O vazio do escuro é tudo que os olhos fechados de uma garota prestes a morrer veem. Nada ouve, nada sente a não ser o cair no oblívio, apesar de ainda estar parada, presa em sua própria mente. Quando tempo está a despencar? Quanto sonhou no inexistente?
As respostas a tais questionamentos não são facilmente encontradas, a garota nem ao menos se perguntou sobre isso. Tudo que se duvidou foi sobre o preto em sua frente, monótono e inalcançável. No entanto, a mera ausência de luz parece palpável para a pequena jovem e, por isso, ela ergue os seus membros imaginários em direção a essa escuridão, apesar de saber que não a estrelará em seus dedos.
Todavia, a resposta de sua única pergunta foi respondida quando seus braços se esticavam o máximo que podiam. O negro rachou.
Um zumbido surge em seus ouvidos, girando ao redor de sua cabeça em um ciclo constante, mas irregular. Devido a esse desconforto, as flácidas pálpebras de uma renascida do sangue se abrem com enorme esforço.
A primeira coisa que conseguem distinguir do turvo é uma pequena mosca que gira ao redor de sua cabeça, assim como um abutre rodeia ao redor de um cadáver. Ali está a origem de tal ruído irritante, um mero inseto repugnante.
Apesar de conseguir mexer os seus olhos, o restante de sua carne parece ainda adormecido, pois ela não consegue mexer nem o mísero dedo de suas mãos. Dessa forma, ela ficou condenada a ver o teto sobre a sua cabeça, o qual desconhece a quem pertence.
No máximo que seus olhos conseguem chegar à direita, a jovem nota o topo de uma pequena janela oval aberta. No início, a poderosa luz do sol cega aquela que tanto esteve na escuridão, no entanto, após contemplá-lo por algum tempo, o tão radiante decide parar de castigá-la. O lindo céu azul se estende sem que haja se quer uma mísera nuvem atrapalhando a sua glória.
A jovem se pergunta como uma cor tão monótona pode ser tão mais linda do que outra. Talvez a resposta da pergunta extravase o mero aspecto, afinal, somente uma delas mostra o quão delicado é a vida e, já a outra, mostra o motivo de preservá-la.
Após observar o pálido azulado por um tempo, os movimentos da recém-desperta retornam lentamente. Sua cabeça começa a fazer movimentos mais ousados, permitindo à jovem olhar para os cantos escondidos de suas pupilas.
O horizonte por detrás do vidro empoeirado é repleto de árvores com os mais variados tons de amarelo e laranja. Alguns pássaros voam freneticamente para fora de seus ninhos em busca de sementes para sobreviverem ao soprar do frio, enquanto outros já abandonaram suas árvores há muito tempo quando fugiram para áreas mais quentes.
Nesse frenesi pela sobrevivência, a de olhos verdes apenas admira os animais, sem saber de fato o quão agoniados estão pela chegada da morte.
Depois de um tempo, ela decide espiar o restante do cômodo no seu lado esquerdo. Nele há alguns móveis simples de madeira velha, como um armário apodrecido, uma cômoda torta e uma pequena cadeira de balanço.
O único destes itens que chama a atenção da jovem é o banco. Suas pernas finas parecem prestes a quebrar, enquanto seu rangido é extremamente longo e desconfortante, só perdendo para o zumbir da mosca.
Entretanto, não é a cadeira em si que chama a atenção da garota, mas sim o que se senta sobre ela. Um homem extremamente grande e robusto se exprime na madeira enquanto olha através da janela com um olhar distante.
A de olhos verdes esmeralda tenta chamá-lo, mas sua garganta está extremamente seca, não saindo nada mais do que um mero ruído abafado pelo ar. Dessa forma, ela não consegue se comunicar de nenhuma forma com seu companheiro.
Além disso, ele parece não perceber o despertar dela de imediato, parece muito concentrado em sua própria mente. Por isso, ela tenta se mover o mais abruptamente possível para lhe chamar a atenção, todavia, seu corpo faz apenas pequenos movimentos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cursed Dreams
AdventureQuanta dor é necessária para se corromper um sonho? Em um mundo destruído pela recente queda de um império expansionista, Aurora, uma jovem rodeada de mistérios sobre suas ambições e seu passado, procura por pessoas amaldiçoadas para que, de alguma...