Capítulo 43 - Réu primário

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20/09/2022 - 435 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Sadie Sink

O juízo final bem que poderia ter acontecido, assim eu não precisaria estar lá.

Eu quase podia sentir o peso sobre meus ombros dentro daquela sala da delegacia. Aquela não era a última vez que eu estaria ali, mas eu gostava de pensar que fosse.

Joe balançava a perna freneticamente, enquanto Jenna enrolava os cabelos lisos nos dedos e eu, ao menos tentava, não roer as unhas ao encarar meu reflexo na porta de vidro a nossa frente. A minha respiração estava irregular como sempre, mas eu preferia me concentrar no gosto metálico que invadia minha boca, por estar mordendo o interior da bochecha direita.

Era estranho pensar que a minha liberdade seria advinda da privação da de outra pessoa; talvez eu é quem devesse ser presa. Até pensei em me levantar e simplesmente ir embora, ou fingir uma dor insuportável na barriga, mas não... A droga da minha consciência me impedia de fazer isso ou talvez só fosse o policial parado ali próximo, que estava com os braços cruzados.

Dacre infelizmente não pode ficar para me ajudar a aliviar s tensão da espera e muito menos Maya, uma vez que o delegado D'Almas não achava que ela fosse tão importante assim para algo.

- Será que vão perguntar algo sobre o Sr. Harbour? - Jenna quebrou aquele silêncio com um sussurro.

- Não faço ideia, mas torço para que não. - Joe respondeu, por mais que a pergunta tinha sido para mim.

- Sadie? - ela o ignorou e me chamou. - Está tudo bem?

Não a respondi com palavras, apenas assenti e desviei minha atenção a grande porta de vidro à frente. Havia uma movimentação do outro lado e ainda que o vidro fosse texturizado, eu podia ver plenamente um rapaz com as mãos para trás - algemado talvez? -, acompanhado de um policial, já que facilmente reconheci a farda.

- Minha cabeça está até doendo com essa demora infeliz. - o rapaz resmungou.

Tanto Jenna quanto eu nos abstemos de qualquer comentário a esse respeito; também estávamos esgotadas e não precisávamos de um crachá corporativo para confirmar isso. Particularmente, eu até preferia a demora, assim podia pensar em respostas boas o suficiente para eu não parecer uma idiota completa ou até quem sabe, suspeita de algo, eu tinha ciência que devia muita coisa no cartório.

"Tenho certeza que vai se sair bem, não se preocupe, ruiva. E, por favor, fique atenta ao decote, eu me desconcentrei com ele hoje de manhã, então... Quando terminar, me ligue."; era a mensagem de Dacre, que eu encarava já há pelo menos três minutos.

Eu estava começando a me acostumar com a presença e a sensação de proteção que Dacre me trazia. Era como se eu fosse uma menina de 12 anos novamente, quando se sentia segura sempre que Spencer segurava minha mão como o bom irmão maís velho que era. A diferença agora era que eu não usava tranças e sim, salto alto.

- Faz tempo que estão juntos? - Jenna me chamou a atenção outra vez. Eu a olhei brevemente e ela sorriu de forma discreta, indicando meu telefone.

- Não, poucos meses, na verdade. - respondi bloqueando o aparelho. - Mas que quase parecem ser anos. - suspirei.

- Isso é bom, eu acho. - pausou. - Ainda que faça pouco tempo.

Eu dei de ombros. - Acho que estaria pior se estivesse sozinha. - ri pelo nariz, lembrando-me dos ocorridos dos últimos dias.

- Não necessariamente, Sadie, mas, bom, eu tenho certeza que logo estaremos livres disso. - ela colocou a mão sobre meu joelho e sorriu outra vez.

Às vezes, sentia-me culpada por ter tido pré-conceitos com relação a Jenna; nós tínhamos nossas diferenças, era evidente e a ideia de que fui substituída por ela também não ajudava. Entretanto, nós nos parecíamos muito quando o assunto era toda essa confusão da Conceptum: estávamos quase desistindo de tudo e mandando a merda.

Crime Culposo | Vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora