XXXVI. Cômpito

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*Maciço Alpino, uma semana depois.*

Os fortes ventos advindos dos cumes das montanhas são extremamente rigorosos por causa do inverno. Devido a isso, toda a encrosta de pedra cinzenta se torna branca, além de que os caminhos entre os desfiladeiros se tornam praticamente irreconhecíveis, escondendo, assim, os desfiladeiros.

A fronteira entre o Vaticano e os Sacros-Reinos-Libertos é praticamente inabitável, nem mesmo as mais fortes e grossas árvores desafiam a virtude do vazio, não há terra nem água o suficiente para suprir o menor dos arbustos. Esse é o limite físico e político dos mais influentes dessa terra.

No leito da cadeia montanhosa situada na parte de Occitânia, um mero rapaz observa assustado o resplendor do gigante gélido, pois este é o maior desafio que enfrentará em toda a sua vida, atravessá-lo. A princípio, ele não detém comida nem vestes apropriadas para ultrapassar tal colosso nevado, no entanto, ainda restam moedas douradas em sua humilde bolsa. 

Restam oito pequenos círculos dourados desde sua partida de seu antigo lar, o garoto economizou o máximo que pôde. Por sorte, nenhum bandido imagina que aquela humilde criança mal vestida possua tamanho valor, o que foi ótimo para o pequeno, já que tem o suficiente para comprar os mantimentos necessários para a travessia do grande esbranquiçado.

Tal vontade de ir em direção às santas terras é uma falsa promessa feita por um padre em uma pequena vila, o qual disse que na santa igreja, há abrigo e caridade abundantes. Com tal sonho embutido em sua mente, o garoto pensa que talvez o aceitassem para algum cargo de clérigo, é um pequeno objetivo, uma vez que ele se contentará apenas com um prato de comida e uma cama. Este pequeno sonhador de uma nova vida é Federim. 

Depois de verificar as moedas, o garoto procura alguma casa de câmbio na pequena vila de Mônaco, o último assentamento humano decente antes dos muros rochosos. Os olhos do pequeno Federim se atentam em busca de um edifício estatal, haja vista a menor probabilidade de golpes apesar da taxa de imposto. 

Após um tempo andando entre as vielas cobertas de neve, o garoto que passa frio acha finalmente o estabelecimento que tanto procura, uma casa da moeda local. Suas paredes de madeira dura e grossa demonstram o clima frio constante do local, a travessia não será fácil.

Ao entrar com certo esforço pela porta pesada, Federim sente o calor de uma pequena lareira o reconfortando. Um dia, ele deseja ter sua própria chama em seu quarto, poder dormir quentinho durante os invernos rigorosos. 

Em uma pequena mesa, há dois homens adultos com roupas relativamente bem refinadas, a plebe, como o garoto, não tem acesso ao mesmo tecido usado pelas instituições governamentais. Além deles, o ambiente também é levemente luxuoso, com quadros não renomados e alguns móveis de uma boa madeira atrás deles adicionando valor ao local. 

O cômodo é dividido ao meio por grades de ferro amarronzado, de um lado o garoto, do outro os oficiais. Toda mobília está com eles, sendo um quarto vazio além do metal. Tal medida de proteção é justificável ao se considerar que estes guardam dinheiro.

Ao se aproximar das barras enferrujadas, Federim observa os homens que o encaram sem nenhuma expectativa, já que duvidam que o pequeno jovem detenha alguma quantia relevante.

— E-eu preciso trocar moedas. — O garoto mexe em sua bolsa envergonhado, ainda há receios na interação com desconhecidos. — A-algumas do Vaticano e algumas do Reino de Occitânia.

— Coloque na gaveta a quantia. — O serviçal empurra uma bandeja de metal fixa na grade em frente ao garoto, o único local de interação entre os dois lados.

Com certa desconfiança, Federim puxa duas moedas de ouro e supõe serem o bastante para chegar ao outro lado da montanha. O garoto economiza o máximo que pode, por precisar ter algumas delas na reserva para pagar sua moradia nas terras santas. Talvez não seja tão fácil conseguir algum emprego rápido na Igreja Católica.

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