— Henrique!
Eu ouvia me chamarem.
No breu infinito que consumia minha visão, eu via Gabriel, Samantha e Lys sentadas em uma roda de uma fogueira. Elas estavam rindo e se divertindo.
Chorei ao vê-las lá tão juntas e alegres.
Meu coração saltitou quando vejo que Fábio chegou animado com galhos para continuar com o fogo acesso enquanto fazia algum tipo de sopa, mas o que fez meu coração vibrar mais foi quando vi Maria com seu leque se abanando enquanto lia em voz alta seu livro para as meninas que riem com tanta criatividade em matar um homem.
Meus amores estão juntos.
Quero estar com elas. Tento andar até lá, mas meus pés estão engolidos em sombras como areia movediça. Gritar não adianta pois elas não me escutam.
Eu sabia que mesmo as amando, esse não é o momento de estar com elas. Desejo a todo segundo voltar para C.S, os gêmeos, Vicente e Ayla. Eles são minha família.
— Encontrei ele! — soou uma voz distante.
Aos poucos, tudo ia se dissolvendo e ficando mais claro.Acordo com o céu azul e o sol queimando minha pele.
Vicente tomou o lugar do sol e me mostrou sua face. Estava sorridente ao me vê com vida, embora possua rasgos e a cara machucada.
— Dá pra você sair da minha visão — brinco com ele. — Ter o sol me queimando é melhor do que vê tua cara acabada.
Ele ri.
— Ter quase morrido aumentou seu senso de humor.
— Ele aprendeu comigo — vangloriou-se Devi novamente, me dando a mão e me puxando para cima. — Bom vê-lo com vida, Henrique.
Olho para ele e por algum motivo fico emocionado. Tudo agora parece me deixar mais sensível. O puxo para mim e o abraço. Devi achou estranho de início, mas me abraçou também pois até ele precisava disso.
— Aposto 50 sementes de girassol que o elevador cai com três pessoas — digo em divertimento, o que ocasiona risos nele e felicidade tremenda.
A primeira vez que me pediu para apostar, não estava disposto a ter esse tipo de afeto com ele. Hoje tudo mudou.
— Eu não ganho abraço também? — questionou Davi, rindo.
Sorri.
Pela primeira vez em muito tempo sorri verdadeiramente e sem medo de ser feliz. Ninguém mais me vigia. Ninguém mais irá me prender.
A Noite Sem Fim finalmente acabou.
Estou livre.
Corro até Davi e o abraço. Vicente finge ciúmes dizendo que me conheceu primeiro e não recebe nada. Então tive que o abraçar. Logo em seguida estou nos braços de C.S.
Meu coração procurava uma certa garota para um abraço, mas ela se encontra no alto dos entulhos vendo o horizonte. Ainda atenta a ameaças.
Vou até ela, sozinho. Os demais sabiam que eu precisava de um tempo com Ayla.
— Suponho que você não quer um abraço — digo me pondo ao seu lado.
— Com a explosão, os soldados furtrucks já estão vindo até nós — relatou ela. Uma verdade. — Não podemos voltar para o F.U.N.D.O ainda. Os poucos dos aliados que nos restaram precisam sair do C.E.N.T.RO. Os xags já seguiram Row para um lugar seguro deles.
— Então sobra o Ex.Ter.N.O.
Ayla assente.
— Sandro escapou e a Algodão Doce já toma posse do C.E.N.T.R.O. — Ayla olha para mim. — Temos que lutar.
— Nossa luta por hoje acabou — informo. — Não tenho forças e precisamos de um plano. A não ser que você me dê forças.
— Quer o meu sangue para fechar as cicatrizes?
— Não — digo sem devaneio. — Mas bem que você poderia me dá um beijo pra vê o que acontece.
Ayla vira o rosto, não esperando essa resposta minha.
— Está tão machucado que nem um beijo meu aguentaria — afrontou ela.
Minhas Sombras se atiçaram.
— Tem razão — não disfarço o interesse, mesmo que ela possa ou não estar zoando comigo. É difícil decifrá-la, mas vou aprender a lê-la. — Quando eu e você nos beijarmos, provavelmente vamos parar em uma cama. Então quero estar bem para quando eu for te foder.
Ayla deixa um riso de lado, não de timidez, e sim da minha audácia.
— Finalmente vou te mostrar o que minhas pressinhas podem fazer.
Rimos juntos.
A frase de Ayla há duplo sentido, e nós fez lembrar de quando estávamos tentando nós matar. Ou Ayla irá tirar meu sangue por inteiro até eu ser uma múmia seca, ou irá me dá o maior dos prazeres que eu poderia sentir.
— Pressinhas, desculpe pelos seus pais — digo após um tempo.
Ayla dá de ombros.
— Aquelas coisas não eram meus pais — disse ela. — C.S é o meu pai.
— Não está com raiva por terem os prendidos e serem usados para testes?
— Muitos dizem que somos frios por não sentirmos nada — refletiu ela, o olhar fixo nos entulhos do prédio como se quisesse vê os sanguinários que morreram nos escombros. — Mas estão errados.
— Eles estão. — Concordo com ela.
— Não somos frios por sentir de menos. Somos frios por sentirmos demais.
Pressinhas responde minha pergunta. Ela não sabe o que sentir em relação a tudo isso, por isso se fecha em um vazio que só ela é capaz de ouvi os gritos. Invés de machucar quem ama, ela se afasta. A entendo por eu desde os meus dez anos viver rodeado de sentimentos, e os prender para mim.
Agarro a mão de Ayla e a perto na minha.
— Quando estiver com raiva, ou sentir medo, pode vir até mim. Seja para me bater ou abraçar. Quero ser aquele que pode confiar e abaixar a guarda. — Acaricio sua bochecha. — Vou me tornar o homem mais forte do mundo só pra te acolher. Porque sem sombras de dúvidas, você a mulher mais poderosa que conheço e te entrego tudo que eu sou.
— Você tem cheiro de casa — Pressinhas volta a dizer o que me disse na caverna.
— Você é o meu lar, Ayla — confesso. — O lugar onde posso descansar.
Ela me abraça apertado.
Nosso momento de entendimento havia acabado segundos depois.
Dali já via os carros pretos dos furtrucks chegando. Mesmo que eu seja o supremo deles, não vão me seguir. A cidade é de Sandro e Beatriz.
No céu, distante de nós, uma forte luz começa a surgir. Parecia uma estrela caindo.
As espécies do espaço estão descendo.
Theodoro pode estar certo. Que eles querem o mundo para reconstruir e pra isso distinguir todas as raças como baratas. Mas só há um problema nesse plano todo deles: é que minha família habita esse planeta.
No momento para mim não vale a pena salvar milhões de espécies, mas vale a pena salvar apenas cinco seres. Nem que isso eu tenha que me tornar dono do mundo.
E eu me tornarei.
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Supremo Syton
FantasyHenrique tinha apenas 10 anos quando sua casa foi tomada e obrigado a ser o que ele nunca quis ser. Tornou-se o homem mais perigoso e temido pelos seus inimigos. Destinado a torturas e obediência ao seu pai, o Magnata, um sádico que o tortura se fi...