XVI. Barganha

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A noite se punha lá fora, os gélidos ares cortantes dominavam as últimas noite de outono. Em uma pequena vila agrícola, seu povo se despunha, indo para suas pobres casas de madeira ou fechando os pequenos comércios que mal vendiam.

Devido ao tamanho e a localização, não existia nenhum tipo convencional de acomodação para estrangeiros. Entretanto, ali existia uma igreja minúscula, que servia apenas para receber os poucos moradores. Todavia, devido às guerras e a instabilidade das terras, alguns imigrantes passavam ali em busca de abrigo, assim o templo os comportavam por uma ou duas noites.

Não havia muito movimento, porém ainda sim a igreja era menor que ele, superlotando seus aposentos, tanto que até mesmo a capela era usada para abrigá-los, onde diversas pessoas estavam sentadas, esperando para dormirem no chão.

Mesmo com o aperto local, três pessoas pareciam mais isoladas das demais, sendo foco de olhos disfarçados, pois segundos as fofocas que corriam de boca a boca, o maior dos andarilhos, não parecia uma boa pessoa.

Aurora estavam bem no meio deles, segurando um dos casacos de Wem sobre seu corpo para se manter aquecida. Parecia receosa, olhando com certo medo para aquele local, já que não havia tido uma das melhores experiências quando esteve em um tempo semelhante. Porém, não era só isso que a afligia, a relação entre ela e Wem não estava ótima desde o incidente mais cedo. Já que ele nada disse sobre o que seria esse passado, que se lembrou ao vê-la com aqueles olhos, e pelo que ela conhecia, só havia despertado eles pela primeira vez nas catacumbas, sendo que foi hoje que ele a olhou daquele jeito.

Isso a intrigava, será que foi outrora? Quando ainda era uma criança? Dessa época, suas memórias não são tão claras, sendo rebuscadas e de certa maneira, Aurora não queria se lembrar delas. Porém, uma era bem vivida em sua mente, quando ela o viu pela primeira vez, entretanto, isso não parecia ter alguma relação com o problema do presente.

Por esses motivos, suas conversas ficaram de lado, focando em ouvir os cochichos daqueles que repousavam no mesmo cômodo. Assim durou por algum tempo, até quando já estava escuro lá fora, uma porta para dentro da igreja se abre, trazendo um pouco de luz de velas para o lugar.

Duas freiras e um padre adentram a capela, trazendo consigo uma panela e algumas cumbucas. Eles as depositam em cima do altar de madeira, e saem distribuindo um pouco de sopa para aqueles desabrigados. Uma freira entregou comida para aqueles mais distantes, um pouco nervosa devido à sensação que exalava deles, porém como serva de Deus, não podia deixar de fazer o bem por um conceito seu.

Ela entrega as sopas e rapidamente se retira, indo até o padre para continuar alimentando as outras pessoas. Aurora foi a primeira receber, já que praticamente pulou em direção aos pés da jovem piedosa devido a sua fome, assim comia rapidamente, já que um estomago vazio é o melhor tempero.

O segundo foi Sadh, que agradeceu com um gesto, sua fome não estava tão acentuada, já que não se sentia confortável ao lado daquele gigantesco homem. Por isso fica por alguns segundos olhando para aquela aguada sopa, enquanto Aurora engolia tudo ao seu lado, assim suspira. Logo em seguida dá um gole, pensando que emagreceria naquela longa viagem.

Por último foi Wem, que apenas pega das medrosas mãos da freira sem agradecer. Assim os 3 comem a simples sopa.

Só aquela simples sopa de legumes foi entregue pela igreja, o que era compreensível pelo número de refugiados, assim não havia muitas coisas para se fazer ali, já que as portas já estavam fechadas, sem nenhuma fonte de luz no ambiente. Por isso Aurora acaba decidindo dormir mesmo com o estômago ainda faminto.

A noite seguia tranquila, com o silêncio tomando a cidade adormecida, entretendo, no meio da escuridão um som se aproximava. Na frente da igreja estava o padre, esperando sozinho no frio, tentando ver o que vinha.

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