XXIV. Recôndito

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*Uma semana depois*

O uivar da escuridão silenciosa ecoava entre os pastos, os animais dormiam em seus celeiros, confiando as suas vidas nas paredes de madeira que os rodeavam. Com noites de insônia, os fazendeiros perguntavam-se como pagariam os dízimos da terra no inverno, afinal se encontravam em terra do Vaticano.

No meio do terreno existia uma pequena vila, a qual só servia para vender o excesso de mantimentos, talvez por isso se encontrava tão vazia nos últimos dias, ninguém pretendia comercializar suas reservas. A única construção de pedra era uma igreja desproporcionalmente grande comparada ao número de habitantes. O templo era guardado por dois templários em frente a porta, a única entrada do local, uma vez que não havia janelas no templo incomum, como se quisesse esconder seu interior. O que uma força de renome fazia em uma terra tão desprezível?

Um galopar se junta ao vento, ecoando nas finas tábuas, os soldados fiéis ficam em estado de alerta, não havia motivos para alguém se aproximar naquele horário. Um dos renomados segura uma tocha e uma espada, preparado para um conflito, o outro fica à prontidão na entrada, nada adentrará na igreja.

O iluminar do fogo revela um cavalo parado, um vulto coberto de trapos guiava o animal. O militar não se amedronta, questiona sobre a origem daquele que se escondia no escuro. Em resposta a isso, uma moeda de ouro é lançada pelo montado, girando debaixo do resplendor da lua.

Voando até os pés do militar, a dinheiro cai com uma face estranha, um "M" pintado de sangue tampava o brilho do metal. O recado foi dado, a hostilidade se extinguiu, o soldado acomoda a sua espada na bainha e se abaixa para pegar a moeda, enquanto o encapuzado descia do cavalo e caminha até o portão. Com uma recompensa idêntica, o soldado que protegia portão o abre.

Dentro era luxuoso, diversas estátuas de anjos e santos davam volume as paredes rochosas, já as pinturas e os vitrais davam cor a capela desnecessária. Os bancos eram de madeira nobre, não havia sequer uma imperfeição nas dezenas de fileiras. Sobre o altar, diversos detalhes em ouro compunham a grandeza do monumento.

Um padre estava ajoelhado a frente de uma imagem da Virgem Maria, parecia orar. Tirando os trapos que cobriam a sua face, o convidado mostra suas deformações e cicatrizes, era Mertivo. A sua pele como o bronze estava coberta por feridas ainda abertas, e ainda assim, o mercenário não demonstrava querer uma oração.

— Espere um segundo, ovelha. — O padre pede sem olhar para trás.

— Tenho pressa. — Mertivo responde, se aproximando da figura religiosa, ele nota um símbolo de ouro na estátua, um olho com a pupila quadrada de ouro bem no meio da santa.

— Por vir nesse horário, imagino não queira se confessar. — O padre presume enquanto se levantava.

— Tenho uma informação ao... Vaticano. — Sua voz continha uma entonação diferente ao dizer a última palavra.

— A igreja agradece o seu apoio. — O sacerdote estende a sua mão, onde é colocado uma carta por Mertivo. — Os olhos de Deus te recompensarão muito bem.

— Prefiro os olhos "dele", pagam melhor. — Mertivo responde enquanto observava a leitura da carta pelo sacerdote.

— Não temos discriminações por muçulmanos, a sua religião não importa, só o conteúdo no papel é relevante. — Ao colocar sua mão debaixo do pedestal a qual se encontrava a santa, traz consigo um saco pesado. — Tenha uma boa noite e nunca mais volte aqui.

— Conheço o procedimento. — Mertivo responde enquanto contava as centenas de moedas de ouro escondidas no simples pano.

Depois de alguns segundos conferindo o saldo, Mertivo se retira da catedral, recompensando mais uma vez cada soldado com uma moeda de ouro antes de montar em seu cavalo. O som do galopar some tão rápido quanto outrora surgiu.

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