A noite

475 62 14
                                        

Se vocês prestarem bastante atenção neste capítulo, vão sacar o que vai acontecer no futuro deste livro.

---

Valentim Borba não estava jantando com os outros membros da casa, tampouco no escritório, onde costumava aproveitar o silêncio para preparar os planos de aula.

Ele se encontrava no quarto, o corpo deitado na cama, descansando das dores crônicas nos quadris. O dia agitado fez com que ele caminhasse de um lado a outro, e o professor necessitava deste momento só para si. O pior era que as dores se aliavam à preocupação de Valentim com a segurança da mansão: ele já havia conversado com Ralf, Stéfano e Ramón a respeito das câmeras e a contratação de mais seguranças para o entorno.

Valentim preferia as câmeras. Segurança significava mais pessoas, e mesmo que fizesse uma devassa na vida dos profissionais, nunca confiaria integralmente em ninguém.

Naquela noite, ele também tinha outra preocupação: Sarah. Ela passou o dia inteiro no curso de inglês, participando de workshops, e mesmo que ela retornasse conduzida pelo taxista amigo, a tensão estava no ar. Carlos tinha a jovem como sua obsessão, e nenhum dos três herdeiros sabia qual era o próximo passo do executivo.

"Acho melhor me levantar, chega de ficar deitado, aí é que vou sentir mais dor mesmo", penou Valentim, sentando-se e esticando o braço até a mesa de canto, onde sua bengala prateada se encontrava encostada. Seguiu lentamente pelos corredores da mansão e desceu as escadas, a bengala o apoiando na redução do impacto e o corrimão da escada o auxiliando no equilíbrio.

Valentim sentiu o corpo mais leve, a dor reduziu um pouco. "Eu realmente precisava de uma caminhada, ao invés de ficar deitado não trabalhando com a parte de baixo".

Seguiu para o hall de entrada da casa e saiu, tomando a lateral, com destino a piscina. Tudo parecia vazio e frio, graças ao vento da noite, até que ouviu um barulho estranho. Barulho de passos caminhando em velocidade leve, como se a pessoa em questão estivesse analisando o espaço. "Não acredito que Carlos já botou algum homem dele aqui!" Apesar da dor que ele poderia sentir, Valentim decidiu marcar o passo, mesmo sabendo que o reforço que ele daria com a bengala faria com que sua presença seria exposta. Contudo, ele estava sozinho, bem como o provável invasor, e ele faria o quê? Cometeria um crime dentro da casa quando ele precisava estar disfarçado?

Continuou a seguir os passos do invasor, que ficavam mais velozes à medida que Valentim apertava o passo, ignorando a crescente dor na parte de baixo das costas. Assim, ele se aproximou da pessoa, entre algumas árvores, a escuridão das árvores frondosas tornando sombra a luz da lua e a luz artificial dos postes dentro da mansão Martinez.

Ele segurou o estranho pelo braço e virou o corpo em sua direção, pronto para dar um chacolhão mesmo que derrubasse a bengala.

- Sarinha? O que está fazendo aqui?

- Meu Deus, que susto! - a jovem levou a mão ao peito, sentindo os batimentos cardíacos acelerados. - eu pensei que era um invasor, algo assim...

- Nós dois pensamos a mesma coisa.

Ele se soltou da jovem e levou uma das mãos até o tronco da árvore, acalmando o corpo.

Sarah, ignorando a própria reação assustada, foi até o professor, e repousou a mão nas costas de Valentim.

- Tá tudo bem, amor? Você tá cansado, você correu... Bora voltar para casa, eu atraso um pouquinho meu retorno... buscar meus livros...

- Não... não precisa...

- Precisa sim! Está com dor nas costas e fica assustando as pessoas!

Valentim deu um meio sorriso.

Enquanto voltavam para a mansão, Sarah buscou na bolsa o celular, e avisou a avó que já havia chegado em casa, mas encontrou Valentim e ficaria com ele no quarto. Quanto ao professor, como todos sabiam que ele estava na residência, a única coisa que ele fez assim que os dois chegaram no quarto dele, foi informar a Stéfano e Ralf no grupo que eles tinham junto com Sarah, que ela estava com ele, e segura.

Três DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora