Eu nem pude prestar muita atenção ao lago.
Mesmo que aquele local tivesse sido "palco" de momentos especiais com Luna, por exemplo... quando caímos de uma altura enorme nas suas águas geladas, ou quando quase fomos mortos pelo Golem e tudo mais - ei, eu não disse que foram momentos bons, disse apenas: especiais! -. O fato era que Luna estava me preocupando. Eu não tinha muita experiência com o ciúme – nem com namoros -, eu realmente não sabia como lidar com aquilo. As ações de Luna estavam normais e não estavam ao mesmo tempo... sei lá! Era como se telepaticamente, ou pelos olhos, ela transmitisse que eu, de alguma forma, estava errado... ou era alguma coisa no seu tom de voz tranquilo e nos movimentos calmos demais... eu realmente não sei! Ela estava muito normal. Normal de um jeito que me fazia começar a acreditar que eu realmente estava errado, que era ela quem portava a razão... droga! As mulheres têm esse poder... o poder de fazer você se sentir culpado sem pronunciar uma palavra sequer!
- Me desculpa... – Eu disse quando voltávamos. Eu não havia feito nada demais, mas me sentia culpado mesmo assim. Porque? Os poderes femininos haviam me vencido. Sofia abafou um sorriso ao meu lado.
- Desculpa-lo pelo quê? – Luna me perguntou despreocupada, passando os olhos rapidamente pelos meus, depois para o livro na minha mão. Cara, como é que elas fazem isso?! Eu estava me sentindo um lixo.
- Sei lá... acho que você não está agindo normal. – Nós estávamos cruzando os portões quando disse isso. Sofia saiu de fininho, quando Luna parou bruscamente e me encarou.
- Eu estou sim Hector... estou agindo normalíssimo.- Ela escorou as costas no portão de madeira, cruzou os braços enquanto fuzilava-me com os olhos – você que está me pedindo desculpas sem nenhum motivo... por acaso fez algo que, segundo o seu julgamento, necessite do meu perdão? – Ela levantou a sobrancelha esquerda enquanto me encarava.
- Se for por causa da...- ela apertou o olhar... eu respirei fundo. Aquilo significava que eu deveria usar as palavras com cuidado. Olhei ao redor, vários Mistos treinavam com espadas ainda, Yaacov comia um hambúrguer enquanto admirava sério sua estátua, Mark jogava xadrez com um garotinho, pude notar que seu pai não estava por perto, teria partido talvez? ... – olha Luna, - eu balancei o pé, chutando levemente o ar. – O que eu vou dizer é o que você já sabe... eu te amo, e você sabe disso! Te amei na Terra, te amo aqui agora! - A expressão dela se suavizou, - sabe... mesmo quando tudo ficou mal, quando tudo ficou difícil... eu continuei te amando! – Ela deixou um sorrisinho escapar no canto da boca, eu entendi que estava no caminho certo. As mulheres, são poderosas, mas como todo ser superpoderoso, tem seu ponto fraco... o "calcanhar de Aquiles" de toda mulher é sua fraqueza por palavras bem colocadas! Então eu continuei, - eu quero muito Luna... quero de verdade mesmo, que tudo isso acabe... essa guerra, os conflitos! Quero ter mais tempo para você, ter tranquilidade quando estiver contigo... não viver nessa constante pressão, como se todos estivéssemos com um alvo nas costas! Eu quero que fiquemos em paz... eu só quero cumprir sua profecia...- eu estava abrindo o meu coração. Me aproximei mais um pouco. Ela fez um biquinho, como se estivesse vendo um poodle cor de rosa... seus ombros caíram mais relaxados.
- Owns... que fofo Hector! – "Cesta! ", comemorei em minha mente. Ela passou os braços em volta do meu pescoço.
- Não precisa ficar com ciúmes! – Completei espontaneamente, movido pela empolgação - quase pus tudo a perder -. Luna tirou rápido os braços do me pescoço.
- Ninguém aqui está com ciúmes! – Ela cruzou os braços de novo.
Dizem por aí que são raras as mulheres que assumem o ciúme... eu tinha certeza que Luna estava, o que inclusive era bom, porque indicava que ela gostava realmente de mim... assim como as nuvens escuras indicam a chuva, o ciúme indica o amor. Mas como ela não confessava, tive que fazer uma "saída de mestre".
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Chama Negra - A origem do símbolo do infinito
Aventura"A antiga guerra contra os deuses, deixou para trás maus legados..." Hector, tem 15 anos e vivia uma vida normal... o mais normal possível que se consegue ter, sem uma mãe. Isso, até ele descobrir depois de uma visita inesperada a noite, que os mito...