Capítulo Dezoito

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[...]

Um mês.

Não parecia um tempo muito longo, mas para Clarice era como se uma vida inteira tivesse passado. Olhando-se no espelho, quase não reconhecia seu reflexo, aquela garota francesa praticamente apagada de suas feições, de sua postura, de seu olhar.

Mas isso, de uma forma estranha, não era ruim.

Seus músculos tinham se acentuado levemente, apesar do pouco tempo de treino. Mas com certeza a coisa mais afiada em si, nesse momento, era sua mente. Todo o período que havia passado com Leonel, hora no grande escritório, hora na biblioteca da casa, fazia seus olhos verdes adquirirem um brilho de sagacidade mortal.

Agora, ela sabia boa parte dos detalhes, das tramas que envolviam as principais famílias aliadas. Claro que eram coisas demais, pessoas demais para entender em tão pouco tempo, mas Leonel – seu pai – havia se esforçado para dar a ela uma boa visão de tudo.

Ele estava, genuinamente, se esforçando para prepará-la para o baile dessa noite.

Sim, esta noite. O baile beneficente aconteceria ainda essa noite, na Província de Veneza.

Tinham embarcado com destino à casa de Leonel em Veneza ainda na noite anterior, no avião particular de Leonel, escoltados por tantos homens que ela quase perdeu as contas. No dia seguinte seguiriam de carro até Stra*, onde o baile aconteceria finalmente.

*Comuna italiana da região do Veneto, província de Veneza.

Pensando na quantidade quase ridiculamente grande de seguranças que a haviam cercado desde a partida de Nápoles até o quarto em Veneza, Clarice tinha vontade de rir. Leonel com certeza estava se revelando um pai superprotetor, ou no mínimo alguém que não fazia a besteira de menosprezar seus inimigos.

Haviam se aproximado no último mês. Com a ajuda de Olivia, que sempre amenizava o clima quando este pesava, tinham construído uma boa relação, e na última semana Clarice até mesmo começava a apreciar a companhia do pai.

Ao menos, não sentia que precisava rasgar a garganta dele cada vez que o olhava, pelo contrário: algo como admiração silenciosa começava a brotar em seu peito.

Ele estava cumprindo sua promessa, ajudando-a no que podia, protegendo-a, guiando-a em direção ao futuro que havia escolhido. E isso era uma coisa que ela não poderia, e não queria, ignorar.

Conseguia entender um pouco do porquê sua mãe havia se apaixonado tão perdidamente por ele, então.

Piscou, voltando de seus pensamentos, quando a porta do banheiro se abriu e junto com o vapor quente, Olivia apareceu, vestindo um roupão branco.

– Ai, que delícia – a ruiva soltou, dando leves tapinhas nas bochechas vermelhas – Nada como um banho quente para relaxar.

Clarice sorriu para a amiga, sabendo exatamente o porquê dela estar tão nervosa.

– Encontrar seu marido depois de um mês separados te assusta tanto assim? – Clarice provocou num tom malicioso.

Olivia a encarou, ambas as mãos ainda no rosto, irritada. O roupão branco se destacava contra a pele bronzeada.

– Eu não estou nem aí para ele – mentiu.

Clarice balançou sua cabeça, ainda rindo debochada.

– Aproveita que a barriga ainda não apareceu e faz logo as pazes com ele – sugeriu em tom de provocação, mas no fundo quase implorava para a amiga.

Não conseguia deixar de se sentir culpada.

Luca ligava diariamente. Não para Olivia, obviamente – ele havia desistido de tentar falar com a ruiva depois de três dias sendo completamente ignorado. Ele ligava para Clarice, pedia o relatório completo, e a cada palavra parecia desesperadamente arrependido.

Dangerous LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora