XXXIX. Improfícuo

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Os devaneios da morte passam diante dos olhos daqueles condenados pelas chamas ou pelos ferros fundidos enfiados em sua carne. Junto a isso, o berrar das crianças diante do inevitável atormenta os ouvidos das mães desesperadas ao verem o exício daqueles que cresceram ao seu lado.

O enorme banquete do vazio deleita os criminosos chamados de soldados, não há ninguém que os impedirá quando a última barreira de medrosos se quebrar. Em suas mentes, as fantasias mais proibidas pelos céus e pela terra se tornam mais vividas diante da fuligem de corpos cremados, enojando os que realmente lutam por um sentido fajuto e inexistente. Todos são marionetes que servem apenas àqueles que podem realizar, de fato, o que desejam.

Uma dessas ânsias está prestes a se concretizar com base na dor, a única que realmente importa no meio daquele mar de almas penadas. Seus olhos vidrados naquele que idolatra enquanto sua carne é completamente dilacerada pelo surgimento de cristais de carmesim por debaixo de sua pele são perturbadores no meio do caos. Uma besta sedenta por algo que todos sentem, todavia somente ele se delicia de tal desprazer.

O confronto dos últimos símbolos de poderio do Império Valôm está selado naquela cidade arruinada. A metrópole mais poderosa do mundo será a sepultura do perdedor, uma legítima vala comum lotada de milhares de desfigurados.

Quando nem se quer foi percebido pelo brutamontes, as pupilas focadas de Arsor notam os irrisórios ao lado do aclamado. Em sua mente perturbada, uma singela pergunta do porquê de tal companhia ao redor do detestável surge, mas é esquecido pelo clamor da glória.

Erguendo seu braço de cristal diante do sol como uma conquista, os olhares de desdém se direcionam a mais um ser profano, com uma repulsa mais sólida do que qualquer outra, se formando em corações lotados de amarguras.

O fraco sol escondido por debaixo das nuvens gélidas ilumina levemente as joias sangrentas apontadas para si, um pequeno resplendor da devastação. Ao mover seu braço de volta para o gigante, um sorriso se forma em seu rosto quando faíscas de luz saem de suas mãos como labaredas.

Tal tecido de luz se prende consigo mesmo até que um emaranhado de energia surge entre seus braços como uma corda esticada. O clarão de luz brilha tão forte como todo o incêndio em sua volta, chamando a atenção de todos diante do minúsculo sol branco, incluindo Wem.

Antes que pudesse fazer qualquer mísero movimento, o inevitável estrondo atinge seu corpo perfeitamente, devastando a sua carne da cabeça aos pés, queimando a sua pele e secando os vasos de sua carne sofrida. O gigante cai de joelhos ao primeiro golpe.

Diante do enorme clarão junto ao desabar de seu amigo, a jovem sonhadora parece desnorteada no meio do caos, enquanto olha para todos os lados, se perguntando de onde veio o golpe. "O que aconteceu? É um ser amaldiçoado?".

A resposta a tal questionamento veio de forma rápida, o caolho se aproxima com um ataque de sua espada. No mesmo instante, os olhos da jovem se transbordam com a escuridão e a luz branca, mas não há tempo para uma resposta, foi pega desprevenida.

Para sua sorte, ela sente um forte tocar em seu ombro, como se algo a empurrasse e, um pouco antes do metal afligir o seu pescoço, uma palavra sussurra em seu ouvido, "Dash". A sua visão se distorce em um mero instante, enquanto vê o golpe do invasor fracassar ao atingir a viela de pedra e cinzas.

Sadh a salvou mais uma vez por sentir um desdém concentrado vindo daquela pessoa estranha, um muito superior a qualquer rancor que Wem já lhe causou. Assim que os olhos trêmulos conseguem entender o que acontece em sua volta, um terror surge em ambos.

O braço cristalizado em vermelho brilha com a luz do fogo, mas não é o de Wem que tem tamanha beleza. Outra pessoa possui o membro rígido como uma cópia perfeita do brutamontes, enchendo a mente da jovem de inúmeras perguntas. "O que é aquilo? Maldições podem se repetir?". Mas uma não surge por saber a resposta, "quem ele é"?

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