A natureza da morte

480 86 20
                                    

Este capítulo não vai terminar como começou.

---

Sarah Oliveira da Silva pensou estar vivendo um sonho. Um sonho em que o trânsito era ignorado pelo carro onde ela estava, sua respiração se encontrava confusa e ela não era acalmada por quem a acompanhava dentro do veículo — porque as pessoas lá dentro não permitiam que ela sentisse nada mais do que um primitivo estado de prazer.

Algo metálico movia sua perna, fazendo com que ela espalhasse mais, separando as coxas e deixando-as abertas no meio da cama. Ela conseguia sentir o toque de três mãos: uma aproximando-se do seu pescoço, tocando sua nuca até puxar a extensão dos seus cabelos por trás, com força, porém com a gentileza que fazia com que Sarah desse um ligeiro gemido.

A segunda mão parecia entrar pelo tecido da camisola, chegando perigosamente ao vale entre os seios, circulando a curva de um deles até se aproximar do bico, que ela sentia estar duro. Nunca percebera isso em seu corpo antes.

Já a terceira subia por dentro da coxa, chegando bem perto da...

- Tudo isso ocorreu dentro do sonho.

- Sim, doutora. Tudo isso depois que... eu voltei para casa no mesmo carro que os meus patrões.

- Acredito que você tenha gostado. Esse sonho ficou em sua mente, então você não esqueceu a sua volta de carro com eles.

- Na verdade, eu não consigo olhar direito para os rostos deles... O que eu sei é que a minha mente está cheia... cheia de recordações que... É como se cada toque, e cada olhar naquele carro fosse apenas o começo daquilo que eu sonhei.

- Algo que você queria, tanto é que o sonho me parece a conclusão de algo que você sentiu dentro do carro. Você consegue estabelecer que você gozou lá dentro e eles não perceberam.

- Ainda bem que eles não perceberam. Já estou morrendo de vergonha em ouvir a senhora falando, imagina se eles tivessem notado.

A visita à terapeuta foi em uma data incomum para Sarah. As consultas eram marcadas sempre no meio da semana; mas ela pediu uma antecipação por estar muito nervosa com o ocorrido no Rio Vermelho. Por sorte, havia horário na própria segunda, então quanto mais cedo ela pudesse confessar os seus sentimentos e sensações à profissional, melhor para Sarah lidar com a próxima parte.

Era tranquilo para a jovem confessar o que estava passando diante da terapeuta. Coisas que talvez ela não conseguisse conversar com a avó, mas que diante daquela mulher tranquila e que parecia olhar para dentro de sua alma, Sarah se sentia mais confortável.

Em especial porque ela parecia saber exatamente o que a cozinheira estava pensando:

- No fim das contas, você sente atração pelos três: física, interesse sexual...

A forma direta como a terapeuta falou surpreendeu Sarah, que ficou boquiaberta e piscando os olhos repetidamente.

- Eu... nunca imaginei que isso podia ter sido dito com tamanha...

- Franqueza? É importante você também lidar com seus sentimentos com franqueza. Eu sei que pra muita gente, sentir atração por três pessoas ao mesmo tempo pode parecer um absurdo, mas para outras pessoas é natural. Talvez você seja como essas pessoas. Também é importante que você descubra também seus gostos, se esse sentimento é apenas uma atração sexual ou você tem interesses amorosos também. E sim: eu acho que vale a pena você trocar essas idéias como alguém de sua maior confiança, como sua avó.

- Mas... eu não quero falar pra ela que...

- Você não precisa ser direta. Faça uma pergunta que tangencia a situação. Sua vó vai te ajudar muito, e não fique surpresa se ela lidar com a sua pergunta de uma forma mais tranquila do que imagina. - sorriu.

Três DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora