XV. Desavença

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A repleta noite tomava o horizonte afora, fazendo sombras por cima do pequeno mundo abaixo, escondendo presas e despertando predadores, um ciclo da vida que acontecia sem parar por diversas eras.

Abaixo das nuvens cinzentas, entre as mais inóspitas florestas mal tocadas pelos homens, havia uma pequena estrada de terra tomada pelo mato, sendo seu único registro de existência a falta de árvores em seu trajeto. Nenhuma pessoa ousaria usar aquela abandonada estrada imperial, já que qualquer animal podia espreitar por ali.

Porém, algo estranhos acontecia, todos os animais, independente do tamanho ou espécie, fugiam aos montes da área desarborizada, aparentemente com medo de algo se aproximando através do estreito corredor.

Um grupo de três pessoas andavam pelos espinhosos arbustos, provavelmente por ser um caminho onde não poderiam ser facilmente seguidos, principalmente por um batalhão inteiro. Aurora caminhava sem a menor ideia do que seria em sua frente, só havia flora no seu pequeno campo de visão, problema esse que Wem não sentia muito, pois dificilmente plantas rasteiras alcançam algo próximo de dois metros.

Um silêncio se mantinha na floresta, mas principalmente nas pessoas, devido à presença do novo membro, que ainda tinha um certo teor de estranhes em ambas as partes devido como havia entrado no grupo.

Querendo apaziguar a situação, Aurora se vira para Sadh e começa a perguntar coisas supérfluas, entretanto a conversa não rendia muito, mesmo com seus esforços insistentes. Assim, quando ela estava prestes a desistir de sua investida, Wem pergunta algo.

— Qual os seus custos?

— O-os meus? B-bem... os das lâminas, quando eu corto alguém, um corte é feito no meu corpo... — Sadh responde com medo.

— Por isso, quando você me machucou um pouquinho, surgiu um rasgo no seu braço! Não gostei desse custo, deve doer... mas e o outro? — Aurora monologa com curiosidade.

— O-o outro é quando eu uso, fico mais velho...

— Por isso esse rostão de senhor! Essa também não é legal... única que eu não achei tão ruim foi a do Wem! Nem dá para sentir nada!

— Não dá? — Sadh observa disfarçadamente a criatura gigantesca e repudiante.

— Como que a Aurora começou a usar maldições?

— Wem pergunta cortando o diálogo anterior.

— Eu? Foi quando tava lutando com Sadh e... — Aurora tenta responder animada, porém é cortada pelo autor da pergunta.

— Eu sei disso, como usou?— C-como? Eu não sei...— Quando você ativou os olhos de estrela?

— F-foi depois que eu a machuquei. — Sadh responde acuado.

Sem mais palavras, cortando o fraco vento das árvores, um soco, não qualquer golpe, um que potencialmente poderia matar qualquer ser vivo daquele planeta. Vinha por um aliado, o mesmo que fazia as perguntas, com o alvo na criadora de tal seleto grupo. Pela iminente morte, Aurora em um piscar muda seus olhos, com as estrelas se sobrepondo a esmeralda.

Ao ver tal mudança, o soco começa a se dissipar, sendo freado pelo próprio autor, porém Aurora parecia ainda vê-lo como um oponente, assim saca sua espada e defende o ataque, que ainda a joga alguns pequenos metros sem a derrubá-la.

— Que fod... O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? — Sadh grita, porém sem coragem para intervir.

Sem resposta de nenhuma das partes, Aurora toma a iniciativa e pula tentando um ataque que vertical. Porém, sem o mísero esforço, Wem segura a lâmina com seu braço cristalizado, assim a prendendo, de tal forma que nem um tremor, a mais leve das ondulações poderiam se mover através dos seus gélidos dedos.

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