Capítulo Vinte e Sete

249 15 0
                                    

[...]

Aidan se aproximou lentamente, pé ante pé. As mãos tremiam tão violentamente que ele não conseguia controlar bem seus próprios movimentos.

Os dedos gelados entraram em contato com o tecido frio. Ele puxou o saco preto de uma vez. O rosto revelado não lhe despertou reconhecimento algum.

Soltou todo o ar que prendia, o alívio se espalhando por seu peito como uma droga. Os joelhos cederam e o Don foi ao chão, os braços moles e a respiração pesada.

Não era Clarice, não era Clarice. Ficou repetindo o mantra em sua cabeça até que conseguiu se controlar novamente.

Essa não é Clarice. Clarice está viva.

Uma outra mulher tinha sido usada para que ele se assustasse. Tinham inclusive escolhido alguém muito parecida, vestindo-lhe com roupas iguais, tudo para que ele pensasse que era sua noiva, para perturbá-lo, deixá-lo louco.

Um aviso.

Se não explícito o suficiente, havia um post-it pregado na testa da mulher: Respire, Don. É apenas a garçonete de um bar. Sua noiva ainda está inteira.

Ainda. Isso sim que era ir direto ao ponto.

Sim, havia pressionado demais. O líder da Maiali havia cedido à sua pressão, mas não do jeito que Aidan havia imaginado. A partir de agora, com todas as cartas na mesa, o Don precisaria de muito mais atenção e sangue frio para lidar com a situação.

A verdade é que, por um mísero momento, havia esquecido sua real situação. Era o Don da família mais poderosa da Itália, poderia ter o mundo aos seus pés, mas nesse momento não passava de um noivo desesperado para ter sua mulher de volta.

E o líder da Maiali sabia disso, sabia muito bem o poder que tinha nas mãos: tinha sequestrado não apenas a futura Senhora de uma família influente, mas também a amada de Aidan, aquela pela qual ele faria tudo. Tudo e mais um pouco, se necessário fosse.

Precisava antecipar os passos da Maiali antes que eles o pegassem de surpresa novamente.

Aidan perdeu a noção de quanto tempo ficou ali, parado, de joelhos em frente à mulher morta, encarando o post-it amarelo grosseiramente pregado à testa feminina enquanto tentava controlar sua respiração. O sangue seco espalhado pelo rosto desconhecido o desconcertou, afinal... Afinal...

Poderia muito bem ser Clarice ali, com um prego na testa e uma bala no coração.

Virou para o lado, vomitando o pouco de comida que havia conseguido ingerir no café da manhã.

Não é a Clarice. Clarice está viva.

Vomitou outra vez, e em seguida fez nova ânsia, mas não havia mais nada em seu estômago para vomitar. Respirou fundo, o gosto da bile azedando sua boca, queimando sua garganta. Cuspiu no chão para tentar se livrar do gosto horrível.

Quando sentiu que conseguia ao menos se manter firme sobre as próprias pernas, se levantou. Respirou fundo uma última vez, assumindo uma face neutra, e então girou sobre os calcanhares, começando a caminhar tranquilamente para fora do galpão.

Guardou a arma e não se preocupou com reconhecimento de área. Não havia ninguém ali, de qualquer jeito. Tudo isso havia sido uma completa perda de tempo. Tinha apenas caído na chantagem do líder que o odiava por algum motivo desconhecido.

O ar gelado da noite lhe abraçou ao mesmo tempo que um relâmpago rasgou o céu, iluminando a noite escura e também seus olhos azuis.

A tempestade estava mais perto.

Dangerous LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora