Capítulo Vinte e Cinco

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[...]

– O que você pretende fazer depois que se casar? – a pergunta sincera de Leonel pegou Clarice de surpresa.

– Como assim? – ela tentou não parecer abalada conforme continuou a comer sua sobremesa tranquilamente.

Era óbvio que seu pai queria falar sobre alguma coisa específica quando a convidou para almoçar no meio da semana sem nenhum motivo aparente. Por isso, tinha deixado todos os preparativos para o casamento de lado e vindo encontrá-lo na mesma hora. A novidade era ele ter esperado tanto tempo para perguntar: já tinham escolhido o vinho, passado pela entrada e pelo prato principal. O Petit Gateou disposto em sua frente junto a uma generosa bola de sorvete de creme somente confirmava o quanto Leonel estava relutante em ter essa conversa.

– Depois que se casar com Aidan, já pensou no que vai fazer da sua vida?

Clarice terminou de mastigar antes de voltar a falar:

– Bom, acho que ser a senhora Bianchini vem acompanhado de muitas responsabilidades, não?

Leonel respirou fundo.

– Sim, como senhora da família você terá muitos compromissos e responsabilidades, mas preciso dizer que eu não gostaria que minha filha se resumisse apenas a isso.

– "Apenas a isso"?

– Ser esposa de alguém.

A declaração cravou fundo em Clarice, tanto que ela largou a pequena colher que usava para comer, sentindo sua garganta fechada.

Era isso que estava se tornando? "Apenas a esposa de alguém"?

Desde que se entendia por gente sua mãe destacava para si a importância da independência. Ser alguém singular, nunca precisar ter alguém ao seu lado para ser alguém. Será que, inconscientemente, estava se tornando uma pessoa codependente?

Pigarreou, espantando a melancolia.

– Bom, não é como se eu pudesse voltar a ser enfermeira. De qualquer jeito, acho que a Clarice que escolheu a enfermagem já não existe mais. Antes eu salvava vidas, mas agora...

Agora eu as tiro. As palavras ficaram engatadas no fundo da garganta e Clarice resolveu que as deixaria ali.

Leonel se recostou na cadeira, as mãos apoiadas sobre a mesa, e assumiu uma expressão desconfiada, como se não entendesse completamente a filha.

Bom, ele nunca entenderia.

– Como esposa dele você nunca vai saber de tudo.

Clarice ergueu os olhos confusos para o pai.

– Do que está falando?

– Não estou dizendo que ele não vá te contar as coisas por maldade ou falsidade, mas acredite em mim quando digo que ele simplesmente não vai contar porque foi treinado a vida inteira para isso. Somos assim e não é fácil mudar. Por mais que ele te ame, os instintos adquiridos ao longo da vida sempre irão impedi-lo de se abrir completamente. Então, se for apenas a esposa dele, nunca saberá de tudo. Vai ficar no escuro, apenas sorrindo e seguindo o que ele diz.

Clarice mordeu sobre os dentes, irritada. Sentia seu peito em chamas.

– Não pretendo fazer isso – era a primeira vez que usava esse tom com seu pai novamente.

– Ah, é? – Leonel parecia debochado, irritando-a propositalmente com aquela expressão indiferente – E como pretende fazer isso?

Clarice expandiu as narinas, buscando por mais ar.

Dangerous LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora