O músico

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Como está o Natal de vocês? 🎁

Este é mais um presentinho, e espero que aproveitem. Se na semana passada Sarinha interagiu com o prof. Borba, agora é a vez de quem? 

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⁃ Vó...?

⁃ Oi, minha filha, bom dia... Que carinha é essa, inchada... Aconteceu alguma coisa, você teve um pesadelo, algo assim...?

Marieta Alves percebeu a neta visivelmente incomodada nas primeiras horas do dia. As duas acordavam bem cedo, antes mesmo de o galo cantar, para que a jovem começasse a fazer o café da manhã na mansão, e a governanta organizar as questões da casa - que ainda estavam confusas, já que, apesar de Stéfano ter organizado a nova estrutura da residência, ainda faltava a presença de Ramón.

E o irmão de Estêvão ainda não manifestara quando iria morar na casa.

⁃ Bem... Eu... Eu fiquei pensando em algo antes de dormir, vó. Não sei... - a jovem respirou fundo, mexendo os óculos.

Marieta entendeu na hora que a neta estava nervosa. Pegou na mão de Sarah, que estava ajeitando a armação impecavelmente reta, e segurou com firmeza junto ao peito da idosa:

⁃ Eu já sei o que está acontecendo... Ou não, a gente está... - suspirou. - Esses dias estão uma loucura, né? Não tivemos tempo de lidar com o luto, com o que aconteceu com Sr. Estêvão e... Sabemos bem que ele está em um bom lugar, né?

⁃ Sim, vó... Deus está cuidando dele.

⁃ Amém, Sarinha. Mas, acho que tem outra coisa afligindo sua cabeça, e é...?

⁃ Vó... É... - Ela parecia balbuciar letras que não pareciam conectar para formar palavras. - Tive... Esta noite... Coisas... Que não deveria, vó... - a voz da jovem ficou embargada, e os olhos marejados. - Minha mãe dizia que... mulheres decentes não deveriam ter... Pensamentos impuros e...

⁃ Não. Não pense nisso. - Marieta segurou a mão da neta com mais força ainda. Ainda precisava entender o que ela fez na criação de Adriana que tornou a filha uma mulher amargurada, que se afundou em uma religião cruel, traumatizando a própria filha. - Sua mãe tinha valores que eram os dela. O que ela falou... Não é correto, de forma alguma. Lembre-se de que esses pensamentos impuros, mulheres decentes... Olhe pra mim, Sarinha... - a idosa mexeu a cabeça, procurando o olhar da neta, com a cabeça quase enterrada perto do queixo.

Uma das coisas que Sarah precisava durante os anos vivendo com ela era terapia. Nunca considerou de fato; sempre achou que seu amor e conselhos seriam o suficiente; mas Marieta errara na abordagem.

⁃ Se for considerar as ideias lá da religião de seu pai e de sua mãe, sabe quem não seria uma "mulher decente"? Eu. Porque eu não piso em uma igreja e tenho uma vida independente, saio, me divirto, pago minhas próprias contas e não dependo de homem. Você acha que eu não sou uma mulher decente?

⁃ N-não, v-vó... A-a senhora é a melhor p-pessoa d-d-do mundo...

⁃ E suas amigas da faculdade, hein? Que trabalham, ralam todo dia, sabem o que querem, namoram quem querem, não ficam dependendo de homem... São indecentes?

⁃ Não... Não, vó...

⁃ Pois é... Esses pensamentos impuros são o quê? Sentimentos e sensações que todos passam. O que foi? O que você viu, o que você leu? - com a mão livre, Marieta repousou no rosto da neta, e ensaiou um sorriso. Aos poucos, Sarah ergueu o rosto na direção da avó. - Deve ter sido um romance que sua amiga Roberta te mandou, né?

Três DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora