Capítulo 47 - A porra do amor

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24/09/2022 - 431 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Sadie Sink

As orbis azuis de Dacre, vidradas em mim, me causavam ansiedade; os mesmos olhos que horas atrás me fizeram pensar como eu era sortuda, naquele momento, me diziam que sorte era tudo que eu não tinha.

A droga do gesto gentil, a merda do "não olhe", a arma, agora as notas – que eu mesma recolhi no cofre durante o inferno –. Estava tudo na minha cara e apenas eu não notei, como sempre.

— Sadie, eu acho que nós_ — ele deu um passo em minha direção.

— Não encosta em mim. — falei de imediato, dando um passo para trás e esticando o braço para criarmos uma distância.

Dacre suspirou e passou as mãos pelos cabelos, dando-me as costas por alguns segundos. Eu sentia o meu sangue ferver, mas não dá forma como de fato queria; meu rosto esquentava e eu já me preparava para as lágrimas que logo iam escapar. Claro, eu iria chorar de forma estúpida como sempre fazia.

— Senta, por favor. Podemos conversar sobre isso. — disse em um tom baixo, indicando o sofá, ainda na defensiva.

Eu voltei a cruzar os braços.

— Não temos o que conversar agora, não vê? — questionei, elevando a voz. — Sai da minha casa. — acrescentei. — Anda, pega suas coisas e vai. — apontei para a porta ainda aberta.

— Sadie, eu até pensei em te cont_ — interrompi-o novamente. 

— Penso em quê? — questionei-o. — Pensou em algo antes de apontar aquela merda para mim? Anda logo, pega a Emilly e vai. — completei.

Dacre ficou atônito, não tinha sequer expressão e não me encarava mais. Ele passou a mão pelo rosto, vestiu a camisa de botões que estava sobre o sofá, foi até a cozinha, pegou a jaqueta e passou por mim, que continuava estática na sala. Eu não o olhei, mas pude ouvi-lo abrir a porta do carro e logo passar ao meu lado de novo, parando no corredor, em frente a porta do meu quarto.

— Eu realmente gostaria de te explicar tudo. — ele disse, olhando-me.

— Engraçado como vocês sempre querem se explicar quando tudo desmorona. — virei o rosto, segurando o choro, lembrando-me eventualmente das palavras de Nicholas. — Vai embora logo, Dacre.

Pude ouvi-lo suspirar com um certo pesar, mas ignorei; sua chateação não era maior que a minha. Continuei encarando a televisão, agora desligada, já que não iria conseguir olhá-lo depois daquilo. Meu estômago doía, como naquela terça-feira de merda, e minha cabeça começava a latejar.

— Eu sinto muito por isso. — ele declarou ao passar pela sala, provavelmente com Emilly nos braços.

Só quando ouvi seus passos na varanda, eu me virei. Passei as mãos pelo rosto, limpando as lágrimas mais aparentes e segui até a porta, pronta para fechá-la.

Dacre colocou a garotinha no banco de trás do carro e bateu a porta, olhando em minha direção em sequência. Ele ergueu os braços brevemente, como se questionasse um "É sério que isso está acontecendo?" e balançou a cabeça negativamente; eu me perguntava o mesmo.

— Ainda pode me ligar caso precise, Sadie. Não hesite quanto a isso, por favor. — acrescentou.

— Vai para o inferno, Montgomery. — falei alto o suficiente para que entendesse bem e bati a porta, descontando a raiva. — Vai se foder, merda. — completei, como se ele ainda pudesse me ouvir, escorando as costas contra a madeira maciça.

Crime Culposo | Vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora