Entrelaçados

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No capítulo de hoje, teremos... Coisas.

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Morro de São Paulo era o lar dos ricos e famosos, além dos estrangeiros que gostavam da Bahia, mas queriam viver a experiência mais bucólica que simplesmente morar em Salvador.

Como era uma ilha mais isolada e de difícil acesso — mesmo sendo um ponto turístico famoso e bombado no estado — Morro de São Paulo também era exclusiva. E cara, bem cara.

Com o dinheiro que Marieta Alves conseguira reaver do cancelamento do aluguel em Mar Grande, bem como alguns valores que ela deixou separado para suas tão sonhadas férias, era possível sonhar. Garantir alguns mimos no hotel resort, como um dia de massagem, tomar piña colada à beira da piscina e acordar todos os dias olhando o mar da Bahia, azul e pleno,

Um dia, levaria Sarah para aquele hotel, um pedacinho de paraíso que Marieta mal sabia tanto que precisava.

Sentia-se até remoçada ao se olhar no espelho. Definitivamente passar um tempo longe dos conflitos e tensões na casa dos Martinez fez bem à pele da governanta.

Marieta decidiu caminhar pela praia, que chamavam de "primeira praia", mais movimentada, animada. Alguns hóspedes, que a mulher classificava como "nariz em pé", de sotaques que ela não reconhecia como baianos e que olhavam para Marieta de cima a baixo (e ela sabia exatamente como definir o que era aquilo), chamavam de "praia do povão"; contudo, a governanta mal se importava. Queria descansar e relaxar, mover pernas e braços.

Caminhava protegendo-se do sol não apenas com o protetor solar de alto fator, próprio para idosos, como também um chapéu de palha. A saída era na cor preta, um macacão leve, escondendo um maiô simples de mesma cor. Segurava nas mãos o par de sandálias amarelas e uma bolsa de praia, do mesmo material do chapéu, indicava que Marieta estaria ali para passear e relaxar.

Era uma mulher muito bonita e ainda consciente de seu encanto e charme. Mas não estava ali para arranjar um "namoradinho", como dizia sempre; e sim relaxar o mínimo que fosse.

De tão distraída que estava, Marieta não percebeu ter saído da primeira praia e ido para a segunda, conhecida pelas barracas caras e exclusivas, além do público mais selecionado. Ainda era cedo, e as cadeiras não estavam ocupadas, então não havia distinção entre quem estava presente e quem buscava um lugar para sentar.

Optou por uma mesa simples, com uma cadeira reclinável ao lado, e o sombreiro aberto já para fazer sombra. O garçom, muito solícito, apresentou o cardápio e Marieta pediu apenas uma soda italiana. O clima relaxado, a bebida fresca que chegou logo depois, a música que ela reconhecia como Djavan tocando ao fundo, era a realização completa da tranquilidade tão ansiada — e a maneira que a governanta encontrou de esquecer os problemas, se acalmar, procurar nas ondas do mar e no horizonte distante, tão distante que era difícil enxergar a pontinha de Salvador de tão borrada que estava, as formas de superar o luto.

Estêvão Martinez era um bom homem. Cometeu erros com as pessoas que amava, mas buscou de toda a forma fazer a coisa certa. Quem era ela para julgar?

⁃ Morro de São Paulo é um dos poucos lugares que ainda funcionam nesta cidade.

Uma voz masculina firme e rasgada, de alguém que tinha longa experiência de vida, passou em meio aos pensamentos de Marieta.

O homem em questão sentou-se à mesa ao lado dela, usando uma camisa azul-piscina de botões, e bermuda de linho marrom-claro. Os óculos escuros o ajudavam a se proteger do sol, e Marieta viu detalhes avermelhados em seu nariz, no alto da cabeça calva, e testa brancas, em tom claro.

⁃ Em Cairu? - perguntou, curiosa. - Não tive a oportunidade de conhecer ainda.

⁃ Pequena, sem graça. Como qualquer cidade do interior baiano. - ele olhava para tudo com o ar entediado, o queixo erguido de quem se sentia superior a tudo e todos.

Três DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora