Epílogo

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Os Martinez sempre foram pessoas discretas, especialmente porque as tragédias que os afetaram fizeram com que a abordagem na família em torno de presenças sociais e assuntos públicos fosse cautelosa e calculada. A confusão em torno da morte de Estevão Martinez e tudo o que veio depois fez com que Ramón e Stéfano decidissem de maneira conjunta de que forma poderiam proteger e cuidar das pessoas que eles mais amavam.

Naquela tarde, o matrimônio de Ramón e Marieta ocorreu com o mínimo possível de convidados, mantendo a cautela que estava nos planos de tio e sobrinho. Os dois idosos esperaram um pouco para finalmente trocar alianças, pois não queriam dois casamentos seguidos; e Marieta queria aproveitar a oportunidade para, antes de ser a futura senhora Martinez, ser apenas a bisavó.

Entre os convidados da pequena festa de casamento estavam um bebê de colo, um menino muito animado, que tinha uma chupeta na boca na cor azul e parecia muito mais envolvido em segurar o pedaço de tecido da roupa de sua mãe do que com qualquer outra coisa. Rafael era o filho de Sarah e criado pelos três pais igualmente. Um menino cujos cabelos pretos bem colados a cabeça e a pele negra em tons claros não indicava o real parentesco do garoto, apenas Sarah tinha a informação: por questões médicas, caso algum transplante fosse necessário, um exame de DNA foi feito quando o menino nasceu; mas apenas Sarah teve acesso ao resultado e guardou a informação para si.

Nem mesmo os próprios Valentim, Ralf e Stéfano tinham interesse em saber. Eles apenas queriam que o menino soubesse que tinha pais e que todos eles o amavam igualmente.

Mesmo com o trio se unindo em orgulho de serem pais do pequeno, eles também eram super protetores em relação a tudo que concernia Rafael – choros, birras, a vontade de comer, os primeiros movimentos... Dos três, Ralf era o que se sentia mais próximo do menino, graças ao nome de Rafael, porém, o garoto sorria e abraçava os três pais com o mesmo carinho.

- Eu vou levar nosso filho lá para o espaço infantil, porque só dorme em meu colo.

- Na verdade, não, ele só dorme porque você leva ele mais rápido para o berço. - retrucou Valentim, revirando os olhos. - Na verdade, ele dorme rápido comigo, porque ele ama o som de minha voz contando histórias.

- O menino só faz chorar quando ouve sua voz.- foi a vez de Stéfano retrucar, balançando a cabeça de um lado a outro negativamente. - Rafael gosta de quando eu canto uma canção de ninar bastante própria, e ele dorme naturalmente. Eu tenho jeito com crianças, vocês somente se esforçam.

- Quem estava lendo um livro sobre como trocar a fralda do bebê? Não lembro de ter sido eu.

- Quem vai levar Rafa pra dormir no berço sou eu, essa disputa vai deixar o menino inquieto pra descansar, não é meu amorzinho? - comentou Sarah, desviando o olhar dos três maridos e focando no pequeno, que estendeu os bracinhos dobrados, gordinhos, em busca da mãe, que o aceitou, balançando Rafael no colo enquanto ele parecia mesmerizado, olhando fixamente para a cozinheira.

- Quem vai fazer meu príncipe dormir sou eu, a dinda! - Roberta apareceu de braços erguidos, alegre, fazendo caretas na direção de Rafael, não sem antes beijar o rosto da amiga.

O menino, assim que notou as caras e bocas da sócia de Sarah, riu alto, as bochechas proeminentes.

- Impressionante como ele adora você, Beta!

- Claro, eu sou a melhor madrinha que ele tem! E em breve, muito em breve você vai ter uma criança para brincar junto, hein, Rafa? Que tal? Vocês vão brincar de fazer pão com ovo! Serão cozinheirinhos para herdar o nosso negócio!

- Já está grávida, Beta? Por que não me contou?

- Ainda não, amiga, mas eu e Don estamos treinando... – balançou os ombros, empolgada. – Tenho de dizer isso porque estamos ao lado de crianças pequenas.

Três DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora