Eu acordei sem camisa em uma cama bem confortável. Podia ouvir um som de conversa ao longe. Sentei-me na cama. Eu estava em um quarto enorme. O cômodo era iluminado por luminárias a óleo, que se faziam presentes em todos os quatro cantos. Além disso, era todo pintado em branco e dourado, e além da imensa cama em que eu estava, havia um tapete felpudo, uma escrivaninha ao lado da cama e, no canto do quarto, uma harpa gigantesca brilhava refletindo a luz pálida das luminárias.
Eu toquei meu ombro, onde havia sido atingido pela flecha, na parte de atrás pude sentir apenas o relevo da cicatriz, já na frente havia apenas uma cicatriz irregular que aparentava ter sido o que sobrara de uma ferida muito antiga e não de uma ferida aberta há poucas horas.
Nesse momento Hebe entrou no quarto. Ela segurava um recipiente de porcelana com uma das mãos. Assim que me viu, sorriu só com um canto da boca, o típico sorriso de superioridade.
- Então você já acordou? - Ela se aproximou, colocou o recipiente na escrivaninha, então se sentou na cama ao meu lado. A deusa, sem sequer pedir permissão, pôs a mão na minha testa. No reflexo, me inclinei para trás, eu não fazia ideia do que estava acontecendo-, não seja bobo, rapaz. Se eu fosse te fazer algum mal, você nem teria tempo de ver - ela disse com uma sobrancelha arqueada.
Eu não tinha como discordar, não depois da luta que presenciei.
- O q-que aconteceu? - Eu perguntei baixo, não conseguia esconder o tom de medo da minha voz.
- Geras acabou salvando todos vocês- a deusa molhou a mão no líquido que estava dentro do recipiente e então passou no meu ombro outrora ferido-, se não fosse por Adrastéia, teria destruído todos vocês-, eu senti todo o meu ombro se resfriar, era como se uma brisa suave soprasse por dentro e por fora dele, com certeza alguma mágica da deusa. - Enfim, Geras é muito amigo meu, se tem um ser de quem eu ainda valorizo os conselhos, é Geras. Ele mandou que Adrastéia me pedisse para recebê-los.
- Onde está todo mundo?
- Estão com as musas no salão-, a deusa enxugou a mão na minha calça, eu não ousei reclamar -, exceto Yaacov, a quem odeio com muita força. Ele deve estar em seu transporte na campina, consigo sentir sua aura nojenta daqui.
Eu pensei em perguntar o porquê, só sabia que eles haviam tido um lance, mas a raiva que ela parecia sentir me fazia pensar que talvez algo bem feio houvesse acontecido entre eles. Resolvi deixar quieto, ela estava sendo amistosa, não queria tocar em uma ferida.
- Então você vai nos ajudar?
- E já não ajudei? - A deusa se levantou com o mesmo sorriso de superioridade no rosto -, eu não os pulverizei, os recebi em minha casa e ainda tratei os teus ferimentos... - Ela pegou o recipiente em suas mãos, se virou pra mim, me encarando-, o que mais você quer?!
Fazia muito sentido o que ela alegara, mas eu tinha que insistir um pouco.
- Que nos ajude contra Apoliom.
- Porque eu deveria?
- Para salvar Lukia.
- Salvar Lukia ou os Elementares? - A deusa balançou a cabeça -, houve um tempo em que esses assuntos me interessariam... Hoje não ligo mais. Seja lá o que vai acontecer não me importa. Mesmo que Geras insista em lhes auxiliar, eu não irei me meter. Ainda mais pra ajudar Yaacov. Pra falar a verdade, se pudesse, nem a Apoliom eu concederia a minha parte quando ele viesse, mas não posso voltar atrás... Maldito o dia em que aceitei isso.
- Quer dizer Apoliom ainda não veio até você?
- Não -, Hebe começou a caminhar em direção a saída -, e você já está bem, se vista e desça para o jantar. Serão tolerados aqui até o amanhecer. - A deusa saiu pela porta, me deixando sozinho novamente.
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Chama Negra - A origem do símbolo do infinito
Adventure"A antiga guerra contra os deuses, deixou para trás maus legados..." Hector, tem 15 anos e vivia uma vida normal... o mais normal possível que se consegue ter, sem uma mãe. Isso, até ele descobrir depois de uma visita inesperada a noite, que os mito...