Capítulo 21 - O suficiente para um fugitivo

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18/04/2022 - 586 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Sadie Sink

Fugir da realidade era a minha única opção no momento, fosse por meio de uma dose de tequila ou um sono que durasse dias, qualquer coisa serviria para tirar as desgraças que me rondavam esses últimos meses, tendo em vista que não estava nem no meio do ano ainda. Talvez a Sadie do ano passado, da semana passada ou até de ontem não concordasse comigo, mas eu de fato beberia em uma segunda-feira a tarde; eu já não tinha que pensar mais no amanhã, se é que me servisse de argumento.

"Agora?", foi a resposta vinda de Dacre, eu quase podia ver ele apertar os olhos perguntando isso.

"Agora."; eu definitivamente não tinha argumentos para as atitudes da Sadie de hoje.

"Onde exatamente você está?"

Só então ergui minha cabeça, olhando em volta e buscando por um ponto de referência. Foi somente aí que me dei conta de que eu estava parada, no meio da calçada, atrapalhando outras pessoas que passavam.

"Estou próxima a aquela lanchonete 24h da avenida principal, eu te encaminho a localização. Te espero lá". Foi tudo que respondi. Assim, atravessei a rua e encostei-me próximo a porta de entrada da lanchonete.

O vai e vem dos carros e as pessoas apressadas que passavam por ali me causavam uma certa melancolia, pois até semana passada, era eu quem dirigia por aquelas ruas movimentadas, insultando mentalmente os que estavam desocupados na rua.

Revirei a bolsa a fim de ascender um cigarro e assim engolir o desgosto que sentia, e felizmente o encontrei, junto ao isqueiro que agora, eu faria questão de não tirá-lo da bolsa. Era estranho estar ali, apenas correndo os olhos por quem passava em minha frente e tendo de fundo o som irritante das buzinas. Cheguei a me questionar duas ou três vezes se era certo o que eu estava fazendo.

Eram quase cinco e quarenta quando desisti de espera-lo do lado de fora e entrei no estabelecimento, o qual estava um pouco vazio. Sentei-me em uma das mesas encostadas em uma grande janela e pedi unicamente uma água com gás, já que não queria ficar sozinha com uma bebida alcoólica - acho que eu ainda estava presa a julgamentos, infelizmente -.

Não demorou muito até que vi um carro parar quase em frente a janela, dando uma visão privilegiada de quem quer que fosse sair dele e para meu alívio, era ele. Pude vê-lo mexer em algo no banco do carona, apenas com a sua porta aberta e guardar algo no bolso da calça jeans, a qual tenho certeza de que era a mesma de sexta-feira. Diferentemente daquela noite, ele vestia branco. Não consegui segurar o riso quando vi Dacre descer e derrubar o que, aparentemente eram seus óculos escuros e logo em seguida jogando-o para dentro do carro com nenhuma delicadeza, bem como fechou a porta.

Eu nunca fui de dar atenção as pessoas ou sequer observa-las atentamente, mas nesse caso, era divertido.

Foi a partir dessa sua atitude banal que o reconheci ser o mesmo rapaz que trancou todo o trânsito na semana passada; talvez ele não fosse lembrar de mim estando lá, estacionada no meio do engarrafamento, mas eu lembrava. Tomei essa lembrança como argumento por ter cedido ao fatídico beijo daquela noite, somente para alívio de consciência; não queria lembrar de Dacre como sendo o cara aleatório que beijei em uma balada lotada.

O cabelo bagunçado, bem como a roupa um tanto despojada, davam a ele uma impressão de despreocupação com a vida; algo que me dava até uma certa inveja. Enquanto eu o via entrar na lanchonete, aproveitei os meros segundos para ajeitar meu cabelo, de forma fracassada claro; minhas mãos suavam um pouco quando o vi caminhar em minha direção.

Crime Culposo | Vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora