As vezes, quando estava especialmente nostálgico, Skyler se pegava pensando como sua vida teria se desenrolado se tivesse permanecido em Ohio.
Ele havia se mudado meses antes de fazer 16, o que significava que boa parte de sua adolescência foi gasta no fim de mundo em que encontrava atualmente. Não havia muitas coisas para se fazer, de qualquer forma, essa era sua justificativa favorita para não sair de casa. Havia alguns bares de procedência duvidosa, um clube para lá de ultrapassado.. e é claro, as festas oferecidas pelos jogadores.
Ohio não era o pior lugar do mundo. Com certeza era melhor do que o Texas, que tinha uma reputação para lá de alarmante quando se tratava de jovens gays em período escolar. Pelo menos em Ohio Skyler não tinha medo de ser nocauteado por fazendeiros de meia idade usando chapéus, e nem de seus filhos esquisitos usando jaquetas de time andando pelos corredores da escola. Em Ohio ele estava muito confortável com seus amigos de jardim de infância e velhos hábitos cultivados.
-Yolanda Hadid é uma vaca- disse sua avó, devorando um bocado de pipoca enquanto apontava um dedo de unhas vermelhas para a tevê.
Era nesses momentos em que Skyler se sentia como um pirralho egoísta.
Ele amava sua avó, amava mesmo. Na verdade, havia uma grande possibilidade de ela ser sua alma gêmea de alguma forma. Eles se entendiam de uma forma que ele nunca encontrou com mais ninguém, nem com seus pais ou seus amigos. Ela entendia suas opiniões, assistia os mesmo reality shows que Skyler e compartilhava do ódio pela população da cidade em que estavam.
Mas de certa forma, ela era culpada por não haver nenhuma vida confortável e aceitável em Ohio. De não haver nenhuma perspectiva de uma namoro comum com passeios ao cinema, ou andar de mãos dadas ou qualquer coisa melosa desse tipo.
-Ela é a pior- concordou Skyler, enviando um sorriso afetado para figura entretida de Pearl. Os cabelos cinzentos estavam presos em um coque bagunçado, e o rosto marcado coberto pela mesma mistura verde e grudenta que umedecia a pele de Skyler.
Como se para reforçar suas opiniões, Yolanda havia começado outra de suas famosas brigas com uma de suas filhas. Para falar a verdade, era mais de Yolanda proibindo Gigi de comer qualquer coisa além de uma porção de salada e logo depois ignorando a existência de seus outros filhos. Pearl torceu o nariz, como se estivesse a ponto de gritar com a tela.
Então, quando de repente tudo ficou muito silencioso, o olhar de Skyler desceu para as mãos finas e enrugadas que seguravam o pote cheio de pipoca, apenas para ter o vislumbre perturbador de um tremor involuntário que fez uma porção do conteúdo cair na almofada entre eles. Ele ergueu os olhos em silêncio, mas sua avó continuava olhando para a tela azulada como uma estátua.
Mas Skyler podia enxergar a tensão em seu maxilar delicado, assim como o tendões expostos de seu pescoço. Ela estava tentando se controlar.
-Hm, vó.. acho que vou dormir. Vamos?
Ela piscou de repente, engolindo em seco enquanto girava a cabeça em sua direção, sorrindo daquela maneira afetada que era idêntica a dele. Skyler respirou fundo, e conteve o reflexo de tocá-la em busca de conforto. Ele sabia que Pearl odiava ser tocada quando uma das crises começava, então se contentou em pular do sofá macio e fazer o caminho conhecido para a cozinha.
-Acho que vou terminar esse episódio primeiro- ela respondeu, no momento em que ele se colocou atrás da pequena ilha de madeira escura.
Skyler não disse nada. Ao invés disso, abriu um dos vários armários espalhados pela parede e tirou uma pequena caixa de chá para si. O ritual de sempre se desenrolou depois disso. Ascender o fogo. Encher a chaleira. Despejar o líquido na xícara. Esperar.
Com um olhar discreto de trás do balcão, Skyler notou a avó praticando o exercício de respiração no sofá. O episódio já havia chegado ao fim, e com um olhar para a tela do celular, Skyler notou que já haviam passado das 8. O remédio deveria ter sido tomado as 7.
-Aqui- ele estendeu a xícara, recendo um olhar alarmado como resposta. Skyler arqueou uma sobrancelha. -Pegue o remédio também.
Ela não levou mais de um segundo para entornar o chá de camomila junto a pílula, e foi só quando Skyler viu seus grandes olhos azuis se fechando que pode respirar aliviado.
Ele chegou a conclusão que aquele não era o melhor momento para começar um sermão sobre horários certos e remédios, mesmo que aquela crise tivesse sido leve. Sua avó nunca ficava muito animada depois de um tremor, então aquela conversa poderia esperar para outro dia.
-Não demore para ir dormir, tudo bem?- ele tentou, no tom mais gentil que conseguia. Então enviou um beijo pelo ar antes de fazer seu caminho para o quarto -.... e não esqueça de tirar a argila!
Depois de afogar o rosto na água fria da pia e escovar os dentes desleixadamente, Skyler se jogou com tudo na grande cama bagunçada em meio a escuridão do quarto. A tela branca do celular o fazia apertar os olhos, mas ele insistiu em olhar o que pareciam ser os registros da mais nova festa da semana.
Não havia nada de novo sobre o vídeo que Madison havia postado. Seu rosto redondo com maquiagem borrada e a imagem tremida diziam que ela estava muito bêbada, e a gritaria no carro escuro e as vozes mostravam sua companhia duvidosa.
Skyler aproximou o celular ao rosto, ao mesmo tempo em que trocou de posição nos lençóis. Quem era aquele no volante? Ele havia reconhecido Tyler Monsen grasnando a letra suja de um rap do banco de trás, e isso significava que haviam outros jogadores com ele. Era uma regra.
E ao aumentar o brilho da tela, Skyler confirmou sua teoria. Os olhos esverdeados e a cabeleira escura no banco do motorista pertenciam a Mase Mitch.
thom: Deveríamos dar uma passada na festa de Amber?
O emoji sorridente era uma clara evidencia de que Thom estava muito ciente do que estava acontecendo, e é claro, estava blefando.
eu: cale a boca ou posso acabar topando
thom: Cerveja morna e música ruim parecem um sonho perfeito
eu: você sabe que eu estou falando sério.. maddy me chama para essas coisas o tempo todo
thom: Exatamente.
Skyler não conseguiu impedir a risada maliciosa e terrível que saiu de seus lábios. O telefone em suas mãos tremeu, e ele quase conseguia ver as sobrancelhas arqueadas e a testa franzida de Thom.
eu: deixe-a em paz. pelo menos alguém tem uma vida social
thom: Sair com os caras do time parece mais um pedido de ajuda
eu: tenho que concordar com você, mas nós falaremos sobre isso amanhã
A conversa se desenrolou para as reclamações de Thom por estar fazendo hora extra no restaurante dos pais a suplica de Skyler por ajuda no teste de química da semana que vem, e antes que se desse conta, havia passado das 11.
Seus pais haviam chegado a mais de duas horas, gritando que havia comida coreana quente da sala de estar. Skyler sabia que eles haviam jantado no restaurante dos pais de Thom, porque... bem, eles eram literalmente os únicos que faziam comida coreana na cidade.
Ele havia escolhido recusar a oferta tentadora, mesmo que seu estômago e saúde corporal implorassem por algo que não fosse pipoca ou refrigerante diet, Skyler simplesmente não conseguiria lidar com as perguntas superpessoais e animadas de sua mãe naquela noite. O dia o havia exaurido demais para aquilo.
Então, jogando o telefone de lado e encarando o ventilador de teto, Skyler se permitiu pensar sobre a festa de Amber Clark por um momento.
E o fato daquela ser a primeira festa que Maddy não tentou arrastá-lo ou implorado por sua opinião no que vestir.
E que ela estava no carro de Mase Mitch.
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Todos os Motivos para Odiar Mase Mitch.
RomanceSkyler Brooke não era muito fã da própria vida. Bom, ele tinha pais legais o suficiente, e havia conseguido fazer amizade com duas pessoas desde que se mudou, então não era a pior vida de todas. Por outro lado, ele se viu preso ao quarterback estre...