O professor

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Neste capítulo, vocês vão conhecer um pouco do passado de um dos personagens principais... E o começo da caçada.

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Val e Rafa corriam pelas ruas vazias do bairro da Graça, silenciosas o suficiente para que até mesmo se caísse uma pluma, um ouvido leve escutaria. Porém, a dupla corria descalça, os passos leves e rápidos de quem fazia aquilo há muito tempo.

Rafa era bom de ideias e mais forte; Val, mais rápido.

O segundo estava desesperado, tanto que mal se importou em seguir por uma rua transversal, descendo uma ladeira, que dava para uma rua sem saída, ainda em um local alto. Ao longe, se não estivesse tão desesperdo por uma entrada, um matagal, ele poderia ver as luzes da noite refletindo ligeiramente na praia da Barra, e até mesmo um ponto iluminado, o morro do Cristo. Mas a fissura era maior que tudo.

Rafa precisava comer; Val precisava cheirar.

Encontrou, por fim, um terreno baldio separado por uma grade, onde uma placa indicava que em breve seria um prédio elegante de apartamentos, uma habitação que nenhum dos dois tinha dinheiro ou condições para adquirir. Eram dois rapazes de 18, 19 anos, que não tinham mais perspectivas. Rafa até poderia ter, se uma tragédia não tivesse levado a única pessoa que importava em sua vida. Val não tinha ninguém, na verdade, ele nunca teve.

Ao perceber que o matagal levava até algumas árvores frondosas, que separavam o terreno de outro espaço, uma casa de família, cujo muro estava em manutenção - e assim, era possível invadir o espaço - um ligeiro sorriso apareceu no rosto de Val, que foi mais rápido. Aquilo assustou até mesmo Rafa que, para evitar que a dupla fosse descoberta por causa da volúpia do parceiro, tentou gritar, mas entre sussurros - o que era impossível.

Assoviar também era impossível; conformato, Rafa seguiu em frente, percebendo que Val já se encontrava nos fundos de uma residência ampla, onde era possível ver uma piscina imensa, bem cuidada, além de mesas e cadeiras de vime, indicando que o lugar era habitado por uma pessoa de posses. Muitas posses.

Os dois amigos se entreolharam. Se conseguissem arrombar a porta, roubariam o suficiente para garantir meses sem precisar de nada. Rafa encontraria um lugar para morar, uma pensão, um buraco qualquer, no lugar mais barato que encontrasse - o Calabar era a primeira opção. Compraria uma guia de picolé pra vender na praia. De alguma forma, seria capaz de sobreviver, e não correr riscos roubando casas alheias, batendo carteira nas ruas do centro. A cara dele até devia estar marcada.

Mas a preocupação dele era com seu amigo. Val era diferente: ele não pensava em outra coisa a não ser a maldita cola. A droga que estava destruindo a mente do rapaz, e em breve, se não tivesse controle, Val faria coisas piores. Se ele encontrasse uma arma, não continuaria mais sua amizade com ele. Armas eram problema muito pior. Armas levavam a uma morte mais certa do que qualquer outra coisa.

Caralho, a porta tá aberta, man! - ouviu a voz rasgante de Val sussurrar, um sorriso aberto, mas não de felicidade singela, e sim por causa da vontade primitiva da droga, surgiu em seu rosto magro e espinhento.

Vai com calma, afro, vai com calma porque pode ser esquema...

Porra niúma, man, playboy deixou aberto. Deu mole, a gente pega tudo!

Val entrou primeiro, e o silêncio que os dois prezaram tanto desde o começo de suas corridas pelos bairros mais ricos da cidade se findou em alguns segundos.

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