Capitulo 17- JÚLIA E EU CRIAMOS PROBLEMAS COM UMA ÁRVORE...

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Não era a primeira vez que eu estava no subsolo, descendo escadas sob uma luz de uma chama. Diferente da passagem secreta de Yaacov lá no Templo Elementar, o túnel que descíamos agora era bem mais confortável. Era largo, se não fosse pela escadaria eu diria que era natural, já que suas paredes de rocha eram todas irregulares, com fendas, rachaduras, pequenas saliências... como uma caverna. Sua escadaria não era tão íngreme, o que indicava que não estávamos nos aprofundando muito no subsolo..., mas o melhor de tudo, em minha opinião, era que o túnel não era tão extenso. Após apenas alguns segundos de caminhada sob a luz das lamparinas de querosene, pudemos ver à alguns metros o final do túnel, e a escadaria dando lugar a um piso plano, parecia se abrir para um lugar mais amplo... seria uma galeria da caverna?

Eu começava a me aliviar... até o momento estava indo tudo bem. Mesmo com minha mãe e Yaacov dizendo o quanto Geras era pacífico, eu estava muito apreensivo quando cheguei ali... tinha certeza que alguma coisa daria errado. É, eu sei... muito pessimista da minha parte. Mas os planos de Yaacov, até agora, saiam pela culatra e terminavam em um baita improviso. No entanto, vendo o final da escadaria, comecei a acreditar que tudo daria certo... que conversaríamos com Geras e ele nos daria as informações necessárias numa boa e iriamos embora em um tempo menor do que o planejado por minha mãe, tudo na mais perfeita paz.

Eu estava terrivelmente enganado... o plano sairia pela culatra, e teríamos que improvisar outra vez!

...

Assim que chegamos ao final da escadaria, o túnel se abriu para uma enorme galeria, uma galeria bem interessante.

"Uau! ", eu pensei.

A galeria era alta, uns 6 metros, o seu teto era coberto por estalactites - o que me deixava um pouco nervoso -, eram como enormes lanças apontadas para nós. Em alguns pontos as estalactites no teto se encontravam com estalactites do chão... ou melhor, estalagmites, eu acho. Formando algo parecido com colunas. Não vi outras saídas, ou tuneis, exceto o que havíamos chegado... ali era o ponto final. Agora vou explicar porque a galeria era bem interessante: Primeiro, ela era bem iluminada, mas não por tochas, lamparinas ou fogo... a luz vinha de uma enorme estalactite transparente no centro do teto da caverna, um cone de dois metros todo feito de cristal, dele emanava uma luz tremula. Não me parecia que a estalactite produzia luz própria, era como se conduzisse a luz de algum lugar, como quando água reflete a luz do sol na parede... da estalactite pingavam gotas de água, o que fortalecia minhas suspeitas, talvez estivéssemos sob o rio ali, e a estalactite estivesse conduzindo a luz do dia que atravessava a água movimentada do rio... talvez. Segundo, bem ao centro da galeria, debaixo da estalactite de cristal tinha uma árvore plantada. Isso mesmo, uma árvore debaixo da terra! A água que pingava da estalactite, caía bem em cima dela. Ela devia ter uns 3 metros de altura e me parecia bem saudável para uma arvore que estava dentro de uma caverna... suas folhas estavam avermelhadas e começavam a cair, como todas as arvores da superfície, pois era outono... dela saiam vários galhos retorcidos.

- Um freixo?!- Yaacov pareceu espantado.

- Eu pensei que fosse uma oliveira...- Julia falou ao meu lado. Yaacov balançou a cabeça e afirmou:

- Não... é um freixo mesmo.- Júlia e eu ficamos parados próximos a saída do túnel. Yaacov caminhou lentamente até o freixo. Eu estava achando tudo meio estranho... tudo indicava que Geras, o deus da velhice, era para estar ali. Tínhamos descido a escadaria até ali, onde não tinha mais saída, ali deveria ser o covil de Geras... seria possível aquela árvore ser o deus?

Yaacov tocou no tronco da árvore, ele parecia estar surpreso também.

- Não entendo... não era para ser assim. – Ele cheirou o tronco da arvore, franziu as sobrancelhas, - não! Não pode ser! – Ele virou-se para nós, mas antes que pudesse dizer qualquer palavra, uma raiz enrolou-se nas suas pernas e puxou para uma fenda que se abriu como mágica na parede oposta, e se fechou logo em seguida... tudo numa fração de segundos! Como a língua de um sapo capturando um inseto.

Chama Negra - A origem do símbolo do infinito Onde histórias criam vida. Descubra agora