Capítulo Vinte e Oito

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[...]

O mundo inteiro parecia ter entrado em câmera lenta.

Clarice olhava para aquele homem truculento vindo em sua direção, o olhar assassino, o desejo por sangue, mas em sua mente os movimentos eram tão lentos quanto os de uma criança que estava começando a caminhar.

Subitamente, um pensamento lhe ocorreu: era filha de Leonel Salvatore. Tinha sido treinada pessoalmente por ele, tinha recebido instruções muito diretas sobre o que fazer exatamente nessa situação. Nos últimos meses, seu pai tinha garantido que ela se tornasse uma mulher capaz de se defender de qualquer pessoa, especialmente um idiota que servia a outro homem mais idiota ainda.

Mordendo sobre os dentes e segurando seu choro, Clarice sentiu seu braço se mover sozinho, alcançando a tesoura jogada atrás da cama.

Alessandro a tinha subestimado e agora pagaria o preço por isso.

Controlando seu desespero, a morena apenas esperou que o homem se aproximasse, sentindo seu estômago embrulhar conforme o sorrisinho satisfeito se alargava no rosto macilento.

– O que foi, boneca? Travou de medo? Gostava mais de quando estava gritando.

Clarice apenas esperou, esperou e esperou. O homem finalmente se aproximou o suficiente, colocando aquelas mãos podres sobre seu corpo e se inclinando sobre ela. Tão distraído, tão seguro de si que deixou seu pescoço bem ali, exposto ao alcance.

– Vamos nos divertir um pouco, o que acha?

Num movimento muito fluido, Clarice firmou a tesoura em sua mão machucada, ignorando a dor que subiu por seu braço. Sem hesitar e com toda força que conseguiu reunir, enfiou a lâmina no pescoço do homem, bem onde julgou estar a artéria carótida. Sentiu o sangue quente e viscoso respingar em seu rosto e escorrer para seu pescoço assim que arrancou a lâmina.

Uma morte lenta, porém certa.

O homem gritou, perdendo as forças e caindo para o lado ao mesmo tempo que levava as mãos até o local, tentando estancar o sangue que saía do ferimento em jatos.

Com a lâmina ensanguentada ainda em mãos e o corpo livre, Clarice praticamente voou para a janela, a adrenalina adormecendo suas dores e tornando seus movimentos mais ágeis.

Precisava ser rápida, porque com aquele homem gritando como um louco sobre a cama, alguém logo viria ver o que estava acontecendo.

Felizmente, tinha praticamente terminado de arrancar as tábuas antes que Alessandro invadisse o quarto. Por isso, dois ou três puxões já liberaram a janela que, claro, estava emperrada.

Mas isso não seria impedimento, pelo menos não mais. Com força, Clarice enfiou a tesoura ensanguentada no vidro, partindo-o em mil pedaços.

Se até agora ninguém havia aparecido, com o vidro estourando e produzindo um som alto, com certeza agora alguém apareceria.

Ainda com a tesoura em mãos, já que ela não seria tola em largar o objeto tão cedo, Clarice firmou suas mãos sobre o batente, sentindo os cacos de vidro penetrando sua carne, e então deu impulso, subindo na janela.

A porta do quarto se abriu.

– Clarice! – a morena ouviu Ítalo berrar, parecia realmente desesperado.

– Vai se foder, porra! – ela berrou um pouco antes de se jogar.

Não pensou muito na queda de dois andares, nem olhou o que havia logo abaixo. Apenas sentiu o vazio abaixo de si, o ar frio ricocheteando contra seu rosto, o estômago se revirando e o chão de terra batida vindo ao seu encontro.

Dangerous LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora