramar sangue agora, temos que pensar e agir de forma mais inteligente do que esse rebeldes.
Ayla captou o duplo sentido nas palavras do irmão. Antes de recuar, seu olhar selvagem demonstrou que não gostou da ideia.
— Nunca tinha visto o rosto de um Espectro — comentou Beatriz. — Não é contra as regras revelar?
— É — respondeu Leonardo secamente. — Posso saber do porquê está sem o capuz?
— Meu líder e eu temos uma lealdade forte — disse Vicente. — Não vejo motivo de o Cruel não saber como é meu rosto, já que sempre estamos juntos.
— Você é leal ao Magnata, não ao Cruel. — Leonardo é perspicaz e inteligente.
— Minha devoção é ao Magnata, mas minha lealdade é ao Cruel. — Eu via o nojo disfarçado do syton em dizer que é devoto ao Theodoro.
— Você disse que não é quem sai por aí contando as coisas ao meu pai — o relembro. — Irá contar sobre isso?
Leonardo tomou tempo para pensar.
— O rosto bonito do seu Espectro não é motivo suficiente para eu relatar algo ao meu Magnata — disse Leonardo, entrando no quarto. — E estamos trabalhando no mesmo lado contra os rebeldes.
— E você, Beatriz, irá me denunciar? — pergunto-lhe.
A resposta da tyfon veio rápida e empolgada, como se já tivesse uma resposta desde toda a vida para esse momento.
— Estou do seu lado, Cruel — respondeu, o olhar rosado em um brilho que antes estava apagado. — Pode confiar em mim.
Mesmo ainda aflito, me deixo relaxar.
Se me traírem, antes de eu ser levado para a tortura, eu os matarei da forma mais cruel possível, mas não tenho opções a não ser confiar.
— O que vieram fazer aqui? — Volto a postura ríspida. — Não se entra em meu quarto sem bater, a não ser que sejam o Magnata. E os dois não são ele.
— Sua nova missão é encontrar os rebeldes e saber o que queria, então pensei que eu poderia ajudar — explicou Beatriz. — Leonardo me mostrou as fotos.
— Beatriz possui conhecimentos que não seja de campo — disse Leonardo. — Ela reconheceu um dos desenhos.
— A figura quadrada se parece com o Núcleo — informou Beatriz, entregando-me a foto. — Talvez seja isso que querem pegar.
Olho para a tyfon de forma penetrante. Beatriz percebeu meu olhar e corou. Geralmente mal a olho, e agora fito-a.
— Sabe algo sobre o Núcleo? — pergunto.
— É um objeto de segurança máxima do Magnata — disse ela, a voz calma de como usa para falar com os ministros e querem que entendam cada palavra. — É um prêmio que o Magnata guarda da sua conquista.
Quero me xingar mentalmente por não ter pensado antes em Beatriz. Ela cuida das diplomacias e acordos comerciais, além da administração de coisas mais importantes da cidade. É claro que Theodoro contaria para ela sobre o Núcleo, já que o objeto deve ser algo de valor e possivelmente algo que induz outras espécies a fecharem acordos com o C.E.N.T.R.O.
— Onde o Núcleo está? — perguntou Vicente, tão curioso quanto eu.
Mesmo com a palavra de Leonardo de não me denunciar, ele continua a fixar a maior parte da sua atenção em Vicente, e o syton sustenta esse desafio.
Quando Vicente descobrir, irá se arrepender de não ter deixado Pressinhas matar Leonardo, disse as Sombras. Cruel, o silêncio as vezes é a maior traição que alguém pode fazer a outra pessoa. Conte a verdade.
Vou deixá-lo descobrir sozinho, digo mentalmente. Assim, ele finalmente me odeia e para de tentar ressuscitar alguém vivo que morreu há muito tempo.
— A localização do Núcleo é algo confidencial — relatou Beatriz. — Mas garanto-lhes que está bem protegido, não precisam se preocupar.
— O que temos que nos preocupar agora é encontrar os rebeldes — disse Leonardo. — O Magnata não quer ter problemas na celebração do dia da Caçada.
— Os fúrias irão vir para a negociação — disse Beatriz. — Se haver conflito no dia, eles podem negar se aliar a causa do Magnata. Não só eles, como outras espécies.
— Por isso não espalharam a notícia da invasão para a população — concluí. — É uma missão sigilosa.
— Exato! — concordou Beatriz.
— Por que não mostra o Núcleo aos fúrias como prova de poder? — sugeriu Vicente. — Tenho certeza que ficarão mais dispostos a firmar parceria.
— Se dermos um jeito nos rebeldes, há mais chance de o Núcleo ser mostrado — Leonardo tomou a fala. — Beatriz informou para mim que o Magnata não quer ter riscos.
— Ele não terá — garantiu Vicente. — Cruel estava me ordenando a encontrar os rebeldes antes de vocês chegarem.
— Vai caçá-los, Espectro? — perguntou Leonardo.
— Vou encontrá-los — garantiu Vicente novamente.
— Devemos trabalhar juntos — disse Beatriz. — Seus outros Espectros também são leais a você.
— Todos eles — concordo. — Por quê?
— Hoje a noite eles podem sair a procura dos rebeldes — sugeriu ela. — Parece que esse seu Espectro sabe como agir. — Apontou para Vicente. — Os demais também devem saber tanto quanto.
— Acho uma boa ideia — concordou Leonardo. — Vamos ver se seu Espectro é tão bom como demonstra ser.
Vicente deu um meio sorriso de lado, aceitando o desafio.
— Posso ir com vocês — digo.
— Ou pode vir comigo — disse Beatriz. — Podemos pensar juntos em algo.
Aceite, pediu as Sombras. Ela pode nos revelar onde o Núcleo está. Assim, nem precisamos esperar mais tempo para sermos livres.
— Tudo bem — aceito o acordo. — Vamos fazer isso dá certo.
Vota e comenta 💖

VOCÊ ESTÁ LENDO
Supremo Syton
FantasyHenrique tinha apenas 10 anos quando sua casa foi tomada e obrigado a ser o que ele nunca quis ser. Tornou-se o homem mais perigoso e temido pelos seus inimigos. Destinado a torturas e obediência ao seu pai, o Magnata, um sádico que o tortura se fi...