XXXVIII. Guerra

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As mais altas bandeiras estendidas em direção ao céu nublado prenunciam o começo da guerra, a tão proclamada batalha de Sunderland em fim chegou à muralha da metrópole. Dezenas de milhares de soldados, sob o mesmo brasão imperial, cercam a glória capital de Occitânia tão rápido, que as forjas continuam a fumegar como se nada acontecesse.

O marchar de tamanha legião vibra a terra e chacoalha a neve no topo das pedras empilhadas, tal exército parece imbatível enquanto cata o hino imperial o mais forte que pode. Além disso, seu poderio é ainda mais alavancado pelo montar de centenas de catapultas estilo manganela, aríetes e torres de cerco. Como um exército tão grande conseguiu se locomover sem ser percebido?

Na única defesa da cidade, os sentinelas tocam os sinos de alarme desesperados, no entanto, suas utilidades são questionáveis, dado ao fato de que é impossível que alguém naquela metrópole não tenha percebido a gritaria que verbera pelas vielas em pânico.

Correndo o mais rápido que consegue, Moretti se move em direção ao simplório castelo ao meio do desenvolvimento no coração da cidade. Ele nem ao menos sabe o que realmente está acontecendo no lado de fora, apenas escuta o marchar.

Em seu caminho, a neve que mancha o chão é totalmente desfigurada pelas centenas de passos desesperados dos moradores da futura ruína. Seus rostos expõem o pavor que passa por suas mentes perturbadas enquanto procuram seus familiares ou abrigos, todos igualmente inúteis naquela situação.

Uma multidão se formou nos arredores do centro político, com súplicas por proteção dominando os ouvidos do rei, apenas um ruído comum para uma pessoa que encarou a guerra por sete anos. O tamanho do desespero do povo é tanto que nem ao menos notam a presença dos sem mãos em seu meio, o que pode ser justificado pela falta de presença dele para o povo, um monarca discreto.

Seus olhos se prendem à principal entrada do edifício rochoso, no entanto, não conseguem ver se quer uma brecha naquele mar de pessoas, as quais empurram, cada vez mais, uma barricada de soldados com escudos e porretes. Suas posições estão prestes a serem quebradas pelo levante.

Obviamente, o grande general não se enfia naquela confusão generalizada, pois não há formas de entrar naquele local sem que dezenas de pessoas o sigam. Por consequência, seus passos vão na direção oposto, bem em frente a uma pequena praça vazia, a não ser pelo resto das tendas de tecido sujo e por dois soldados do reino.

Ao se aproximar deles, o rei é reconhecido e reverenciado brevemente, dado a urgência da situação. Os homens explicam que estão o aguardando para o início da reunião com o alto escalão militar e o acompanharão até lá.

Moretti nada diz, apenas demonstra pressa por seus olhos cansados e, assim, não demora para ser levado para uma passagem secreta perto de uma estátua.

Enquanto o caos se instaura por dentro da muralha, três pessoas se espreitam pelo bosque sem vida, vendo ao longe o preparar das catapultas pelo exército invasor.

Os olhos da jovem tremem ao ver os símbolos de seu passado dominando o horizonte prestes a ser arruinado. O escorrer de suor em sua pele e o forte bater de seu coração devido ao treinamento e ao beijo são ainda mais intensificados, mas dessa vez fortalecidos pelo medo.

Por alguns minutos, não há reação de nenhum deles perante os invasores, tudo ainda parece impossível demais para ser verdade, a guerra e a morte já deveriam ter acabado.

Todavia, tais preocupações são esquecidas ao se depararem com o aproximar de homens vestidos como a antiga guarda, os quais adentram na inóspita floresta, procuram provavelmente por sentinelas ou passagens secretas escondidas por baixo da neve. Por este motivo, os três companheiros se escondem mais fundo no bosque, até que não se distinguem dos pálidos brancos e marrons.

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