Desisti de tentar contar o tempo. Cada segundo é um tormento. Nunca sairei daqui.
Ainda lembro perfeitamente do brilho dos olhos de Maria se apagando e sua cabeça rolando no chão, o estalo do corpo na cerâmica. Meus sonhos me trazem à tona ela viva, e ao acordar, o pesadelo continua.
Eu desisto.
Peço desculpas a Vicente, mas ele precisa ser forte para manter C.S vivo. Estou com fome, sede, machucado, pensamentos suicidas. Eu aceito a derrota.
Eu desisto da vida.
Aceito o fim, sussurrou as Sombras.
Mesmo sem o veneno de Maria, meu corpo e mente cansada mantém as Sombras enfraquecidas. Nós dois já aguentamos demais.
Sento-me devagar, choramingando de dor e tontura. Me escoro na grade da cela e respiro ofegante.
— Você consegue — motivo-me.
Gritando de dor por fazer esforços, vou fazendo com que garras comece a surgir na minha mão direita. Minha testa soa, tanto de febre quanto de esforços, mas lá estavam as garras que me vão me dá paz.
Não sinto remoço quando a coloco na minha garganta, mas a pergunta que vem na minha cabeça me faz refletir a caça de uma resposta: por que não fiz isso antes? Talvez antes eu tivesse esperanças boas de alguém vir por mim, que Vicente puxaria as correntes e me tiraria daqui. Talvez Maria esteja certa. Cruel não matou Henrique. Henrique precisou ser um monstro para suportar o que estava por vir. Cruel é o Henrique.
No fim, a luta foi em vão.
— Vou vê-las de novo, mamães — digo com carinho para a escuridão, pronto para criar algo incrível junto com aquelas que um dia me chamaram de filho.
O que me impede de continuar, são os gritos de pavor que ecoam de cima. Um frio gelado me cauda calafrios, e no fundo, um instinto predador desperta em defensiva. Há um predador maior no mesmo ambiente que eu.
Assusto-me quando um corpo despenca do alto e bate no teto da cela. Em questão de segundos, a cela começa a subir, cada vez mais pra cima, cada segundo me tirando do fundo. Meu coração acelera, as lágrimas começam a se formar nos olhos.
Quando cheguei na borda, eu a vi, e parecia que todo o meu sofrimento foi abraçado.
Ayla puxava a corrente com as próprias mãos, apoiando os pés na borda do poço para ter forças para puxar a cela. A pele escura sangra com vermelho intenso. Seu lindo rosto está concentrado em apenas um objetivo: manter minha prisão no topo do poço.
Seus olhos vermelhos encontra-se com os meus. Suas sombras sussurram no meu ouvido: Te encontrei.
Mal presto atenção em Talis tentando destrancar a fechadura com peças pequenas de ferro, minha atenção estava na sanguinária.
— Consegui! — vangloriou-se o menino, abrindo a cela. — Venha, está livre agora.
Dou um passo para fora, ficando na borda do poço. Acaricio a cabeça de Talis. Ele me abraça com força, como se eu fosse seu parente que esteve fora e agora retornou. O grande estrondo da cela batendo no fundo do poço me causa susto, mas era apenas Ayla soltando as correntes sabendo que não me encontro mais dentro.
Talis me ajuda a chegar no chão. Meus pés falham, mas o menino consegue forças de me manter em pé, servindo-se de apoio. Perto o suficiente daquela que transborda poder, me desvencilho de Talis e agarro Ayla em um abraço forte. Permito que ela veja meu sofrimento, e por esse momento, não me sinto alguém fraco; apenas alguém que passou por tanta coisa que agora só precisa de um abraço de alguém que te oferece segurança.
— Pressinhas — digo seu apelido como uma satisfação que nunca pensei que teria. Tudo isso ao saber que ela estar aqui mais uma vez.
Esperei que ela me empurrasse e me xingasse por chamá-la assim, mas invés disso, Ayla entorna seus braços ao redor de mim, firmando o abraço.
— Eu tô aqui agora — disse ela com cuidado, sabendo o poder que suas palavras possuem ao pronunciadas em voz alta. — Vou fazê-lo pagar por ter tocado nos meus amigos.
Sua indignação me fez lembrar de uma pergunta que Vicente pediu que eu perguntasse quando tivesse chance a ela.
— Somos amigos, Pressinhas?
Ayla respondeu sem excitar:
— Somos amigos de sangue. Vou te mostrar o poder disso, meu amigo.
Não entendo o que ela diz, apenas aceito sua ajuda em me arrastar para fora do calabouço, deixando para trás o poço que por muito tempo se fez de lar para meus piores pesadelos.
Havia rebeldes do F.U.N.D.O nos esperando lá fora sobre a luz lunar e o céu nublado de fumaça das fábricas. Não eram soldados, eram os moradores da caverna com vários tipos de armas nas mãos, desde uma pistola à um taco. Os soldados poderosos, como sytons e fúrias, vieram para o primeiro enfrentaremos, e Theodoro os deterá.
Ao me verem, abrem caminho para Ayla passar junto a mim. Não existe pena nos seus olhares, apenas tristeza. Eles se solidarizam com meu sofrimento. Talvez já saibam sobre a morte de Maria.
Eu... bom, eu apenas me deixo ser guiado e protegido pela sanguinária que jurei odiar para sempre.

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Supremo Syton
FantasiaHenrique tinha apenas 10 anos quando sua casa foi tomada e obrigado a ser o que ele nunca quis ser. Tornou-se o homem mais perigoso e temido pelos seus inimigos. Destinado a torturas e obediência ao seu pai, o Magnata, um sádico que o tortura se fi...