Capítulo 3- LUNA ME ENSINA ALGUMAS COISAS SOBRE FATIAS DE PÃO.

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Já havíamos corrido aproximadamente um quilômetro floresta adentro. Tínhamos que nos afastar o máximo possível da torre, onde Yaacov ficara lutando com uma serpente colossal, ganhando tempo enquanto fugíamos. Minha costa ainda doía da queda de cima da cerca, porque Luna "acidentalmente" me puxou muito forte e eu caí de costas no chão.

Estávamos à noite, em plena floresta Amazônica... a nossa única fonte de luz eram a lua e as estrelas. Para onde quer que eu olhasse via apenas a vegetação densa, estávamos cercados por árvores velhas e enormes, a umidade alta nos fazia suar mais rápido.

Corríamos em silencio.

O mundo ao meu redor girava... minha mente tentava achar um porto seguro em todo aquele mar revolto em que se encontrava. Em apenas uma noite minha vida inteira se desfez, e começava a se refazer devagar. Mas eu estava cheio de dúvidas ainda. Vamos recapitular o que eu descobrira: 1º- Havia um monte de seres esquisitos atrás de mim... entregadores de pizzas do mal, cobras gigantes; 2º- descobri que Yaacov não era meu pai; 3º- descobri também que minha mãe estava viva, e que nem seu nome verdadeiro eu sabia. 4º- descobri, por fim, que eu não pertencia a esse mundo... talvez eu fosse um tipo de extraterrestre.

Luna diminuiu a velocidade e eu fiz o mesmo. Continuamos andando. A floresta estava mais densa, o que dificultava a entrada de luz... nossa visão tornou-se limitada, seria muito arriscado continuar correndo, com certeza daríamos de cara com uma árvore, já que não enxergávamos muito à nossa frente.

- Eu ficaria feliz se descobrisse que isso é apenas um pesadelo, e que em alguns minutos vou acordar... - quebrei o silêncio, enquanto caminhávamos.

- Quem dera Hector..., mas isso é bem real.- Ela olhou para mim, mordeu o lábio inferior, voltou os olhos para o caminho e continuou, - bem... eu sei que está sendo difícil, é muita informação. Mas antes de qualquer coisa, te aviso: você não pode culpar Yaacov, sua mãe, ou qualquer um de nós por isso... escondemos a verdade de você, porque era preciso. Foi para o seu bem... para o nosso bem. – Ela suspirou.

Era verdade... eu estava com raiva de Yaacov por ter mentido todos esses anos, da minha mãe por simplesmente não estar lá e estava começando a ficar com raiva de Luna por ter sido "comparsa" dessa mentira por todos esses anos. Mas também, não podia negar que bem lá no fundo, eu estava feliz por saber que tinha uma mãe... também gostava muito de Yaacov, eu estava até muito preocupado por ele ter ficado para trás, enfrentado aquela serpente... e era meio difícil ficar com raiva de Luna, já que agora... eu estava meio que... estava sentindo algo diferente por ela... ham-ham..., mas deixemos isso para lá.

- Mas Luna, me explica direito, por favor, o que está acontecendo. O porquê de vocês esconderem isso tudo de mim... e minha mãe? Onde ela esteve todo esse tempo? - Perguntei, enquanto passávamos por um tronco de uma enorme castanheira caída.

Mesmo com a pouca claridade, era possível que enxergássemos um ao outro... estávamos andando muito próximos, pois além do fato da pouca incidência de luz e do caminho não estar sendo tão fácil assim – já que seguíamos por trilhas naturais dentro da mata, e que de hora em hora nos embaralhávamos em cipós, ou a trilha se estreitava em um fim, nos fazendo mudar direção-, estávamos com medo! Isso era um fato... qualquer um sentiria medo naquela situação, mesmo que ignorássemos todo o "contexto", não era fácil estar em uma floresta à noite. E mesmo que não pudéssemos realmente oferecer segurança um para o outro, medo era amenizado pela companhia... só pelo fato de nossos ombros se tocarem, nos fazia sentir mais seguros – apesar de não estarmos realmente! -.

Olhei para o rosto de Luna, ela estava pensando... talvez decidindo por onde começar.

- Olha... realmente à primeira vista vai parecer uma coisa realmente louca, mas é verdade! Para você entender e aceitar o que está acontecendo agora... você precisa entender e aceitar, que além deste mundo, a Terra, existe um outro mundo... o nosso mundo. Lukia... – ela me encarou limpando o suor da testa. Eu adoraria sorrir e zombar dela, eu adoraria não acreditar em suas palavras, mas depois de tudo o que acontecera naquela noite... era impossível não acreditar.

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