Pai e filho

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Fora uma farsa todo esse tempo.
     Samantha enganou a todos para proteger o filho. Ela fez com que todos ainda acreditassem que o Núcleo contia a supremacia sanguinária. Então todos aqueles testes que fizeram em mim quando criança fora para prender novamente as Sombras no Núcleo.
      Eu era pequeno demais para lembrar do que ocorreu.
      Minhas sombras no interior ficaram confusas. Até mesmo elas não sabiam que vieram de um Supremo. Por isso, tão vividas em mim: não nasci com elas. Diferente de Ayla que desde seu nascimento e características de sua espécie, as sombras são apenas seu poder que pode controlar sem questionamentos.
      Eu tinha apenas cinco segundos para fazer a maior decisão da minha vida.
      Carcereiro, sussurrou as Sombras. Irá me prender no Núcleo novamente?
      Levanto-me do chão segurando a caixa fortemente, deixando meus dedos vermelhos e com dores.
      Quatro segundos, era o que eu tinha.
      Não suportaria mais herdar uma espécie extinta e sentenciada a morte por todo o planeta.
      Dois segundos.
      Minha decisão veio no segundo seguinte.
      Não sou mais seu Carcereiro, digo fielmente e aceitando quem eu sou. O que sempre fui. Eu e você somos um só agora. E ambos nunca mais seremos presos.
      Um segundo.
      Com toda a minha força, jogo a caixa no chão que se estilhaça com farpas, deixando a mostra o Núcleo negro: uma prisão vazia. As Sombras agitam-se em mim e se acumulam em poder obscuro em minha perna direita.
      — Não! — gritou Theodoro.
      Com apenas um pisar poderoso que contia nessa parte do meu corpo, o Núcleo quebra. O impacto do poder fora tão grande que foi como ter sofrido uma explosão, jogando todos para os lados.
      Agora não existe mais prisões no mundo que me prenda.
      O prédio começou a desmoronar, meus amigos e inimigos caídos no chão tentando se levantar, enquanto eu continuava de pé no mesmo lugar.
      — Saiam todos! — grito para meus amigos.
      Eles se entreolharam entre si.
      Sandro usou a distração para escapar, mas Theodoro não é covarde para fugir e não terminar o que começou. Meus amigos todos estavam prontos para batalhar comigo.
      Nego com a cabeça para eles. Sinalizo a saída.
      — Ele é meu! — informo de forma rude e seca.
      Por toda a minha vida, eu sempre esperei por esse momento. Ser livre e ter a chance de enfrentar meu pai.
       Davi e Vicente puxavam Ayla para seguirem eles. Daqui eu já ouvia Devi e C.S na saída gritando para que a gente saísse do prédio. Quando todos se foram, eu finalmente ataquei.
      Os escombros e o desmoronamento dificultava minha luta com o Magnata. Mas lá estávamos pai e filho juntos ao mesmo proposito: nós matar.
      — Ninguém nunca irá aceitar você como líder — acusou ele, me pegando pelos cabelos e puxando para que eu ficasse com a cabeça erguida para ele debochar de mim. — Eu e você somos monstros.
      Não nego o seu dizer.
      Eu lutava apenas com força e agilidade. Não me permiti utilizar as Sombras ao meu favor. Quero vencê-lo sem poderes.
      — Um monstro assusta pessoas inocentes — digo, dando-lhe uma cotovelada e o fazendo me soltar. — Um monstro maior ainda assusta os monstros como você daqueles que não conseguem se defender.
      — Outros virão atrás de você — afirmou ele. — O que tem, muitos anseiam em ter. Eu te protegi dos monstros maiores que querem te matar.
      — Eu deveria ser grato por isso? — Debocho. — Obrigado por me torturar por 14 anos. Tenho muita sorte de tê-lo como pai.
      — Samantha o criaria como um menino mimado e sem visão de força que realmente possui. Já eu te mostrei o que consegue fazer para sobreviver e se proteger — continuava ele. — Eles querem tomar tudo de volta e reconstruir o mundo do zero, e não querem mais as espécies do C/E/F/F habitando esse lugar. Vão massacrar todos que vivem nesse mundo e habitar novos.
      — Quem?
      — Os de cima estão descendo, filho — avisou, a voz tão grave que dava para vê a verdade estampada em seu semblante. — Tínhamos uma chance com o Núcleo, pois era um meio de ameaçá-los de não vir. Mas tudo não passava de uma farsa para eles. Eu sei que o poder sombrio reina em você, por isso te fiz o homem mais forte do que alguém poderia tornar. E agora com o Núcleo quebrado, eles virão.
      — Como sabe disso? — questiono. — Você queria Ayla.
      — Queria ela para tirarem o foco de você e colocarem nela. Querendo ou não, ela é uma sanguinária, basta apenas olhar para ela. Os de cima acreditam que Ayla possa ser uma portadora do poder Supremo, e a caçam dia e noite por isso. Mas já você não tem nada de sanguinário, basta esconder as Sombras.
      — Não... Não acredito em você. — Eu estava em choque.
      — Lys acreditava que você poderia juntar o mundo em apenas um propósito. — Theodoro cuspiu sangue. — Acha que é abençoado por todas as supremacias que herda? Tudo isso é um fardo. Mas tanto poder em um homem que não sabe usar tornar um poder inútil. Você, filho, é a pessoa mais poderosa que temos hoje contra aqueles que querem destruição em massa. E você, filho, é a mesma pessoa que não sabe usar um terço do que possui.
      Minha cabeça estava doendo e meu corpo exausto.
      — E só me conta tudo isso agora.
     — Junte-se a mim contra o povo do céu — pediu Theodoro, estirando os braços a espera de um abraço. — Nunca mais será torturado. Eu e você podemos fazer isso. Juntos.
      Reflito sobre.
      Eu contra o céu conseguiria manter minha terra salva? Não só apenas meu povo, e sim todas as espécies que aqui habitam? Tudo isso me assusta pra caralho.
      Caminho até meu pai e fiz algo que nunca na vida pensei que um dia faria.
      Eu o abraço.
      Ouvi seu coração bater e seus músculos entorno de mim me prendiam em aconchego. Theodoro nunca experimentou a sessão de ter o filho nos braços, e sinto sua área relaxar em conforto e seus olhos se encherem de lágrimas.
      Mesmo depois de tudo, ele me ama.
      — Capítulo 26, parágrafo 12 — falo para meu pai.
      — O que acabou de dizer? — perguntou Theodoro confuso.
      — Maria escreveu um livro sobre várias formas de matar um homem — o relembro. — Eu o li antes de vir e nunca pensei que Maria pudesse ser poética. E no capítulo 26, no parágrafo 12, ela escreveu que matar um homem após ele se sentir especial, é como destruí-lo em segundos na dor mais profunda de sentimentos e o arrancar a vida com ele pensando em como foi enganado.
      — Filh...
      Derrubo Theodoro no chão com um soco e um empurrão. Com ele deitado, pressiono meu pé em seu estômago o tirando o ar e puxo com força um de seus chifres da cabeça até o arrancar e ouvir o Magnata gritar em desespero e agonia de dor.
      Os chifres para um furtruck é símbolo de força. Uma vez tirando ele, demonstra o quão fraco você é em não consegui o manter na cabeça.
      Sento no estômago de Theodoro e fixo meu olhar no dele. 
      — Eu falei que te mataria primeiro — esbravejo com ódio.
      — Seus pecados vão te seguir pelo resto da vida — amaldiçoou ele. — Eu e você somos iguais. Monstros.
      — Ótimo! — celebro. — Te vejo no inferno, pai.
      Finco o chifre no meio da sua testa, o matando de boca aberta, uma última palavra que nunca será pronunciada.
     Respiro ofegante e olho para cima gritando de alívio, angústia e dor.
     Theodoro finalmente havia morrido.
      Seu legado já me assombrava na costela. E eu gritava enquanto a marca da supremacia furtruck era tatuada e passada para o herdeiro: eu.
      Eram três rasgos como se tivessem sido feitos com garras, dentro delas saiam pássaros negros voando até minha outra tatuagem de Supremo atrás do pescoço. Eu sentia elas se conectando e se fazendo. A tatuagem do Supremo Syton, que antes era apenas duas asas, começa a criar no meio delas um corvo, dando a impressão do pássaro estando de asas abertas. As sombras estavam em cada pássaro, como se o bater de asas dissolvesse um pouco de suas penas escuras em nevoeiro.
      E ainda gritando, o prédio desaba por completo em cima de mim.

Supremo SytonOnde histórias criam vida. Descubra agora