Capítulo 23 - Isso não te faz um assassino

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10/05/2022 - 564 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Dacre Montgomery

Bati o telefone no gancho a ponto de jurar que tivesse o danificado. Imediatamente ascendi outro cigarro, já que carregava o maço no bolso. Fechei os olhos por alguns segundos a fim de assimilar e digerir o que eu acabara de ouvir de Scott, porém, aparentemente, aquilo não era algo muito tragável como eu imaginei que poderia ser quando recebesse tal notícia.

Abri os olhos devagar, deparando-me com a moça da conveniência a poucos metros de distância; seus olhos estavam um pouco arregalados. Não sei desde quando ela estava a me observar, mas acredito que há tempo suficiente de ficar em choque com minha atitude.

Traguei o cigarro novamente, olhando-a nos olhos, bem como ela fazia. — Algo de errado? — perguntei.

Ela, quer dizer, Brenda - segundo seu crachá - abriu e fechou a boca algumas vezes antes de dizer. — Eu vim procurá-lo para retirar seu carro, ele está atrapalhando os clientes de abastecerem. — apontou para o pátio.

— E você chegou a cogitar a entrar no banheiro, para me dizer isso, caso fosse necessário? — questionei de maneira irônica, caminhando em direção da Equinox ainda estacionada na bomba três.

— Não, eu_ — dizia, mas a cortei.

— Não faz mal, já estou de saída mesmo. — afirmei ao olha-la de cima à baixo, já que estava parada, estática, à minha frente. Passei a passos lentos por ela e mesmo sem olhar para trás, tenho certeza de que ela me acompanhou com os olhos.

O posto já estava mais movimentado agora, formando uma pequena fila nas bombas para abastecer. Havia pelo menos dois carros atrás do meu, com motoristas um pouco ansiosos demais para o meu gosto; tanto que bastou que eu me aproximasse do carro para que uma série de buzinas soassem. Todavia, minha manhã já estava desgraçada demais para considerar estressar-me com o nervosismo alheio. Apenas mostrei o dedo do meio e entrei. Liguei o rádio, no volume mais alto possível e bebi um gole do café, o qual já estava frio. As buzinas ainda eram audíveis quando joguei o copinho do café pela janela, ainda com o liquido dentro e acelerei.

11/05/2022 - 563 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Sadie Sink

Eu ainda buscava, de todas as formas possíveis, alguma vaga de emprego disponível, fosse pelo próprio Google, mandando e-mails ou vendo publicações no Linkedin; mas não importava, eu poderia vasculhar a internet inteira ou até bater de porta em porta, e não tinha nenhum resultado.

Ainda eram uma da tarde e eu já desejava voltar para cama devido o desanimo. Meu telefone, que estava sobre a mesinha de centro da sala, tocava quase que initerruptamente e eu mesma tinha decido não atender: era a delegacia; então apenas tentava ignorar. Não que eu não estivesse um pouco curiosa para saber do que se tratava, porém, tenho quase certeza que era ainda sobre o assalto e eu já me sentia desgostosa com relação a isso. ainda que eu quisesse muito que o desgraçado que me apontou aquela maldita arma pagasse por toda essa merda.

As vezes, quando me deitava, ainda conseguia sentir-me presa naquela terça-feira nublada, exatamente como hoje. E mesmo que eu já não tenha mais minhas crises ferradas de ansiedade quando penso nisso, eu não podia afirmar que estava livre daquela lembrança. Acho que, inevitavelmente, a insegurança sempre estaria comigo agora.

No começo, o que eu sentia era um medo absurdo, imaginando que aquilo poderia acontecer novamente e a qualquer momento. Depois passou para uma sensação de revolta, já que eu me recordava muito bem do metal gelado em minhas costas, além é claro da situação de merda que o assalto ocasionou. Mas de um tempo para cá, tudo que eu sintia ou pensava se restringia a minha atitude estupida daquele dia; as vezes eu evitava sair de casa ou até mesmo atender ao telefone - como agora - e a policia pedir que eu me explique diante da minha tentativa idiota daquele dia. De fato, eu estava enlouquecendo e o sumiço de Dacre não colaborava em nada com isso, me deixando ainda mais ansiosa. Eu com certeza fiz algo para que agora eu tenha cinco mil dólares em minha gaveta.

Crime Culposo | Vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora