Prólogo

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O uivar da guerra apavora a noite mórbida com estrondos de metal e gritos de desespero. Inúmeros cometas flamejantes rasgam a escuridão até encontrarem carne para consumir até o desdém. Não importa se não há sangue em suas mãos; a fome das chamas não distingue inocentes

O desmoronar da prefeitura condena a cidade arruinada, não há mais becos para os amedrontados defensores se esconderem, resta apenas fugir do inevitável. Aqueles escolhidos para proteger as ínfimas vidas dos moradores correm ao lado das mães em prantos, desejando que elas tropecem para servirem de distração.

Diante do medo avassalador da morte, apenas um ser consegue reorganizar as tropas em frangalhos, não por respeito ou devoção, mas sim devido ao pavor esmagador que emana daquele homem, maior até mesmo do que o terror causado devido às centenas de invasores que avançam com suas espadas e lanças.

As grotescas estrelas cadentes incendiárias iluminam um pouco o líder daquele batalhão arruinado, que está encasacado em uma roupa militar. Através desse brilho minúsculo, pequenos reflexos avermelhados são visíveis no aparente braço direito do brutamonte, como se fossem pedras preciosas de carmesim.

Com as poucas dezenas de remanescentes reunidos para o abatedouro, o último conflito daquela noite maldosa se inicia. Com o tremer das mãos dos defensores atrapalhando o enfincar de suas armas, serão totalmente massacrados.

Por outro lado, aquele que os fazem lutar mesmo diante do oblívio massacra qualquer um que se encontre no alcance de seus braços, nem mesmo os seus aliados são poupados da chacina. Carne e metal são dilacerados igualmente em um frenesi poético e sanguinário, formando uma obra de arte retorcida conforme os defuntos se acumulam na vala comum.

Os invasores até tentam machucar o imparável com suas armas ridículas, mas não importa quantos cortes façam na besta de Valônia, o único sangue que mancha as vestes do proclamado demônio são destes ousados.

Quanto mais tempo o combate suicida se estende, mais rasgos e cortes assolam as roupas do aparente invencível ao ponto de deixarem muita de sua pele intocada exposta. Desse modo, sua aparência se torna cada vez mais macabra, o que é realçada com a sua incrível altura de 2,30 metros.

O tamanho empenho do comandante dos condenados é justificado pelo simbolismo da queda desta insignificante aldeia. Ela é a última barreira antes que os revolucionários cheguem de frente das impenetráveis muralhas da capital da antiga maior nação desta era, o Império Valôm.

O morrer deste batalhão acelerará o fim desta guerra civil tão custosa, 10 anos de puro genocídio sob ideais distintos. Talvez seja por isso que o grande general desta potência desmantelada sacrifica os seus homens neste combate perdido, ou talvez não, é difícil distinguir as pretensões de uma mente insana coberta de sangue.

Em uma pequena colina perto da carnificina, dois homens a cavalo observam o embate já quase decido, longe de qualquer ameaça. Um deles usa um pergaminho e anota o que o outro narra, talvez uma descrição do combate em sua frente.

A aparência destes são ofuscadas pelas sombras ocasionadas pelas chamas em suas costas, as únicas coisas que distinguem um deles da mera silhueta escura são suas mãos, feitas inteiramente de madeira. Ele é o responsável pelo exército invasor.

Apesar de seus olhos atentos naquilo que descreve, é impossível para um humano diferenciar de fato algo entre os clarões das flechas iluminadas, por isso, nem ao menos percebe que cair de inúmeros dos seus ao lado de uma floresta.

O casaco totalmente rasgado escorre uma quantidade inimaginável de sangue pelas pontas e pelos tecidos soltos. Mas o homem ainda se ergue como se nada tivesse o acertado, mesmo que os recortes em suas vestes digam o contrário.

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