Outro intensivo

513 61 18
                                    

para bom entendedor.

---

As noites em Salvador, para quem as frequentava, eram extremamente animadas.

O motivo era bastante simples: a variedade de diversões disponíveis para quem gostava de determinados gêneros. Se você curtia um partido alto, tinha sempre um show de samba esperando. Para aqueles que eram mais partidários do pagodão, sempre tinha um ensaio da banda ou do cantor do momento. Já para aqueles mais pop rock, boa parte dos points ficava na região do Rio Vermelho.

Porém, a nova casa de shows na Pituba prometia ser o novo ponto badalado da juventude classe média de Salvador. As bandas que tocavam ali eram majoritariamente artistas que se associavam bastante com o pop rock internacional e nacional – este último com uma ou outra referência vintage do pop rock brasileiro dos anos 80.

- Meio... barulhento, né? – uma voz suave e fina tentou aumentar o volume da voz para ser ouvida, enquanto levava os dedos aos ouvidos.

- Claro que é barulhento, Sarah! A gente tá numa casa de shows fechada, e tem um palco ali perto! Agora até tá ok porque é o DJ, o negócio vai ficar bom mesmo quando a banda tocar.

Sarah parecia tensa dentro da casa de shows, que ainda não estava completamente cheia. Ela olhava para todos os lados em busca de Ralf, que estaria ali para acompanhá-la durante a noite.

Fingia se importar com a música que tocava, segurando a barra do vestido longo, marrom com estampas coloridas, sinuosas, de curvas redondas, que davam um efeito psicodélico. Batia o pé, protegido pela bota ¾, tentando seguir o ritmo da música de alguma cantora pop estadunidense que não conhecia, mas a jovem conseguia reconhecer algumas palavras, como "pretty", "make-up" e "dream".

O que talvez a deixasse mais tensa, em especial porque ela não estaria sozinha – encontrava-se ao lado de sua amiga Roberta – era o fato de que a ida à casa de shows estava funcionando como um encontro na verdade, um encontro casual entre ela e o produtor. Para completar, havia uma terceira pessoa no local que não poderia saber nunca que ela estava saindo com Ralf.

Evandro Donato, que estava com o braço envolto no ombro da namorada, trocando alguns beijos e carinhos no pescoço, parou um instante para conversar com a cozinheira.

- Não tem nenhum problema você ficar sozinha aqui, não é?

- Não, eu estou bem. O senhor não precisa se preocupar.

- Sarinha não é besta, além do mais, esse show não é de uma banda que é produzida por seu Ralf, que é patrão de Sarah? Então daqui a pouco ele aparece aqui e faz companhia pra ela, Dom, não se preocupe!

O advogado não percebeu que Roberta piscou o olho na direção da amiga. A ideia era dizer a ela que Sarah estaria totalmente coberta, caso o produtor aparecesse.

Sarah mexeu a armação dos óculos e respirou fundo, meneando a cabeça em concordância com a amiga e se colocou um pouco distante do casal. Não queria servir de vela para a amiga e o advogado, e ficou um pouco escondida entre o público, observando as pessoas dançando ao som das músicas que tocavam – faixas internacionais, cujas palavras ela apenas entendia, mas as frases completas ainda eram um mistério para a jovem – e de tanto se esconder, tentar se misturar com o público, Sarah acabou se batendo com outra pessoa. Alguém que ela não esperava encontrar no evento.

- Sarah! Que surpresa agradável!

Era Valentim Borba, bem diferente do comportamento habitual e do temperamento mais distante que ele sempre se apresentava. Estava com sua bengala prateada inseparável, que casava bem com a roupa em tons escuros, cuja cor real ela não sabia descrever por causa do jogo de luz dentro da casa de shows.

Três DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora