O espelho

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Na primeira noite do quarteto no resort, Sarah fez o jantar. Contudo, na segunda noite, eles optaram por um restaurante a alguns metros da praia, cuja maré vazante tornava a trilha sonora da conversa uma música calma e tranquila vinda da água que se movia lentamente perto das pedras.

O foco principal do restaurante eram frutos do mar e pescados, mas Ralf encontrou hambúrguer de peixe empanado com molho parmesão, e selecionou essa opção para comer. Já Valentim preferiu risoto de camarão, enquanto Stéfano optou por lagosta. Sarah optou pelo filé de tilápia com molho de vinho branco, arroz com brócolis e mix de folhas.

- Eu só não escolho a tilápia porque eu particularmente não como peixe em qualquer lugar.

- Você não gosta de comer nada de diferente em lugar algum, confesse.

- Meu paladar é muito delicado, Valentim. Refinado. Você não entenderia.

Ralf bebeu um gole de cerveja long neck, revirando os olhos. Aqueles dois nunca se entenderiam.

- Pois acho que você perdeu esse filé de tilápia, Stéfano. - comentou Sarah, antes de comer mais um pedaço do peixe. Degustou e mastigou com calma até engolir a comida e retomar o seu raciocínio. - Está perfeito, e o molho é impecável. Funciona exatamente como deve ser um complemento. Às vezes, eu como filé de tilápia com um molho carregado, grosso, dá um peso ao peixe que é desnecessário, considerando que é uma carne mais levinha.

- Onde você está comendo esse filé com molho carregado? – Stéfano parou um instante com o garfo no meio do caminho.

- Quando necessário eu vou no shopping comprar algum ingrediente específico para o bufê dos Chefs dos Chefs... Nos mercados de comida saudável, fit, especialmente para o cardápio vegano. Então eu almoço em algum self-service e tem filé de tilápia. Mas o molho não ajuda muito.

- Ah Sarinha, mas self-service você tem que comer o básico. É arroz, feijão, aquele frango de lei, se tiver batatinha frita... Porra, maravilhoso!

- Deu até água na boca, Ralf! – Valentim sorriu, antes de beber um gole d'água. - Saudades de um feijão, arroz, frango e batata frita.

- Querem que eu faça em uma nova oportunidade? É um prato bem mais simples e bem mais prático para o almoço de vocês, e que a gente pode deixar um extra para depois. Eu sei que Stéfano odeia comer comida requentada, mas para não desperdiçar, acho que vale a pena. Até eu como, as meninas também... Só a batata frita que teríamos de preparar todo dia, porque ninguém come batata de ontem.

- Ainda bem que você avisou sobre este assunto. Considerando o temperamento de Ralf e Valentim, eu não duvido nada de que eles pediriam a você para colocar o resto da batata na geladeira, dentro de um pote de plástico.

- Sempre muito divertido e engraçado.

- Sei que o meu amor não é para qualquer um, Valentim.

Havia provocações, e o temperamento de Stéfano de fato era um pouco diferente dos outros dois, mas se desenvolvia uma cumplicidade curiosa entre os quatro. O sentimento era de completude na simplicidade, nas pequenas provocações, no equilíbrio entre os três, que existiu lá atrás, e por alguma razão desconhecida se perdeu no tempo.

Isso se refletia até na maneira como eles se colocavam na mesa: Valentim e Stéfano sempre ficava em lados opostos, pela semelhança de personalidade. Ralf se mantinha entre eles por sua natureza mais equilibrada, leve, como se fosse um ponto de contenção quando as coisas ficassem um pouco mais tensas.

Contudo, há muito tempo que essa tensão entre os três era conduzida de maneira diferente por causa de Sarah. As provocações se tornaram quase anedóticas, e todos estavam ali para agradar Sarah e saber que ela se sentia agradada por eles.

Três DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora