Três Desejos

Caça e caçador

Vejamos qual será a reação de dona Marieta à revelação do quarteto...

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Marieta Alves ficou estática em frente aos quatro, os olhos apontados para o chão, a boca entreaberta, ao mesmo tempo que ela parecia prestes a balbuciar algo. Toda sua expressão indicava a necessidade de falar alguma coisa, mas não estava pronta para verbalizar ou as palavras ainda se desenvolviam em sua mente.

O silêncio se manteve dentro da pequena sala, e temerosa, Sarah deu dois passos à frente e se aproximou da avó.

- Eu imagino que seja... Que a senhora pode estar surpresa? Mas...

- Eu não estou surpresa... Eu só preciso parar para pensar. Como isso aconteceu? Como essa relação começou, como você se aproximaram... Até porque se conhecem há pouco tempo. - Marieta mexeu a cabeça e fechou os olhos. Abriu-os na direção de Ralf. – Apenas para iluminar minhas ideias.

- Bem, dona Marieta, eu sei que nós nos conhecemos há pouco tempo, mas foi um processo natural para nós. Nós três na verdade, em entender que estávamos interessados pela mesma mulher. Quando a gente morava aqui há alguns anos, costumávamos andar junto, mas... Algumas coisas fizeram com que a gente não tivesse mais uma boa relação.

Stéfano Martinez não era o tipo de pessoa que convivia com gente pobre. Por isso até ele se chocava como o quão bem ele se dava com Valentim e Ralf... Que antes se chamava Rafael, e ele considerava a mudança de nome bastante cafona... os dois rapazes que vieram morar na casa de seu pai.

Eles não tinham muitas coisas em comum, exceto por três aspectos: o primeiro era o quanto eles gostavam de dona Marieta, a governanta da casa, que os tratava como se fossem seus filhos, os filhos que ela não teve em abundância.

Dona Marieta, contudo, sempre dizia a respeito de uma filha que ela teve e que não convivia mais com ela. Assim, todo o amor guardado para a moça (que Stéfano chamava de "ingrata" no íntimo), a governanta doava igualmente para os três.

A segunda coisa que eles tinham em comum era o fato de morarem na mesma casa e serem observados por Estêvão com bastante cuidado. O empresário tinha em Stéfano o futuro da M.Bahia, mesmo que a relação entre pai e filho fosse estremecida desde sempre, e o rapaz nunca entendeu bem a razão.

Quanto a Valentim e Ralf, Estêvão os queria estudando e trabalhando, sendo profissionais responsáveis, e de preferência, apoiando Stéfano na M.Bahia.

Já a terceira coisa que os três compartilhavam eram mulheres.

Era estranho para o jovem herdeiro pensar naquilo. Sempre foi uma figura egoísta desde a infância, odiava compartilhar brinquedos, livros, comida na escola. Mas havia uma conexão entre ele, Valentim e Ralf, porque ambos possuíam a mesma busca por alguém que os amasse verdadeiramente, com tudo que tinham dentro dele. Que os visse como prioridade, que os quisessem com os defeitos e virtudes que possuíam. Apesar de buscarem o amor e o prazer em demonstrações distintas, os três eram oriundos de experiências emocionais com perdas familiares e lacunas emocionais que poucas pessoas em seu círculo – e com sua pouca idade – entenderiam.

Somente Valentim e Ralf conheciam o que passava no coração de Stéfano, e vice-versa. Por isso, eles buscavam em outra pessoa alguém que preenchesse essa lacuna, que tivesse a mesma ânsia por amar que eles tinham. Assim, os três perceberam que a linguagem do desejo e da atração funcionava da mesma maneira para cada um deles, e um dia uma jovem respondeu a essa linguagem dizendo que gostava do trio.

Naquele dia, tudo mudou.

Val, que era como Ralf e aos poucos o próprio Stéfano chamava, era mais calmo, mais ponderado, trocando ideias com a garota por quem eram interessados em um nível intelectual. Além disso, por ser o único do trio que não bebia, conseguia conquistar rapidamente a confiança dela. Ralf, por ser mais aberto e bem-humorado, fazia sempre a primeira abordagem. Um flerte aqui, um papo sobre o tempo acolá, se gostava da música que tocava na boate. Quanto a Stéfano, ele preferia a linguagem dos toques e movimentos. Era um cara mais calado, e às vezes podia passar por arrogante e soberbo; mas o que ele não dizia em palavras mostrava com o toque de suas mãos.