XL. Sacrifício

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A fuligem negra alcança o mais alto dos céus brancos, tornando as suas nuvens tão belas em um nevoeiro cinzento. O sol tímido perante a carnificina limita-se a esconder por detrás das massas de gelo escurecido. Desse modo, resta apenas o brilhar das labaredas de almas conturbadas para registrar tamanhos pesadelos hediondos.

O tocar do carmesim escaldante é o menor dos tormentos daquela terra esquecida por Deus, este oferece o melhor dos destinos para aqueles desesperados, uma morte certeira. Afinal, as outras opções levarão a muita dor, medo, raiva e pânico antes que a morte se deleite com seus cadáveres deploráveis.

Não há escapatória para a prévia do purgatório, a dita invencível muralha, agora, apenas serve como uma barreira de uma grande vala comum. A inexistência de esperança, sonhos ou fé que acentua a realidade caótica daquele meio, não há ninguém para salvá-los.

Em tamanha calamidade pela civilidade e pela vida, um pequeno morro distante da metrópole é o melhor local para assistir ao espetáculo mórbido. Seus assentos tão preciosos já estão ocupados por algumas dezenas de homens a cavalo, todos com a manta de cruz vermelha. Os olhos aterrorizados pelo profano ardente são uma característica comum a todos, menos para um homem, o qual se posiciona o mais próximo possível da ruína.

Seus cabelos loiros envelhecidos balançam com o ventar sombrio, brisas quentes e frias se colidem em seu corpo junto ao cheiro da morte. Tal junção perturbadora não parece incomodar aquele que todos respeitam, porque sua face está agradável como sempre, mesmo que observe a pequena fagulha do inferno.

O silêncio entre os homens de Deus dura por muito tempo, nenhum deles tem a coragem de questionar as ações, ou a falta delas, do mais santo dos soldados. Por causa disso, apenas se limitam a observar os horrores do desmoronar da cidade.

Em meio a tantos desprazeres, um mero e insignificante fiel se revolta pela ausência de reação de seu líder. Se não forem interferir na batalha invencível, ao menos fossem buscar reforços o mais rápido possível, mas nada disso é feito, apenas testemunham ao genocídio.

Com o bater de suas botas, seu cavalo começa a galopar em direção ao Grão-mestre, o único que ousa andar dentre as dezenas. Conforme se aproxima, mais olhares de seus semelhantes são encravados em suas costas, todos o julgam por agir sem uma ordem direta do negociador.

Quando para por detrás do templário quase divino, seus braços tremem e seu corpo sua, está nervoso. Talvez tenha medo da guerra em sua frente? Ou se amedronta com o Meroveu? Após engolir sua saliva a seco, sua boca se abre para pronunciar suas reclamações, todavia, a mesma gagueja tanto que as palavras saem incompreensíveis.

Os dois homens ao lado do admirador ouvem tais tentativas falhas de diálogo e, em resposta a isso, se viram em direção ao hesitante. Suas máscaras de prata brilhante aterrorizam ainda mais o templário ousado, o qual cessa suas intenções falhas de uma vez.

Tais seres mascarados nada dizem, apenas observam a face pálida do já não mais revoltado, ou pelo menos é isso que ele pressupõe, pois os olhos deles se escondem na escuridão do metal. Quando se desculparia e voltaria para sua posição, ele escuta uma voz.

— Fale o que deseja. — Meroveu ordena, sem desviar sua face do caos, parece no mínimo interessado.

— S-senhor... — A garganta do homem se seca. — N-nós v-vamos a-ajudá-los?

O templário não se conforma com o tamanho medo que demonstra, ele é um dos humanos escolhidos por Deus para proteger essa terra do pecado, por que se amedrontar perante o seu líder?

Mesmo relutante com seus sentimentos, basta o ouvir da voz gentil, mas imponente do Grão-mestre para o templário congelar de novo. Aquele homem tão simpática ainda é bastante aterrorizante.

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