Capítulo Dezenove

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[...]

Aidan era um completo idiota.

– Bom, bom, muito bom – seu pai murmurava em italiano enquanto ela continuava a socar com força.

Como ele podia fazer aquilo? Continuar insistindo nessa ideia idiota de sacrifício? Continuar se afastando com a desculpa de protegê-la?

Não, não. Isso estava errado. A verdade é que ele estava com medo. Medo de se envolver, de se entregar, de sentir. Estava tão amedrontado quanto uma criancinha durante uma tempestade, então era muito mais fácil continuar arranjando desculpas para se manter afastado.

Bufando de raiva, Clarice firmou os braços e realizou mais uma sequência de socos. Seus dedos latejavam e seus braços ardiam, mas ela não queria parar, pelo menos não até que toda a sua raiva fosse descontada.

– Mantenha os pulsos firmes ou a única pessoa que vai conseguir machucar com esses socos é você mesma – ouviu seu pai ralhar, o tom de voz insatisfeito.

Controlando a respiração, sentindo o suor escorrer por cada parte de seu corpo, Clarice ergueu os cotovelos alguns centímetros, mantendo-os assim, e voltou a socar. Seus braços e pernas imploravam por descanso, seus músculos já tendo espasmos aleatórios por conta do esgotamento, mas ela não pararia.

Nesse momento, conseguia imaginar perfeitamente a cara de Aidan sobre aquele maldito saco de areia que socava incansavelmente há duas horas.

– Gira – ouviu seu pai mandar.

Mesmo que as pernas ameaçassem ceder, ela se afastou um passo e andou em volta do saco, invertendo sua posição 180°, voltando a repetir a sequência de socos.

Direita, esquerda, direita, abaixa. Direita, esquerda, direita, abaixa.

– Está ficando lenta – Leonel murmurou naquele tom de voz que ele sabia que ela odiava.

Clarice mordeu sobre os dentes, ainda tentando controlar a respiração.

– Estou fazendo isso há duas horas – rosnou sem desviar os olhos do saco de areia, que já começava a rasgar.

– Se estivesse concentrada, já teríamos terminado.

– Eu estou concentrada.

– Não está, não. Se isso fosse uma situação real, já estaria no chão com alguns dentes quebrados.

A morena apertou os lábios com força, impedindo qualquer outra resposta de escapar, sabendo que de nada adiantaria.

Apenas continuou socando, forçando seus braços ao máximo, sentindo o suor lhe escorrer pelas costas e testa, os cabelos amarrados já completamente encharcados grudando sobre o pescoço.

Com certeza teria muitas dores amanhã. Muitas mesmo.

– Argh – urrou quando sentiu a pele dos seus dedos finalmente abrir.

Puxou a mão para perto, vendo que o sangue já escorria, a pele rasgada e levantada em pelo menos dois dedos.

– O que foi? – perguntou Leonel caminhando com pressa até ela.

Antes que pudesse impedir, seu pai puxou sua mão, analisando o estrago.

Os olhos estavam preocupados, mas a boca permanecia numa linha rígida.

Ele estava preocupado com alguma coisa.

– Por hoje chega – anunciou, ainda segurando sua mão, começando a tirar a faixa que havia posto para tentar evitar justamente aquilo.

Dangerous LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora