Capítulo 49 - Areia movediça

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05/10/2022 - 420 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Dacre Montgomery

- Ah Dacre, não me fode, cara. - Ryan me respondeu ao rir do outro lado do telefone. - Não vou te passar merda nenhuma.

- Não sabia que protegia tanto assim sua clientela. - ri nasalado, tentando ao máximo não xingá-lo.

- É uma das cláusulas do meu contrato. - ele disse irônico, mas vindo dele, podia ser mesmo um fato. - E eu honro ele.

Eu ri um tanto sincero, deixando a pistola calibre quarenta - a mesma do assalto, coincidentemente - sob meu colo, mudando o celular para a mão esquerda para, assim, conseguir mudar de marcha.

- Um agiota que respeita contratos. - comentei sarcástico, focando a atenção no trânsito. - Mas eu ainda quero saber.

- Para quê? - questionou curioso.

- Não acho que ele seja seu cliente pelos mesmos motivos que eu queria falar com ele. - respondi ao morder brevemente o lábio inferior.

- Nicholas é muito de boa, não estou entendendo seu interesse nele, Montgomery. - comentou. - Seja mais específico.

- Ele compra droga com você? - perguntei; o filho da puta tinha mesmo cara de quem não vivia se não estivesse chapado.

- Não. - respondeu como se fosse uma ousadia supor isso. - Dacre, que caralho você está fazendo?

- Tentando fazer com que você responda onde esse cara mora. Preciso desenhar para você? - eu estava me cansando daquilo.

Pude ouvi-lo suspirar. - Ele fez alguns empréstimos comigo, nada mais.

- Alguns? Alguns, quanto? Seja específico. - usei de seu modo de falar, ainda seguindo em direção ao bairro de Caleb, mesmo que sem um endereço exato.

- O último foi de 30 mil. - disse, desistindo de relutar em me contar. - Mas já teve maiores, em março foram 200, e o filho da puta tirou o rabo da reta com relação ao pagamento, mas estou resolvendo isso. - riu nasalado.

Fiquei alguns segundos em silêncio, tentando me lembrar exatamente das feições e até o que Nicholas vestia na última vez em que nos vimos na cafeteria; não parecia alguém que precisasse de um empréstimo com juros tão baixos quanto um braço ou uma perna quebrada. No fim, Ryan ou até mesmo Sadie não precisavam me contar muito a respeito dele. Nicholas Hanhen era só um cara tão idiota quanto era burro.

- Seu cliente favorito está querendo te dar calote, é? - ri de leve.

Provavelmente, se eu o conhecesse bem o suficiente, o mexicano revirou os olhos com minha ironia.

- Ele fez em nome de outra pessoa, segundo ele. - respirou fundo. - E aparentemente é verdade, mas isso não vem ao caso.

- Quem? Ele não é amiguinho daquele cara que é_ - ele me interrompeu.

- Você já está querendo saber demais, Montgomery. - riu nervoso.

Acho que Collins não conhecia o mesmo Nicholas que eu, porque estava bem evidente que aquilo poderia ser uma mentira. Eu achava, particularmente, que se ele tinha capacidade de incomodar uma ex-namorada o suficiente para ser acusado de injúria e stalking, contar alguma história dramática para enrolar um agiota não era nada.

- Tem certeza que não quer aquela vaga que te falei ano passado? Acho que se sairia bem. - comentou sarcástico.

- E eu poderia cobrar o Hanhen pessoalmente?

Crime Culposo | Vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora