Capítulo 32 - Peixe fora d'água

99 16 132
                                    

20/08/2022 - 466 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Sadie Sink

— Sinto muito, mas vou precisar discordar de vocês. — afirmei séria, concentrada em colocar o creme sobre o capuccino.

— Qual é, Sadie. Você sabe que isso seria o certo. — Jenna disse ao colocar os braços sobre o balcão. — Nós não podemos fazer nada além disso.

— Eu não vou me expor, Jenna, desculpe. — conclui, entregando o copo. Maya nos olhava sem dizer nada. — Eu já tenho problemas demais. — a loira a minha frente sabia que eu mentia, mas optou por ficar calada e não revelar meus verdadeiros motivos para não procurar um advogado ou a imprensa como a outra moça sugeria.

— Se disséssemos algo, duvido que ele sairia da prisão preventiva. Ele não vai ficar por muito mais tempo lá, você sabe disso. — a garota de cabelos lisos ainda insistia.

— Não. — conclui firme, dando-lhes as costas.

— Pensa melhor, Sadie. A Jenna está certa. — finalmente Maya abriu a boca. — Poderíamos pensar melhor.

Olhei séria para ela, obrigando-a a ler em meus olhos que eu não teria condições de arcar com isso financeira e muito menos emocionalmente.

— Eu sei que quer seguir em frente, e acho isso ótimo. — a voz simpática da minha ex-substituta permeia o lugar. — Se você contasse sua história, eu aposto que as coisas se resolveriam depressa. — eu a encarei de novo; seus olhos castanhos estavam vidrados em mim. — Cacete, você teve uma arma apontada para suas costas e o filha da puta não fez nada, além é claro de ser um risco. — disse baixo. — Já pensou como as pessoas vão se comover com isso e pedir por justiça? Você é a chave, Sadie.

— Não. — repeti firme de novo. — Parem de insistir. Eu quero deixar isso para trás e vocês deveriam fazer o mesmo.

A verdade é que a ideia de Jenna - de expor as merdas da Conceptum para que as coisas saíssem do achismo da policia — não era ruim, era ótima na verdade. Todavia, eu não queria os holofotes sobre mim, isto é, não queria que meus pais ligassem a televisão em um dia comum e me vissem sendo manchete por uma história que eu não havia contado direito a eles. Eu estava feliz de deixa-los acreditar que eu estava com uma vaga em uma multinacional engatilhada; eles não precisavam saber que eu sobreviva com 1.500$ e que isso mal dava para cobrir o aluguel, mercado e o maldito tratamento.

— Deus, como você é teimosa. — Jenna suspirou.

— Eu avisei... — Maya murmurou e suspirou. - Aliás, quando vai finalmente ceder a minha ideia de sairmos? — continuou.

— Não sei, Maya. Não estou com cabeça para isso. — respondi-a ao pegar o pedido de uma mulher próximo a elas; minhas bochechas doíam por sorrir forçado o dia todo.

— Não, você não quer ir porque prefere ficar em casa revendo The Walking Dead pela quinta vez. — ela apontou o dedo como se estivesse realmente brava. Jenna riu com isso e eu apenas revirei os olhos. — Sadie, é incrível como você parece ter 50 anos.

— Já disse que vou pensar. — dei-lhes as costas novamente, aproveitando para disfarçar minha risada.

— Como consegue ser tão careta, credo. — pude ouvi-la comentar mais baixo. — Não sei como ele aguenta você. — completou.

— Eu não sou careta. - respondi de prontidão, olhando-a por cima dos ombros. — Eu... — pausei, quase ariscando dizer a bobagem que eu e Dacre fizemos no mês passado ao sair do restaurante sem pagar a conta, mas era melhor manter isso em segredo. — Eu não sou. — digo por fim.

Crime Culposo | Vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora