O combinado foi seguido: Sarah foi a primeira a sair do escritório, as pernas visivelmente bambas, o corpo se segurando na parede, uma das mãos se segurando para não cair. O famigerado livro "Conquistando a Preceptora" estava agarrado ao peito, e ela não sabia o que dizer ou o que pensar.
O que monopolizava seus pensamentos era: Sarah havia gostado. Não apenas isso: cada sensação, toque, agora gravados, impressos em seu corpo para que ela jamais se esquecesse. Ela se encantou sobre como os três foram capazes de compreender tão bem o que Sarah estava sentindo, mas talvez não tinha a habilidade de falar de maneira direta. Havia um motivo: Ralf, Valentim e Stéfano eram experientes, vividos, conheciam os segredos mais profundos da vida e das pessoas.
E estavam dispostos a ensiná-la... Sarah estava disposta a aprender.
Ao chegar em casa, encontrou a avó descansando, cochilando no sofá de casa e a TV ligada passando o resumo da novela da tarde. Não queria revelar o que realmente aconteceu à senhora. Ainda precisava descobrir de que maneira explicar à dona Marieta que ela tinha atração por três homens.
Como seria a reação da idosa? Conhecia a natureza leve e sem dilemas de sua avó; mas a reação dela poderia ser um pouco menos flexível. Por isso, o mental de Sarah quando o assunto era confessar seus sentimentos era pura dúvida e confusão.
Foi tomar um banho para relaxar.
Enquanto passava as mãos ensaboadas pelo corpo, tentando relaxar, viu-se tocando ligeiramente nos bicos dos seios. Era inocente, mas os bicos ficaram duros, e Sarah parou, em silêncio, ouvindo o som da própria respiração. Estava sensível demais, todo o corpo ainda clemente, saudoso do que ocorrera no escritório, e qualquer pequeno movimento era fogo dentro de si.
Será que tudo se converteria em fogo? Será que ela agora seria movida pelo desejo, por completo?
A sensação que segurou por um instante ("meu Deus... A necessidade em ter este toque é tão desesperada assim?") retornou na hora de dormir. O desejo misturado com a velha sensação do passado, dos sentimentos que a terapia discutiu e desconstruiu, mas a culpa cristã, após a adrenalina, voltou com força.
"Meu Deus..." ela mal tocou em sim mesma após colocar um vestido longo, solto, e se proteger dos próprios dedos com uma echarpe. Ligou o ar-condicionado na temperatura mais baixa e ao invés de buscar o livro de sempre, preferiu ignorar tanto os volumes empilhados num banco ao lado da cama quanto o Kindle, totalmente carregado naquelas horas.
"Um erro... Preciso... Não posso... Não deveria me deixar levar por... São três homens... Ao mesmo tempo, é um p-pecado... Uma abominação...". As lágrimas caíram pelo rosto sem pedir licença, e Sarah se aninhou por d debaixo das cobertas, a culpa do passado, das palavras de sua mãe, de seu pai, pareciam ter retornado à mente após tanto tempo em silêncio.
"Prostituta."
"Jezebel."
"Mulheres devem proteger o corpo, elas provocam o olhar dos homens."
"Homens não gostam de mulheres que os olham no olho, isso é coisa de mulher perdida, desviada."
- Eu... Eu não quero ser desviada... Não... Não quero... Desculpa, mamãe... Eu... – a jovem soluçava enquanto sua voz sussurrada, vacilante, buscou conforto na voz de sua mãe para se purgar do supremo pecado.
Contudo, o timbre neutro da terapeuta entrou no meio do delírio febril de Sarah, cuja temperatura corporal estava alta, a tal ponto que ela tremia debaixo do edredom, e parecia disputar espaço e dominância com a de Adriana.
"Você não está errada em sentir o que sente, Sarah... O mundo é muito maior do que o espaço confinado onde vivia... Tenha a oportunidade de viver todas as emoções possíveis e saber o que gosta ou não."
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Três Desejos
RomanceValentim, Ralf e Stéfano. Três homens de personalidades distintas, e que muitas vezes rivalizam entre si, mas com duas coisas em comum: o mentor dos dois primeiros e pai do terceiro, Estêvão Martinez; e um pedido estranho do patriarca quando este é...